O Funeral

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Sherlock presenciou quatro mortes ao longo de sua vida. Lílian Evans foi a primeira, mas esse evento foi apagado de sua memória, fazendo a existência daquela bruxa não passar de um símbolo estranho em sua vida. Quase uma divindade. Alguém que o salvou da tortura e da morte apenas para ser completamente esquecida por ele. Saber dela lhe despertava a curiosidade.

A morte de Mary foi mais palpável e trouxe toda uma reviravolta em sua vida. Mesmo que quisesse, jamais conseguia se livrar das memórias da garota se transformando em um cadáver no momento que desabou ao seu lado, dando passagem para tantas descobertas catastróficas que sua mente explodiu. Uma culpa que o fez se afundar no ópio e que o levou a se amaldiçoar por não ter resolvido o enigma a tempo.

A terceira pessoa a morrer foi alguém com quem ele tinha mais afinidade: Sirius. Num momento em que desconfiava de todos e sequer podia contar com John, o herdeiro Black pareceu ser o único que sabia lidar com ele. Mesmo sendo tão próximo, a morte de Sirius não deu espaço para dor, e sim para uma revolta que vinha a tona toda vez que alguém mencionava o nome dele. Um símbolo de uma política injusta.

Mas a morte de Dumbledore estava além de tudo isso. Não havia curiosidade, não havia culpa, não havia revolta. Era como se aquele evento não fizesse parte da ordem lógica das coisas. O cadáver estava ali, na sua frente, mas sua mente se negava a aceitar a realidade. Mesmo Dumbledore sendo velho, mesmo estando debilitado, o que prevalecia na visão do garoto era o bruxo imponente que jamais poderia ser derrotado.

Sentiu uma mão em seus cabelos, mas estava entorpecido demais para se importar. O dono da mão segurou-lhe o braço e o puxou para cima. Ele cedeu à pressão, sem realmente saber o que estava sentindo.

– Vem, Sherly – uma voz sussurrou. E só então o corvino percebeu que era John quem o reanimava.

Eles passaram por uma pequena multidão. Vozes incompreensíveis o bombardearam, soluços, gritos e lamentos perfuraram a noite, mas os dois seguiram para o saguão. John acariciava-lhe o braço enquanto o segurava, numa tentativa de conforta-lo.

– Vamos à ala hospitalar.

– Não estou ferido – respondeu Sherlock com uma voz muito fraca.

– São ordens da professora McGonagall. Todos estão lá.

– Quem mais morreu?

– Nenhum dos nossos. Greg, Clara, Henry e os Harrison estão feridos, mas Madame Pomfrey disse que vão se recuperar totalmente.

– Moriarty disse que passou por um corpo.

– Deve ter sido o corpo do Comensal que foi atingido por uma Maldição da Morte que um outro estava lançando em nós.

A voz de John parecia distante aos seus ouvidos. Era como se seus tímpanos ainda estivessem processando os ruídos da batalha, a risada de Moriarty, a súplica de Dumbledore, a maldição de Snape...

– Você está bem? – Perguntou o corvino.

– Estou inteiro. Se não tivéssemos a Felix Felicis, acho que teríamos sido mortos. Tudo parecia se desviar de nós.

– Foi um erro ter dito pra você e os outros ficarem de olho na Sala Precisa. Não previ que sairiam Comensais de lá, ainda mais com Greyback no grupo.

– O professor Lupin nocauteou ele bem rápido, não se preocupe. Acho que ele não estava na sua melhor forma. Parecia desorientado.

John abriu a porta da enfermaria e eles entraram. Clara Noir e Joseph Harrison estavam desacordados, cada um ocupando uma maca, Harriet olhava compadecida para a ex enquanto madame Pomfrey oferecia um coquetel de poções para Emily. Greg estava sentado em uma maca, com bandagens em volta do abdômen. À beira da cama dele estava Molly, que lhe segurava a mão. Sally, Henry e Winter estavam de pé, assim como Lupin, McGonagall e Tonks.

Potterlock - O Príncipe MestiçoOnde histórias criam vida. Descubra agora