Falsa Amizade

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John acordou cedo demais, e ainda tinha dormido muito tarde por causa do jantar do Clube do Slugue. Dava para ouvir o uivo do vento, e a paisagem lá fora estava apagada pela neblina. A aula de Herbologia seria a primeira do dia e era bom poder descontar a revolta lutando contra plantas violentas pra variar, pois o dia de ontem não havia sido nada satisfatório. Sherlock descarregara uma exagerada dose de fúria nele, e, à noite, ainda teve que passar quatro intermináveis horas ouvindo o professor de Poções falando de si mesmo e babando ovo por Irene Adler em razão da longa teia de influências que a mãe dela exercia.

Sentou-se na cama e suspirou.

Se tivesse se declarado pra Sherlock e levado um fora não teria sido tão ruim quanto a forma como ele vinha tratando-o desde o mistério da opala. Uma parte de si dizia que estavam quites, afinal ele não esquecera o que fora capaz de falar para o corvino da vez que haviam brigado feio, mas a outra... A outra lhe dizia que não havia motivo para Sherlock fazer o que fez.

Normalmente John relevava os defeitos do amigo. A frieza e a falta de tato social dele o deixavam, no máximo, aborrecido, mas de certa forma gostava dessas peculiaridades. Especialmente porque isso estava intrinsecamente ligado à forma sobre humana como aquela mente brilhante funcionava. Mas não foi isso o que aconteceu dessa vez. Sherlock quis machucar e, diferente do que aconteceu em seu terceiro ano, que acabou falando o que não devia por ter ficado anormalmente abalado, dessa vez ele fez isso por simples vontade.

John se lavou, vestiu o uniforme e desceu a escada. Ao chegar ao salão comunal, a primeira coisa que viu foi uma figura estirada no sofá, num sono profundo. Um dos braços estava pendurado perto do chão e a outra mão estava em cima da barriga. A respiração pesada parecia um ronco muito baixo. Ele se aproximou cautelosamente da pessoa e, ao reconhecer a irmã, sentiu uma pontada infeliz.

– Hey, Harry. – o rapaz a sacudiu de leve – Harry!

A irmã grunhiu algo, e deu pra sentir um cheiro repulsivo de álcool velho vindo dela.

– Hei! Acorda!

Harry abriu os olhos inchados e amarrou a cara para o irmão.

– Vai encher o saco de outro, John... – soprou ela lerdamente, voltando a fechar os olhos – eu só tenho aula mais tarde.

– É mesmo? Que dia é hoje?

– Hm... quinta. Quinta, isso... Só tenho aula mais tarde.

Ela esfregou um dos olhos com a mão e deu um longo bocejo antes de voltar a encarar o rapaz:

– Não precisa fazer essa cara, John. Eu não fiz nada errado.

– Eu não disse que fez. Por que tá dormindo aqui?

– Eu ando evitando o dormitório pra não precisar ver a cara da Clara – ela deu uma resmungada fraca e monossilábica.

A resposta não o convenceu totalmente.

– Onde esteve ontem a noite? – perguntou ele da forma mais sutil que conseguiu.

Harry riu debilmente:

– Com a professora Trelawney. Sabe o xerez e as bebidas que eu encontrava na adega no ano passado? Eram dela. A morcega velha teve que trocar o tipo de esconderijo da Sala Precisa e eu peguei ela no flagra. Mas agora podemos trocar umas ideias, ela e eu.

– Você já esqueceu das consequências da sua bebedeira da vez passada?

– Eu não tô mais namorando e não tô bebendo escondido. Nem fui eu que trouxe o álcool. Vai me acusar de que? De ter ficado fora da torre no horário de dormir? Porque vai ser muita hipocrisia sua.

Potterlock - O Príncipe MestiçoOnde histórias criam vida. Descubra agora