O pequeno garoto...

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*Não esqueçam a estrela e os comentários, para que eu saiba se estão gostando, é importante para a escritora saber*

Lee Felix

Percebo que Chang não quer se abrir e entendo que ele não deve estar preparado para falar, eu sou um livro aberto e não tenho ressalvas de falar sobre o que sinto e sobre o meu passado, muito menos da minha atual condição, me faço de forte, dou meu melhor sorriso e finjo estar bem, finjo para todos e principalmente finjo muito bem para mim. Deixo que ele respeite seu próprio tempo, ele me surpreende quando pede para que eu o veja, para que sinta seu rosto com os dedos, sinto cada curva de sua face e a cada centímetro que descubro tenho certeza de que Chang é perfeito, falo pra ele o que sinto e como o vejo e ele retribui com mais  carinho e afeto, Bang me chama de volta a realidade quando me liga avisando que está tarde e que amanhã eu acordaria cedo para assinar um documento importante que envolve o orfanato e algumas doações que irei fazer, me despeço de Chang e aguardo Bang entrar no carro, ele dá a partida mas o o silêncio que se instala no carro é massacrante.

- Bang? – o chamo e escuto um suspiro pesado antes de ele me responder.

- Oi Felix?

- Achei que só seu corpo estava presente.

- Desculpe, estou distraído.

- Brigou com Seugmin?

- Sabe que não tem nada a ver com ele, não sabe? – ouço tristeza e melancolia em sua voz.

- O Chang é uma cara legal Bang, sabe que não costumo me enganar.

- Eu sei Lix, mas tem algo nele.

- Algo nele? O quê? Precisa ser específico, sabe que não consigo ver atitudes suspeitas, ou aparências sinistras e estranhas.

- Eu não sei, ele é gatinho eu confesso e tem bom gosto porque ele escolheu você, mas algo nele me passa um ar de insegurança.

- Insegurança?

- Lix, eu não sei como explicar, mas me promete que vai ir com cuidado, você as vezes se joga demais e isso pode te magoar.

- Bang...

- Só me promete Felix que não vai se machucar, mas se acontecer me procura e não se tranque ou se feche como já aconteceu antes. Eu não quero te perder de novo, por favor.

- Tudo bem meu amigo, eu vou te procurar sempre.

- E sempre vou estar aqui Lix, sempre, sempre.

- Eu sei.

- E Lix... – ele me chama e volto a atenção para ele.

- O que?

- Ele é muito gato...

Apenas sorrio, e volto a atenção para a música baixa que tocava na rádio, era alguma banda estreante no mundo do Kpop, era uma música alegre e agitada, algo que dizia que o grupo era estrondoso, e pelo que conseguir ouvir e aproveitar da música eu não tive dúvidas de que eles seriam um grande sucesso no país, dou um suspiro e minha noite com Changbin começa a repassar na minha cabeça, seus beijos tinham sido a melhor parte da noite, levo sem perceber as mãos até os lábios e dou um sorriso bobo ao lembrar dele, não demora e chegamos em casa, Bang me avisa que chegará bem cedo para me levar até o orfanato para assinar o pedido de doação, ele sai mas não consigo pegar no sono então vou até a sala de música da mansão, me sento em frente ao velho piano e passo os dedos de leve sobre as teclas e quase consigo ouvir o pequeno Felix o tocando, fecho os olhos e consigo ter as lembranças que há muito eu tentava evitar, antigamente a nossa casa era cheia de alegria, música, festa, mas tudo se foi, partiu junto com minha visão, cada dia a música foi ficando mais baixa, tomando uma forma melancólica e ressentida, em seguida foi ficando cada vez com menos notas, menos melodia, assim como minha visão, até desaparecer de vez e restar apenas a sombra do que ela foi um dia, assim como as sombras que agora dominavam meus olhos, sem formas, sem cor, sem propósito. A minha forma de enxergar o mundo havia mudado, eu não era mais capaz de enxergá-lo,  eu agora só podia senti-lo, só podia estar e viver nele, apenas isso, assim como a música na minha vida , a música que agora  fluía dos meus dedos eram tão melancólicas e tristes como eu, o garoto que vivia em uma montanha russa de emoções, com altos e baixos, muito mais baixos do que qualquer outro sentimento, do que qualquer outra emoção, meus dedos começam a apertar as teclas e uma antiga melodia que o pequeno Felix tocava voltou a ressoar pelas paredes da velha mansão, dou um suspiro e me surpreendo quando as sinto rolarem pela minha face, sim eu estava sentindo as lagrimas escorrerem pelas minhas bochechas, paro de tocar e me afasto do piano quando erro a sequencia de teclas e percebo que já não tinha mais prazer em trazer a música de volta, ou que não posso permitir que ela volte, me sento no tapete próximo ao sofá e abraço meus joelhos e então faço como o pequeno Felix fazia quando ficava amedrontado com a possibilidade de não ver mais as cores do mundo, com a possibilidade de jamais voltar a ver seu rosto, e como aquele pequeno pedaço meu do passado fazia eu me entrego as lágrimas. Não demorei para voltar ao meu quarto aquela noite, mas fui incapaz de dormir, muitas coisas e muitos sentimentos rondavam meu coração e meus pensamentos, quando ouço Bang chegar me troco e peço a  ele ajuda para fazer um café forte, eu havia dormido mal e se Chang tivesse compartilhado o mesmo sentimento que eu durante a noite acredito que aquele café seria bom para ele também, passamos no orfanato e renovo os documentos de doações anuais que eu fazia, eu possui mais do que qualquer pessoa poderia gastar em dez ou vinte vidas e doar um pouco jamais me faria falta, mas sim preencheria a vida de quem precisa e muito. Fico ansioso para chegar logo  até a faculdade, queria esperar Chang e lhe fazer uma surpresa, a minha parceira e colega de biblioteca me avisa que viu ao amigos de Chang e ele conversando próximos a entrada do prédio de ficava ao lado da biblioteca mais precisamente na máquina de bebidas, ela pergunta se quer que ela o chame mas digo que não, eu queria lhe fazer uma surpresa. A cada passo que eu dava meu coração acelerava um pouco, eu esperava que ele ficasse feliz e até poderia dividir um pouco de café com seus amigos, a medida que me aproximo as vozes dos garotos ficam mais próximas e reconheço a voz não só de Chang mas de Minho também, o assunto parece animado, eles riem e falam de...mim? Continuo caminhando e a conversa toma forma e no momento que sinto estar próximo a eles sou atingido de forma cruel por palavras que machucam mais do quê qualquer adaga afiada que poderia atravessar meu coração, fico em choque e deixo a garrafa de café cair, e então ouço a voz de Chang chamar por mim quando viro as costas e começo a andar, ouço sua voz e meu único  desejo naquele momento era esquecê-la, era esquecer a voz dele, era esquecer acima de tudo ele ...

Continua...

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