Capítulo 18.

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Os dias passam rápido quando se está no piloto automático – as manhãs, tardes e noites se misturam junto a terrível preocupação e apatia que se instauram em meus ossos. Visito Peeta sempre que posso e apesar de ver alguma melhora, pelo menos na parte física, ainda fica claro que é preciso que ele fique longe de Katniss. 

Trabalho com o grupo reunido por Coin para as excursões de Katniss fora do 13 – mesmo que isso faça com que fiquemos próximas, é melhor do que estar presa no subterrâneo com Annie e seu quase marido. Finnick e eu não temos nos falado muito depois de nosso encontro durante minha saída do hospital, parte porque o tenho evitado e outra parte porque ele claramente ficou envergonhado pelo que aconteceu. 

É claro, também, que existe conflito entre Katniss e Gale quando os vejo conversar de longe. A forma como ele vê a situação é divergente do que gostaríamos. Coin também pensa em tudo como um esforço de batalha e, apesar de realmente ser de certa forma, qualquer um que tenha ido uma vez aos Jogos sabe que aquela é uma forma cruel de lutar contra a Capital. É por isso que a situação do 2 foge de controle e mal conseguimos segurar os tiros antes que acertassem de fato algum lugar vital do corpo de Katniss. 

"Pelo menos não acertaram sua cabeça dura" falo e nós rimos. É irônico que eu tenha sido a pessoa que pulou para tirá-la da linha de frente, mas foi um bom espetáculo para Snow. 

Estou sentada na cama de frente a dela na enfermaria, limpando meu próprio braço. Tinham me dado pontos e me enfaixado, mas para que tivéssemos privacidade deixaram com que eu me limpasse. 

Katniss já está medicada há algumas horas, quando Johanna entra no quarto para roubar um pouco de sua morfina. É tão natural dela, que continuamos a conversa. Johanna também parece estar se recuperando bem, vendo pelo tom de ironia que usa ao falar conosco. 

"Tô vendo que vocês já se tornaram melhores amigas" ela ri, irônica "Não quer oferecer seu pulmão para O Tordo se recuperar melhor também, Meredith?"

"Ela só foi com a gente no 2, Johanna. Dá um tempo." Katniss diz antes que eu possa responder.

"Me desculpem, é só que eu queria uma linda amizade como a de vocês" ela debocha "Afinal, ninguém gosta de mim."

Eu rio, mas percebo que seu humor está completamente ácido quando ela me corta "Ah, mas essa amizade deve ser porque até encarar a Katniss é melhor do que ficar aqui e ver a Annie e o Finnick vivendo o conto de fadas, não é Mere?" e então sai da enfermaria, batendo a porta e levando um saco de morfina com ela. 











Visito Peeta e leio alguns poemas de um livro velho que encontrei em minhas andanças pelo 13, até que ele durma. Considero Peeta o mais próximo de amigo que eu tenha naquele lugar e o tempo que passo com ele serve para que eu acalme sua mente e a minha, mesmo que em momentos como aquele – em que gasto meus instintos maternos observando seu sono – sirvam para que meus pensamentos viajem até minha filha. 

Naquele mesmo dia, vou até meu quarto e choro no banho. Me arrumo com o macacão cinza do distrito e levo meu tempo até o quarto de Annie. Permitiram que ela usasse branco naquela ocasião especial e posso ver que os costureiros do 13, encarregados dos uniformes, fizeram um bom trabalho.

"Sabe Meredith, tenho alguns dias de clareza." Annie parece frágil, além da fragilidade natural que adquiriu após seu tempo na arena "Dias em que percebo como Finnick te olha cheio de pesar..."

Abaixo minha cabeça, encarando sua grinalda e seu rosto no espelho. Se aquela noção de pena que Finnick tem por mim é percebida até por Annie, não a quero.

"...Mas acredito que também exista muito amor." a fala dela faz com que eu franza a testa, sem entender o que quer dizer com isso.

"É compaixão, Annie. Finnick é um bom homem..."

"Sim, eu sei. Ele ama coisas quebradas, mesmo quando não consegue consertá-las" o olhar trocado entre nós duas transmite cumplicidade, mesmo que momentânea.

Annie parece calma por um momento, mas observo sua mão tremer ao colocar seu brinco em sua orelha "Quero lhe pedir algo muito sério, Meredith. Sei que não estou nessa posição, mas Finnick está inquieto de um jeito que nunca vi antes. Ele não me diz, mas eu sinto! Sinto que algo vai acontecer e que estará fora da minha capacidade impedi-lo de qualquer coisa... Ele vai querer lutar novamente e não sei se consigo suportar essa ideia... Preciso que cuide dele, Meredith, por Deus... Nunca te pedi nada, apesar de você ter doado tanto para que eu estivesse aqui, mas preciso que meu filho tenha o pai por perto."

Me questiono por um momento se ela realmente nunca havia me pedido nada se comparado com todos os sacrifícios que fiz para que Finnick fosse feliz com ela. Mesmo que não houvesse pedido, me senti na obrigação de muita coisa. Por um segundo, me assusto quando ela se levanta – muito depressa – e vem em minha direção, com sua barriga enorme e desengonçada. Ela é muito menor que eu, mas segura minhas mãos de forma tão firme que é assustadora.

É o desespero de uma mãe pelo pai de seu filho. Sei porque já o senti antes.

"Não posso viver sem ele. Me prometa, Mere... Prometa que se existir a possibilidade de alguma coisa..." Annie engasga, seus olhos cheios de lágrimas.

Percebo que a clareza com que ela falava antes começara a passar, mesmo que ela ainda sentisse todos os sentimentos que descrevia. Mas aquilo não importava mais, eu sabia. O estrago estava feito.

Sabia que mesmo antes de Annie pedir, de qualquer forma, se chegasse a isso... daria minha vida por Finnick Odair.








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N/A: Oi! Novamente passando para dizer que: escrevi de madrugada, então possivelmente tá cheio de errinhos. Me perdoem e não desistam de mim que daqui um tempo volto pra corrigir hihi.

Ah! Outra coisa: o próximo capítulo não deve demorar muito porque já estamos quase no final, obrigada por acompanharem até aqui.

Catching FireOnde histórias criam vida. Descubra agora