Capítulo 08

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Depois de um tempo sozinho no jardim, acabei boa parte do serviço ao som adorável do piano que vinha de dentro da casa de Louis que estava ensinando para a filha de 8 aninhos da vizinha a melodia bem conhecida de La vie en rose. O mais contagiante era escutar a risada dos dois entre algumas notas erradas e gritinhos de felicidade quando tudo saía certo. Dessa forma, não me contive. Eu tinha que presenciar aquela cena. Então, deixei o jardim um pouco de lado e fui bisbilhotar.

A casa de Louis era composta por dois andares. O andar de baixo era uma grande sala em forma de L sem repartições. Tratava-se de um grande conceito aberto com uma ilha enorme na cozinha, uma sala com sofá, televisão, mesinha de centro e tudo mais e no vértice do L, entre a sala e a cozinha, ficava o que deveria ser um lugar para colocar uma mesa de jantar, mas no lugar da mesa, Louis tinha um lindo piano de calda preto. Assim, a porta para o quintal ficava no fim da reta menor do L que era onde se localizava a cozinha e era nessa porta que eu estava agora, caladinho, apenas admirando a cena de Louis ensinando piano para aquela garotinha de cachinhos castanhos, fita vermelha amarrada na cabeça em forma de um laço, pele branquinha igual a minha, mas bochechas bem marcadas iguais a de Louis. Ela parecia encantada em estar aprendendo na mesma proporção em que Louis estava animado, ensinando. 

— Eu quero aprender outra coisa. Essa música eu já sei, tio Lou. — Reclamava a garotinha, juntando as mãozinhas, pedindo por favor. 

— Você só tocou ela uma vez totalmente correta. Precisa ter calma, teimosinha. 

— Mais eu quero aprender mais. 

— Você não vai aprender mais se pular etapas, querida. Pensa que isso é como quando você estava aprendendo a ler. Você primeiro aprendeu as vogais bem certinho e depois as consoantes. Agora imagina a dificuldade que ia ser para você aprender o tanto de palavras que você sabe hoje se você tivesse passado rápido pelas vogais. — Argumentou Louis, fazendo a garotinha cruzar os braços e fazer um bico de quem tinha sido contrariada. 

— Tá bom. O tio tá certo. 

— É claro que eu estou. Quando eu tava aprendendo piano, eu não passei rápido por La vie en rose. Por isso, eu sou muito esperto. — Disse Louis, piscando o olho para a garotinha, começando a fazer cosquinhas nela o que fez a menina ficar em pé no banco que os dois dividiam na frente do piano e abraçar Louis, passando os bracinhos ao redor do pescoço dele. 

Depois de muita risada dos dois, eu estava um pouco hipnotizado por aquela cena. Tanto que nem consegui compreender o que a menina estava cochichando no ouvido do Louis. Mas esse mistério não durou muito, pois logo Louis…

— Então, Harry, a Diana está perguntando se você sabe tocar La vie en rose ou se só é bom em ficar bisbilhotando a gente? — Perguntou Louis, olhando pra mim de repente e me assustando tanto que eu fui tentar me virar para ir embora dali e acabei tropeçando em Clifford que estava logo atrás de mim e cai de costas no chão. — Harry! — Gritou Louis correndo para checar se eu estava bem. Diana veio atrás, mas quando me viu gemendo de dor, deitado no chão, vermelho de vergonha, vi que a espertinha estava tapando a boca com as duas mãos, se segurando para não rir. 

— Eu tô bem! — Falei, tentando dissipar a vergonha com um sorriso e me levantando aos poucos. 

— O Cliff é maior do que eu e o tio Lou. Você tem que ter cuidado. — Aconselhou Diana, pegando na minha mão, como se fosse uma mãe prestes a ter uma conversa muito séria com o filho, e me puxando para dentro da casa, para sentar no banco em frente ao piano— Você sabe tocar piano? Seu nome é Harry, não é? Foi assim que o tio Lou te chamou. 

— Calma, Diana. Uma pergunta de cada vez. O tio Harry pode ter batido a cabeça na queda. — Debochou Louis, rindo da minha cara, pois aquele desgraçado sabia que eu ficava envergonhado e ficava vermelho igual um tomate.

De Repente Apenas HarryOnde histórias criam vida. Descubra agora