PRÓLOGO

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Agosto de 1993. Em algum lugar da Inglaterra.

Céu limpo e calmo. Observava as nuvens serem atravessadas por raios de sol que desenhavam feixes de luz no céu. Um espetáculo silencioso anunciava que dia estava amanhecendo. Respirava com dificuldade, puxando com força. Apertava os olhos e não fazia questão de afastar a franja molhada de suor que grudava na testa. Uma menina virou-se para ela e olhava curiosa enquanto sorria. A menina agora era uma massa disforme com um líquido escuro jorrando no lugar que deveria ser um rosto. Tentou se mexer. Um clarão cegou tudo e ela soltou um grito tão estridente que fez a cabeça e os ouvidos doerem. Ainda não conseguia sair do lugar. O vento era insuportavelmente forte. Outro grito foi ouvido seguido de mais outros deixando tudo desesperador. Sentiu um arrepio frio percorrer o seu corpo e olhou para cima. Não havia mais sol. Aqueles gritos não eram humanos. Não conseguia respirar. Estava paralisada. Abriu finalmente os olhos. Acordou ofegante com a camisola molhada de suor. Olhou no relógio. 6h da manhã.

Um garoto observava absorto pela vista tediosa da janela do seu quarto

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Um garoto observava absorto pela vista tediosa da janela do seu quarto. A manhã começava a despontar na rua dos Alfeneiros nº4, abrindo um céu que clareava aos poucos no horizonte. Se sentia cansado e sem forças. Olhava com desinteresse o mundo que acordava lá fora e tentava imaginar o que os seus melhores amigos estariam fazendo naquelas férias de 1993. Gostaria de poder estar na Toca. Mal sabia o famoso Harry Potter - o menino que sobreviveu - que uma linha invisível ligava ele a todos que amavam. O famoso Eleito jamais sonharia que uma certa garota fazia parte desta linha emaranhada de acontecimentos que, mais cedo ou tarde, inevitavelmente se cruzariam.

Em um lugar não muito distante de Harry, essa garota se arrumava para descer e tomar café com seu avô. Era um ritual que cumpria todos os dias ao longos dos seus 16 anos de idade. A regra era: café, almoço e jantar pontualmente à mesa. Depois de escovar os dentes rapidamente, abriu de uma só vez as duas portas do seu guarda-roupa e parou analisando a coleção de blusas. A maioria pretas dispostas em cabides, lado a lado. Pegou qualquer uma e vestiu. Em seguida, abriu a gaveta abaixo revelando em sua frente uma enorme fileira de luvas de couro exatamente iguais organizadas de forma exemplar. Fixou o olhar por alguns segundos e pegou uma delas. Fechou a porta e se viu no seu enorme quarto. Nele, haviam posters de bandas de rock pregadas por todos os lados. Em frente a cama e ao lado janela, chamava atenção uma grande e muito antiga estante de madeira maciça, sempre repletas de livros, seus CDs preferidos, cadernos jogados e um porta retrato com uma foto dela e do seu irmão gêmeo: Damien. A foto era recordação da última viagem de verão. Eles estavam muito sorridentes para a câmera fotográfica. Terminou de se vestir uma calça de jeans surrada que estava jogada em uma cadeira e parou para se olhar no espelho. Encarou a si mesma:

Elizabeth Bellator. Ela era alta e aparentava ser mais velha que a maioria das meninas de sua idade. Tinha longos cabelos castanhos que desciam até a cintura em grandes cachos nas pontas. Possuía uma franja que eventualmente cobria o belo par de sobrancelhas bem desenhadas que emolduravam seus olhos realmente únicos: eles tinham um intenso e hipnotizante tom azulado-violeta que chamavam atenção. Olhos tímidos e atentos que estavam constantemente observando tudo ao seu redor.  Os lábios eram desenhados e carnudos em perfeita simetria com maxilar marcado, dando-lhe um aspecto selvagem. Era uma garota atraente. No entanto, sofria com tantos complexos que era impossível enxergar isso.

Elizabeth ajeitou a blusa e colocou uma mão sobre a outra, esticando os dedos e afastando-os para assentar melhor as luvas que usava. Sentou-se em uma cadeira na frente da penteadeira e se preparou para calçar o par de tênis quando um garoto entrou pelo sem quarto sem bater.

- E aí, irmãzinha.

Assim que entrou foi em direção a cama e se jogou sobre o colchão, bagunçando os lençóis que ela havia acabado de arrumar e derrubando alguns travesseiros. Tinha a expressão séria e pesada. Damien mantinha as mãos cruzadas atrás da cabeça e cruzou os pés em seguida. Ele vestia elegantemente uma jaqueta de couro, blusa branca e jeans azul escuro. Tinha um queixo marcado, lábios carnudos e olhos azuis brilhantes. O cabelo cor de âmbar estava propositalmente desarrumado em um topete que o deixava idêntico ao ator James Dean. Damien chamava muita atenção pela beleza e sabia disso. Mirava o teto com a típica cara de doido e Elizabeth teve certeza que ele tramava algo. Ela se demorou amarrando calmamente os cadarços e não lhe deu atenção.

- A garotinha zumbi novamente?

- Pelo menos dessa vez eu não gritei tanto. Acho. – comentou enquanto falava e evitava olhar para o irmão, enrolando propositalmente para terminar de se calçar.

- Sim... e o velhinho não faz nada. Impressionante. – Damien apertou os lábios.

- Ele faz o que pode. – disse sem nenhuma emoção. Em seguida, levantou-se e deu um tapinha amigável na perna do irmão.

- Vamos logo. - falou seguindo em frente.

Damien mirava diabolicamente para o teto curvando os lábios em um sorriso contido:

- Descobriram a gente.

Elizabeth sentiu o peito gelar e o estômago embrulhou. Entreabriu os lábios para dizer alguma coisa, mas apenas tomou ar para depois engolir a seco. Sabia o que aquilo significava. Um silêncio cresceu no cômodo. Damien nem piscava. Falou em seguida:

- Se prepare para fazer as malas.

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