As Bruxas da Noite 🌖🌘

1. A visita

Desceram pele enorme escada que fazia uma curva no centro do saguão. O corrimão chamava atenção pela cor dourado brilhante de estética vitoriana. Damien ia na frente enquanto Elizabeth o apressava descendo os degraus atrás dele. Ele parava de propósito com um sorriso malvado enquanto ela o xingava baixinho. Mal chegaram no último degrau e ouviram o barulho dos sapatos pesados e decididos de uma mulher pisando firme pelo chão de mármore. Era Madame Dubrov, a governanta da casa Bellator e a figura que mais se aproximava de uma mãe para os gêmeos.

No alto dos seus 50 anos, Natalya Dubrov era uma imigrante russa que trabalhava para a família há quase 20 anos. Uma mulher bela e esguia que ainda conservava muito de seus traços da juventude. Elizabeth sabia que ela poderia ser muito mais atraente se não fosse pelo ar fechado e sisudo de poucas palavras, o estilo neutro e exageradamente formal de se vestir, a forma como nunca mudava o penteado - um coque muito bem alinhado no topo da cabeça que começava a aparentar as mechas brancas no cabelo. Madame D, como os gêmeos a chamavam,  tinha lábios finos bem desenhados e olhos marcantes azuis. A pele era alva e com algumas rugas aparecendo. Avançou em direção a eles e parou a uma pequena distância. Vestia um terno feminino e uma saia lápis que terminava abaixo do joelho. Segurava o inseparável molho de chaves que fazia barulho quando ela se movia.

- Damien, por Deus, eu já pedi para pentear o cabelo. Elizabeth, minha querida, sua blusa está amassada e você está usando o mesmo jeans há 1 semana. Vocês sabem como está a saúde do seu avô, seria pedir demais um pouco de respeito?

Damien arrumou o cabelo de qualquer jeito e Elizabeth fez cara de paisagem, pedindo desculpas. Em seguida olhou para baixo e depois para o irmão que segurava o riso. A governanta parecia uma estátua cinza na frente deles.
- Muito bem. Vocês têm visitas. É um dos homens que o avô de vocês alertou. Sabem o que dizer.
Ao terminar a frase, encarou Damien:
- Não tente nenhuma gracinha, jovem rapaz. Isto é sério.  - virou-se imediatamente para a saída em direção a uma das portas laterais.
Os irmãos esperaram pacientemente que ela se retirasse para então seguir em frente. Damien chegou primeiro, esticando os braços para abrir a grande porta de madeira que dava acesso a sala de visitas. Ao fazê-lo deu de cara com o avô sentando em um dos vários sofás da extensa sala retangular. Ao lado, havia uma poltrona de encosto redondo de onde acabara de se levantar um homem. Ele era mais velho que o avô e tinha uma extensa barba branca que descia até a altura da barriga e estava elegantemente amarrada ao meio. Vestia uma bela túnica de manga longa bordada em um tom cinza-azulado que não parecia ser daquela época. Elizabeth achou sua aparência curiosa. O avô disse:

- Estes são Damien Bellator e Elizabeth Bellator. Meus netos do qual falávamos.

Marius Bellator tinha cabelos fartos e com uma espessa barba muito bem aparada de cor branca. Usava chapéu, terno e paletó cinzas. Apesar da velhice e das muitas rugas no rosto bem definido, era um homem que impunha respeito e até um certo medo. Seus olhos eram pequenos e estreitos, as sobrancelhas grossas pesavam sobre o olhar de semblante carregado. Uma fina linha marcava os lábios e ele não expressava emoção alguma. Evitava olhar para o visitante de barbas longas e platinadas ao seu lado.

O velho olhou para os gêmeos. Mas foi em Elizabeth que pousou os olhos azuis e extremamente pesados, observando-a sem dizer nada. Um silêncio se seguiu e Damien interrompeu, dirigindo-se a ele:

- E então, porque nos chamaram aqui?

Enquanto falava, Damien Bellator se atreveu a sentar em uma poltrona de frete para o avô. O ar provocador e a expressão rebelde eram impossíveis de se ignorar. Marius soltou um pesado suspiro e fuzilou-o com o olhar. Elizabeth prendeu a respiração. O velho levantou o queixo e sorriu em uma expressão amigável e estranhamente calma. Apesar disso um clima tenso pairava no ar. Ele se apresentou: