6. Fuga do castelo

992 99 171
                                    

Ela dormiu e acordou. Dormiu novamente e quando acordou outra vez, viu o seu conjunto de pijamas sobre a mesinha ao lado. Estava sozinha. Sobre os pijamas tinha um novo par de luvas. Pela iluminação fraca da enfermaria, Lizzie observava as camas, mesinhas e as cortinas que separam os leitos em cores pálidas parecer desenhos sem contorno definido. Tudo estava calmo e quieto. Espreguiçou-se lentamente e sentiu o estômago roncar. Levantou-se devagar e tomou cuidado para não fazer barulho. Vestiu o pijama branco com detalhes em azul claro que era de mangas longas com botões pequenos e a letra B bordada no punho.  Também vestiu a calça de tecido macio. Avançou alguns passos e não viu absolutamente ninguém. Então uma ideia foi surgindo em sua cabeça.

Apertando os olhos para enxergar direito através da pouca iluminação, procurou a saída minunciosamente. Novamente olhou em volta para se certificar de que a enfermeira não estava ali. Tudo estava estranhamente calmo. Ouviu o barulho de algo se aproximando e escondeu-se atrás de uma cortina para espiar. De uma entrada lateral da enfermaria, uma grande caixa retangular deslizava lentamente a um palmo do chão. Elizabeth franziu o cenho e tampou a própria boca para abafar um gritinho de susto. Arregalou os olhos ao ver um ser pequeno, do tamanho de uma criança de 3 anos com orelhas gigantes e cabeça oval surgir do nada ao lado do carrinho de limpeza que se movia sozinho. A criatura passava por entre o corredor de biombos que separavam as camas vazias retirando lençóis e maquinalmente jogando-os dentro da enorme caixa flutuante.

O monstrinho se aproximava cada vez mais e Elizabeth deu a volta por trás da cama, rastejando pelo chão e passando para o outro lado que havia um pequeno espaço igual ao seu. Tomada pelo nervosismo, engatinhou para debaixo da cama, escondendo-se. Fechou os olhos e prendeu a respiração. Espiou com terror os pés assustadoramente grandes com unhas feias e veias saltadas totalmente desproporcionais ao tamanho do monstrinho. O bicho estava concentrado em seus afazeres e não percebeu a presença da menina que observou a caixa agora parada e foi tomada por uma enorme euforia. Sem pensar duas vezes, rastejou fazendo o mínimo de barulho que conseguiu e de joelhos, engatinhou atrás do carrinho, jogando-se para dentro na primeira oportunidade e se afundando entre os lençóis. Sentiu um cheiro estranho. Fez uma careta e torceu para que os lençóis não estivessem sujos com nada muito nojento. O carrinho parou bruscamente.

"FUDEU", pensou alarmada.

Para o seu alívio, a caixa logo voltou a flutuar normalmente e Elizabeth levantou o tecido que cobria o seu rosto, deixando os olhos estrategicamente de fora. Espiou com dificuldade para tentar ver para onde era levada. Encolhida e tomando cuidado até para respirar, viu que já estava fora da enfermaria.

Por instinto, sentiu que não havia perigo e levantou os olhinhos violetas curiosos e muito arregalados para ver melhor. Espiou o bichinho que andava distraído por um corredor pouco iluminado. Ele não parecia ser tão assustador agora. Aguardaria o melhor momento para saltar e procurar o irmão. Naquela noite iria fugir daquele castelo e pedir desculpas ao seu avô. Aquele lugar não era para ela e isso estava muito claro.

━────── •●• ──────━

Tudo continuava calmo e silencioso. Elizabeth respirou aliviada e em seguida quase teve um infarto quando viu de repente alguém virar o corredor e se aproximar lentamente. De longe notou ser aquele velho ranzinza que gritara com Damien mais cedo na enfermaria: Filch. Olhando com cuidado pelo abertura da caixa, viu que ele mancava puxando uma perna e olhava para os lados. Estava acompanhado daquele gatinho magricela que se movia despreocupadamente. Ela não conseguia saber com precisão para onde ele ia, mas assim que notou que aproximava do monstrinho e consequentemente da caixa aonde ela estava escondida, se encolheu para mais fundo, cobrindo-se quase inteira com os lençóis. E foi aí que seu corpo virou para o lado de forma inesperada.

As Bruxas da Noite  🌖🌘Onde histórias criam vida. Descubra agora