Camila POV
Quando o despertador tocou, indicando que já bateu às 8h, eu já estava acordada há tempos, apenas me movimentei um pouco para desligá-lo e voltei a ficar na mesma posição na cama, deitada com o olhar fixo no teto. “Não desiste de tentar fazer isso dar certo.", “ Você disse que eu fui seu maior erro, Camila, mas você foi meu maior acerto…”, me levantei de sobressalto quando percebi meus pensamentos me sabotando e me levando pra onde eu não quero ir, de novo não.
Me levantei e fui até o armário, vazio, fechei novamente e passei os olhos pelo quarto do hotel, eu preciso resolver a minha vida, soltei o ar dos pulmões e peguei a blusa do fardamento do zoológico, e uma calça jeans dentro da mala, os jogando em cima da cama, por algum motivo que desconheço só coloquei calças jeans dentro da mala que eu trouxe de casa pra cá. Tomei banho e quando eu estava terminando de me arrumar meu celular começou a tocar, atendi a ligação no viva voz e deixei o aparelho em cima da cama, para fechar o salto no meu pé. Era o corretor de imóveis, querendo ter certeza que eu iria hoje até o apartamento, faz uma semana que contatei ele, mas ainda não fui entregar as chaves e acertar alguns últimos detalhes, avisei a ele que já estava saindo pra lá e encerrei a ligação. Resolvi não pensar muito, só ir, caso contrário era capaz que eu desistisse, outra vez.
Quando parei em frente ao meu antigo prédio, me deixei surpreender, por ele estar totalmente igual a antes, desliguei o carro, peguei minha bolsa e desci. A cada passo que eu dou em direção a portaria, meu coração aumenta os batimentos, no hall percebi quando o porteiro me olhou surpreso, soltei apenas um “bom dia” e continuei caminhando para o elevador, se eu bem o conheço, se eu parasse, ele só iria parar de falar, quando se atualizasse de toda a minha vida atual, para depois atualizar o prédio inteiro, entrei no elevador e apertei o botão da cobertura, e pela primeira vez em anos, ele chegou rápido até lá em cima, só porque eu pedia por mais tempo. Procurando as chaves na bolsa, percebi minhas mãos trêmulas, me praguejei por isso, puxei as chaves pra fora e levei até a maçaneta, com dificuldade para abrir, ouvi a porta do outro apartamento se abrindo, o que me fez derrubar a chave no chão, me virei pra trás.
— Eu não acreditei quando Luigi disse que você estava subindo, precisava ver com os meus próprios olhos. - A vizinha que eu tanto odiava, disse sorrindo.
— Eu não sabia que o sistema de fofoca do prédio agora estava tão rápido. - Me abaixei e apanhei a chave do chão.
— Não é isso, é que… - A voz dela está cada vez mais próxima e eu mais desesperada pra abrir a porta. — Todos aqui somos uma grande família e…
Assim que consegui abrir a porta passei pela mesma e fechei na cara dela, ouvi ela resmungando um “mal educada” e depois batendo a porta do próprio apartamento, soltei o ar dos pulmões e relaxei os músculos, só pra eles ficarem tensos novamente quando lembrei onde eu estou. Tudo no mesmo lugar, exatamente igual, onde eu estava com a cabeça ao pensar que assim seria melhor? Manter tudo do mesmo jeito, perdi as contas de quantas vezes minha mãe pediu pra que eu deixasse ela vir arrumar as coisas e ela mesma se encarregar da venda do apartamento, mas eu recusei e agora estou aqui, arrependida. Toalha em cima do sofá, revistas espalhadas pela mesinha de centro, caminhei até a cozinha e parei na porta, um copo com resto de água em cima do balcão, o calendário fixo na geladeira com várias datas circuladas, compromissos que não foram cumpridos, roupas no varal da varanda, roupas que antes estavam limpas, mas agora estão cheias de poeira e sem cor, devido ao excesso de sol, deslizei a porta da varanda na intenção de sair, tropecei em uma tigela de ração vazia, empurrei ela pra o lado com o pé e voltei pra sala. Aquele silêncio que antes eu tanto almejava, agora está quase me deixando surda. No corredor quatro portas fechadas, três quartos e um banheiro. Parei na frente do primeiro quarto e levei a mão até a maçaneta, mas não girei, ao invés disso segui para o outro quarto, quando abri a porta, um perfume que a muito tempo eu não sentia invadiu minhas narinas, perfume com… mofo? Acho que sim, porque comecei a espirrar, soltei a minha bolsa que até agora eu ainda segurava, o barulho dela colidindo contra o chão fez um pequeno eco pelo quarto, caminhei a passos lentos até a beirada da cama, passei a ponta dos meus dedos sobre o edredom e surpreendente não está com poeira igual a varanda e os móveis da sala, me sentei na beirada da mesma, ela fez o habitual rangido dela, o que me fez rir fraco, faltou muito pouco pra eu jogar essa cama escada a baixo, quando ela começou a fazer esse barulho, levei minhas mãos até um livro que tem na cabeceira, ele está marcado quase nas últimas páginas, mas não estava finalizado ainda, “e nem vai ser” completei um pouco amarga, abri o mesmo na página marcada e uma frase sublinhada chamou a minha atenção: “Mas tudo passou depressa demais.”, não sei em qual contexto a frase está inserida, mas concordei plenamente, voltei a fechar o livro e parei pra analisar a capa, um homem com uma capa vermelha brilhante, que tem o rosto ocultado, entra em uma tenda de circo; “A vida é o maior espetáculo da terra.” é o que tem escrito um pouco abaixo do título do livro.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Inalcançável Você
FanfictionUma é um livro aberto, a outra tem todo um passado guardado dentro de si, uma está disposta a amar, a outra está disposta a afastar, e tudo fica pior quando o passado ainda comanda o presente. 1 Aposta. 1 Passado. 1 Tragédia. 1 Promessa. Várias...