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Meses antes dos eventos sob a montanha

Feyre tinha se juntado a mim na patrulha que eu fazia no lugar de Andras quando o Bogge surgiu, nos interceptando. Olhei para de onde o rastro da magia surgia, Feyre seguiu meu olhar, sacando o arco que carregava na direção que eu olhava.

-Abaixe esse arco. - sussurro, minha voz saindo grave e áspera, a vi estremecer, mas ela não se moveu. -Abaixe a porcaria do arco humana, e olhe para frente.

Ela finalmente se moveu, guardando o arco, senti a magia do Bogge se aproximando.

-Não reaja. -Disse calmo.- Não importa o que sinta ou veja, não reaja, não olhe. Apenas encare a diante.

Vi a fêmea começar a tremer. Ela vai morrer, vai morrer agora. A única esperança de Prythian irá morrer em minha companhia, algo se contorceu em mim, ela não podia morrer.
Pensei no castigo que Tamlin me daria pela morte dessa humana, mas não consegui aprofundar o pensamento, por que a voz do Bogge chegou aos meus ouvidos, como um sussurro perigoso e letal, senti o meu sangue gelar.

Depois do nosso encontro com Bogge eu conversei com humor um pouco menos ácido com a mortal.
Meus pensamentos ainda se voltavam a sensação de pânico que me consumiu, não pelo castigo que Tamlin me daria, não pelos sussurros letais do Bogge, mas por que por um momento desejei realmente que Feyre não morresse, e apesar de manter uma conversa amena, passei o resto do caminho tendo que me convencer que minha preocupação descabida pelo bem estar da humana era apenas por que eu desejava o bem de Prythian.

Estava no meu quarto, fugindo do olhar inquisidor que Tamlin me dirigia, como se alguma forma ele soubesse dos conflitos em meus pensamentos e sentimentos por causa dela. De Feyre. E como se eu chamasse pela presença dela sentir o seu cheiro familiar me invadir antes de ouvir batidas na porta.

-Entre, humana.
Lucien disse o mais indiferente que conseguiu.

Feyre abriu a porta devagar, inspecionando o lugar com os olhos. Deixando eles se demorarem um pouco mais em minha figura, algo se inquietou dentro de Lucien.

-Não o vi por aí.
Feyre disse, fechando a porta e recostando seu corpo contra ela.

-Precisei cuidar de uns cabeças-quentes na fronteira norte, negócio oficial de emissário.

Respondi ainda de forma indiferente. Embora nenhuma parte minha, fosse indiferente a presença de Feyre, ao cheiro que emanava dela, e minha consciência fazia questão de me lembrar que estávamos sozinhos no quarto, que ela estava no meu quarto. Lucien inspirou calmo, não podia deixar seus pensamentos seguirem essa linha, ele apoiou a faca de caça que estava limpando, embora ela não tivesse suja.

Feyre tinha perguntado sobre o Suriel, Lucien respondeu dizendo qualquer coisa que viesse a mente, aquela humana era fraca, mas não parecia burra o suficiente para tentar caçar um Suriel. Dei alguns pistas, queria ver até a onde a coragem dela iria, e de fato, ela parecia mesmo determinada a caçar o Suriel. Era corajosa, E por isso, só por isso, comentei que estava começando a gostar dela.
Lucien sentiu quando os batimentos de Feyre aceleraram, e ela se virou com a mão pronta para abrir a porta, mas então soltou para que seu corpo ficasse totalmente de frente para Lucien.
Eles se encararam, e Lucien pôde ver que Feyre parecia viver um turbilhão de emoções e então, um conflito interno.

-Também acho que estou começando a gostar de você.
Ela disse baixo, receosa.

Lucien se levantou da sua cama mais do que depressa, alcançando a porta e a abrindo parcialmente.

-Acho melhor você ir.
Disse frio. Isso não podia acontecer. Feyre não devia gostar dele dessa forma.

A humana se aproximou, e Lucien pôde ver um brilho diferente nos olhos dela. Ela estendeu a mão então parou a centímetros do rosto do ruivo.

-Eu posso te tocar?
Perguntou baixo. Lucien a encarou, se perdendo ao olhar para aquele azul acinzentado dos olhos de Feyre, o cheiro da fêmea o alcançou e ele se sentiu estático, incapaz de falar ou fazer um movimento sequer. Queria senti-la, como poderia negar? E talvez Lucien tenha assentido com a cabeça pois no momento seguinte os dedos pequenos e calejados da humana deslizaram pelo seu rosto, acariciando a porção de pele que a máscara de raposa não cobria. E como se fosse atraídas uma para a outra suas bocas se uniram, em um beijo calmo, uma carícia suave dos lábios de Feyre sobre os seus. E a sensação quente foi o bastante para fazer Lucien sair de seu estupor.

E ele se afastou abruptamente, ficando de costas para Feyre, ele inspirou fundo. Ela matou Andras. Ela precisa se apaixonar por Tamlin. O que você está fazendo?

-Saia.
Lucien ordenou com um rosnado, e ouviu Feyre deixar o quarto com passos apressados.

Nos dias seguintes eles se beijaram mais algumas vezes, mas somente longe dos olhos de Tamlin, e ele por sua vez parecia cada vez com o humor mais instável. Eles não conversavam sobre seus beijos, como se eu estes acontecem por uma necessidade básica do corpo, não era diferente do que Lucien sentia.

Depois de beijar Feyre como se ela fosse a mulher mais desejável que ele poderia conhecer, Lucien se afastava, a tratava cordialmente, mas se mantinha distante, sempre se culpando e se arrependendo amargamente, sempre prometendo a si mesmo que isso não se repetiria, sempre quebrando sua promessa. E Feyre ficava cada vez mais confusa.

Quando Feyre finalmente criou coragem para enfrentar Lucien, e questionar o que eles tinham ele fora frio, e cruel, agiu como se todo aquele envolvimento fosse um erro terrível, o que pra ele, de fato, era. E ele se afastou, resumindo sua presença as vezes que ele aparecia nas refeições, e nas poucas vezes que se encontravam sem Tamlin por perto ele se mantinha distante e a tratava com indiferença.

Lucien guardou os sentimentos que Feyre despertou em si no fundo do seu peito, esperando que assim, com tempo, eles desaparecessem, e torceu silenciosamente para que a humana fizesse o mesmo.

Corte de Desacertos e RecomeçosOnde histórias criam vida. Descubra agora