Capítulo 1

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Vilinha era um povoado simples, como todos os outros de Goiás, não apresentava nada de espetacular ou que merecesse destaque. Não havia asfalto, a terra árida fazia a poeira se levantar ,nos meses de agosto, setembro e outubro, quando atingida pelas rodas das carroças dos fazendeiros próximos, donos de terras pequenas e sua agricultura de subsistência. Caminhonetes dos grandes donos de terras atravessavam o povoado de menos de 1Km, passavam pelas carroças deixando–as abarrotadas pela poeira, os pequenos fazendeiros praguejavam em baixo tom de voz, para não chocarem suas submissas e puras mulheres, e suas crianças inocentes e absortas de quaisquer conhecimentos de mundo.

Era a semana do dia 15 de agosto de 1979, a semana da comemoração da festa em louvor a Nossa Senhora da Assunção, pois Vilinha havia se erguido nas terras do mineiro Francisco Vilinha de Sá, grande devoto dessa padroeira, tornando–a padroeira da cidade. Tanto os moradores dela, quanto os fazendeiros no entorno da comunidade respeitavam e participavam dessa grande festa religiosa. Padre Pontes, o pároco da comunidade, se alegrava ao ver a igreja cheia.

Das casas da comunidade saiam os mais diversos rostos.Dessas dez casas espalhadas irregularmente no território existia uma no fim da rua principal que dava diretamente para a igreja, a exatamente 800m dela. A casa era a mais elegante dali, rustica, com madeiras de boa qualidade, cadeiras de balanço e grandes janelas muito bem envernizadas. Dentro dela uma mulher vestida com um elegante vestido azul de algodão envolto em um xale de crochê, procurava ansiosamente por seu filho, com os nervos a flor da pele gritava com o capataz e o caseiro, homens musculosos e queimados de sol:

–Como não o encontraram?

–Perdão senhora, mais nois procuro em todo lugar pertim daqui– o caseiro coçou a cabeça com suas mãos sujas, ou talvez só manchadas de sol–nois num acho não...

–Senhora Almeida, esses meninos são assim mesmo– o capataz mesmo sujo e queimado de sol, tinha um sorriso que encantava qualquer moça do povoado, ou as não tão moças como a Senhora Almeida– não se preocupe, ele logo aparece minha senhora.

–Muito gentil Túlio – ela sorriu maliciosamente para o capataz, o caseiro bufou e saiu– mas eu quero mesmo encontrar meu filho. E Deus queira que ele não esteja com Juliene! Vou matar aquele garoto...

O capataz se aproximou dela e lhe tocou o ombro, chegou próximo a seu ouvido com seu hálito cheirando a frutos do cerrado goiano, e sussurrou:

– Talvez a senhora queira relaxar...

Ela fechou os olhos e respirou fundo, quando tornou a abri–los eles estavam em chamas:

– Hoje é dia Santo Túlio, e é bom que me respeite ou vou cortar seu salário– na sala o senhor Almeida tossiu– Meu marido acordou, vou ver se ele precisa de algo. E vocês– ela apontou para o caseiro, João Humilde, e para Túlio– ACHEM MEU FILHO! É uma ordem...

A senhora virou–se e foi para a sala, que ficava atrás de uma grande porta de madeira, onde estava seu marido. E as primeiras badaladas do sino da igreja já eram ouvidas.

Na área da casa Túlio se virou para João Humilde:

–Vamos atrás daquela peste logo! Aquele garoto só causa dor de cabeça a pobre Aurora...

–Ucê tá muito íntimo da senhora Almeida– ele comentou indignado– tenho pena é do coitado do senhor Almeida, essas perrenguera dele é culpa do minino custoso e da senhora Almeida com essas "severgonhage"...

–Você tome cuidado com o que fala João, esqueceu que moramos na mesma casa foi? E que eu posso te matar a noite?– Túlio cerrou os olhos.

João deu de ombros:

Padre AntoineOnde histórias criam vida. Descubra agora