Uma história qualquer

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Era uma vez,

três moças muito prendadas:

Santa, que queria ser médica

Clara, que queria ser esposa

E Luzia que não queria ser nada.

Não se conheciam, mas moravam na mesma cidade,

no seio do sertão do nordeste -

terra de esperança, sofrimento e felicidade

que convivia com dois tipos de peste:

uma filha da natureza e a outra do homem:

a primeira a seca, a segunda a fome.

Santa era a mais bela

também a mais velha e decidida

Desde criança sofria muito

por ver tanta gente sofrida.

Aprendera as letras

Numa cidade vizinha

porém, ainda se dedicava

pensando no diploma que teria

Podendo ajudar, ela o fazia

mas tratava de frear uma sentença

pois todo o povo já dizia

que era santa "desde a nascença"

II

Clara era a mais sedutora,

sempre se gabando da educação que havia recebido

vaidosa e sonhadora

só ansiava por um marido

Para os outros não olhava direito

só cuidando de si

não se importava, era o seu jeito

só pensava em sair dali

- Aqui tudo é muito triste,

mas o futuro não demora

espero só o casamento

e juro que vou me embora.

Luzia era a mais nova,

da vida não querendo nada

só desejando levá-la

conforme Deus mandava

Boa moça, boa irmã e boa filha

das mãos calejadas se orgulhava

preocupava-se sim, mas pouco,

como pouco também falava

Achava bonito os violeiros

e o jeito que a lua se derramava,

quando eles se reuniam no terreiro

sentia as músicas que tocavam

Então,

as mudanças vieram num certo verão

Para as três, o momento crucial:

Clara irritou-se com a demora.

Os pais de Luzia resolveram ir embora,

Santa passou nos exames da capital.

III

Luzia assustada, com olhar de novidade

colocou suas malas no primeiro ônibus da tarde.

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