Encontraram-se e olharam-se com mesma estranheza. Lorde Silverkain, ou simplesmente O Lorde, como era conhecido, puxou a espada e colocou-se em posição de ataque.
- Deve ser mais uma aberração de Meghara! – ele citou a poderosa bruxa das ilhas de Atwyn – Se for o responsável pelo sumiço de Justine, hei de lhe matar e deixar seus pedaços para que os lobos se refastelem.
O capitão Guy Swiller até pensou em puxar o sabre, mas ficou no pensamento. Sorriu daquele homem vestido estranhamente e que falava coisas sem sentido. Sob o olhar dele, afrouxou um pouco a cinta de couro, retirando a camisa branca e larga de dentro da calça de couro, e rapidamente apanhou uma garrafa metálica, levando-a aos lábios e bebendo os últimos goles de rum que havia ali, sem se preocupar com a expressão do desconhecido.
- Como ousa me ignorar, bastardo! – bradou o lorde, ainda mais nervoso com a indiferença daquele tipo estranho.
Guy gargalhou e seus olhos cinzentos se estreitaram. Não tinha a menor ideia do que estava acontecendo, mas depois de enfrentar os mares mais violentos e os guardas reais, não estava intimidado.
- Pelo jeito já conhece minha família, o meu pai tinha um dom magnífico para colocar bastardos no mundo. No entanto, não posso reclamar, tive mais sorte que meus irmãos. Pelo menos ele raptou minha mãe, levando-a com ele para bem longe de onde a fúria do marido poderia alcançá-la – ele sorriu amplamente - Logo, pode-se dizer que sempre fui o bastardo favorito.
- Não quero saber de sua família, quero saber de minha Justine – o Lorde disse sem paciência – O que Meghara ordenou que fizesse com ela?
- Abaixe essa sua arma – Guy mais pediu do que ordenou, imaginando que jamais trocaria seu sabre por uma coisa daquelas - Não faço ideia do que está falando, tampouco de como cheguei a esse maldito lugar quente. Só tenho uma certeza: o barco está indo a pique, e estamos juntos nessa.
- Está acometido de alguma doença? Estamos em terra firme! – o Lorde esbravejou.
- É um modo de falar, criatura sem humor – Guy deu de ombros – Eu me lembro de que estava no Star e quando pisquei, o chão estava se abrindo embaixo dos meus pés, e se não estivesse em boa forma, teria caído num mar de fogo.
O Lorde ergueu uma das sobrancelhas, pela primeira vez pensando que o forasteiro podia estar dizendo a verdade. A terra também havia se aberto aos seus pés e não se recordava de como parara ali. Vira Justine voltar à vida, em seus braços, graças à magia de Mythias, o jovem mago, mal saído dos cueiros, e que diziam ter o mesmo sangue de sua maior inimiga: Meghara. O certo é que o jovem vencera todas as suas desconfianças ao devolver a vida à sua amada. O cavaleiro lembrava-se apenas de ter depositado um beijo na testa de Justine, após certificar-se que ela estava bem. Precisava seguir sozinho dali em diante, deixando-a sob os cuidados do mago. Iria vingar-se, sentia-se finalmente pronto para isso. Derrotaria Meghara e voltaria para Justine.
Porém, nem bem saiu do vilarejo de Homlen e, primeiro ouviu um estrondo, depois teve de passar pelo mar de fogo. Sem entender como, viu-se próximo à floresta dos anões, sem ter ideia de como vencera uma distância tão grande em segundos.
Cansado, suspirou, e finalmente abaixou a espada. Mas, isso não tornava o homem à sua frente menos estranho. Um homem com os cabelos encaracolados e a pele bronzeada não podia ser levado a sério. E não trazia nenhum brasão, nenhuma bandeira. Talvez nem soubesse montar a cavalo e usava uma espada curva. Quem, por Deus, lutava com uma coisa daquelas?
- A temperatura não para de subir e você não tem vontade de tirar essa coisa da cabeça? E essa capa, presa por essa joia? – ele subitamente se interessou pela joia – Ela é valiosa?
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Fugaz
Short StoryO que é o conto, além de um retrato fugaz da realidade? Um momento apenas, congelado no tempo que corre. Reúno aqui alguns contos, uns breves, outros nem tanto, que já fizeram parte de outras coletâneas. Um modo de passar o tempo e pelo tempo, faze...