Ewelein e Leifatn trocaram um olhar, alertas. Um breve aceno de cabeça entre os dois fez parecer que eles já sabiam como prosseguir perante a situação e estavam de acordo sobre isso.
— Leiftan, a Miiko quer você na sala do Cristal agora. — Kero continuou, com voz tremula. — Ewelein, se prepare para receber possíveis feridos.
A enfermeira assentiu com um olhar firme. Jurei algo como determinação brilhar ali. Leiftan se despediu com um leve aceno de cabeça antes de sair correndo com Kero. Ewelein contraiu os lábios e voltou sua atenção para mim. Ela deixou o pote com a mistura ao lado da seringa com um líquido cristalino e passou a pressionar uma compressa de água fria no meu peitoral com bastante cuidado. Nenhum sinal de nervosismo. Ela era mesmo muito profissional no que fazia.
— Agora eu me senti mal por perguntar se tinha como piorar. — observei, arqueando as sobrancelhas. — Porque claramente piorou. — sussurrei, nervosa. Meu coração batia acelerado no peito com a possibilidade de morrer ali, longe da minha família e dos meus amigos.
— Não fique assim. — ela disse, neutra.
Ficamos em silêncio por um breve momento. Ewelein finalmente tirou as toalhas que estavam em mim e aplicou a mistura do pote em minha testa, fazendo uma suave massagem. Senti um leve frescor e foi agradável inspirar o cheiro cítrico e gelado dos ingredientes que eu sequer sabia identificar. Ainda assim, era um aroma muito bom.
— Para que serve isso?
— O bálsamo que preparei — ela corrigiu. — serve para aliviar sua febre.
— Ok, ok, desculpe... Estou acostumada com pílulas manipuladas e soro na veia. — esclareci. — Onde eu moro, geralmente já têm medicamentos prontos esperando os pacientes. Não precisam misturar em uma vasilha igual você fez.
Ewelein gargalhou.
— Nossos... Estilos medicinais são diferentes. Seus resultados ficaram prontos, inclusive. — comentou ela. — Seu sistema imunológico está baixo, o que deixa o nível de maana em seu organismo um pouco instável. Já imaginei isso desde quando me disse que não comeu direito desde que chegou aqui.
"A comida de Eldarya é pouco nutritiva, então pode ser esse o motivo do seu mal estar, além de todo o estresse. Para suprir suas necessidades humanas, preparei uma fórmula e encaminhei para o pessoal da alquimia. Quando ficar pronto, eu irei entregar para você. Com sorte, e com o tratamento adequado, você estará melhor daqui uns dias."
— Obrigada, Ewelein. De verdade. — sorri. Mas o sorriso não durou muito, porque o chão começou a tremer. Meu coração acelerou. Ótima hora para estar indefesa numa cama de hospital!
— Estamos seguras aqui. — Ewelein afirmou, como se pudesse prever o meu desespero. — Você dormirá em breve, quando a injeção fazer efeito.
Dito isso, ela ergueu a seringa e sorriu gentilmente para mim. Nem senti a picada. Eu estava prestes a perguntar quanto tempo "breve" queria dizer, mas apaguei logo em seguida.
~*~
Acordei com uma luz forte na minha cara. Fiz o sinal da cruz, torcendo para que não fosse uma explosão de bombas ou algo assim. Notei, aliviada, que era somente e nada mais que os raios do sol entrando pelo grande vitral da enfermaria. Prestei atenção no ambiente. Silêncio total. Resmunguei e me virei para o lado, desejando dormir mais um pouco.
— Noite agitada, não?
Meu coração quase parou. Franzi a sobrancelha.
— Kero? — sussurrei. Então me sentei para esticar o braço e puxar a cortina que separava o meu leito com o leito do lado. Visualizei Keroshane sentado em sua maca, com o braço enfaixado e as calças raladas na altura do joelho. — Você está bem?
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Eldarya.
FanfictionA vida de Kalina fica de pernas para o ar quando ela vai parar em Eldarya, um mundo mágico onde tudo parece ser possível. Agora ela precisa encontrar uma maneira de voltar para casa ao mesmo tempo em que descobre mais sobre suas verdadeiras origens...