Capítulo 1: Pão.

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 Kalina

Quando eu acordei, não foi como eu esperava. Eu não tinha saído do lugar. Não estava em casa. Continuava ali. Eu queria dizer a mim mesma que era só um pesadelo, mas a dor nas minhas pernas e no meu braço esquerdo — pelo qual aquele gigante havia praticamente me arrastado — só me lembrava o quanto aquilo era real. Eu perdi a noção do tempo, talvez estivesse presa na cela por um dia inteiro.

Eu continuei a imaginar o pior, e dessa vez eu não pude conter minhas lágrimas. De repente eu escutei um ''clic'', como se estivessem abrindo o cadeado da minha cela. Rapidamente eu levantei minha cabeça e enxuguei minhas lágrimas antes de me preparar para levantar.

Não vão me ver chorar.

Ao ficar de pé, percebi que não era nada. Não tinha ninguém.

—Mas... — empurrei a porta da cela com cuidado. Ela se abriu. — Como? — franzi a testa, realmente pensando na possibilidade de eu me dar muito mal desse lugar.

De uma hora para outra, um homem apareceu a alguns centímetros de distância, bloqueando a passagem. Me assustei, mas não me movi. Apenas analisei a figura que me encarava: ele parecia humano. Todavia, usava uma máscara — que escondia toda a sua cabeça — e vestimentas estranhas, que se assemelhavam à uma armadura.

Ele permaneceu olhando em minha direção sem dizer nada.

Bom, acho que é a pessoa menos estranha que encontrei até agora.

—Eu... posso ir embora? — perguntei, receosa.

O homem colocou o dedo indicador na boca, pedindo silêncio. E então recuou para que eu passasse. Eu estava louca para ir embora deste lugar o mais rápido possível. Quando saí da minha cela e virei para agradecer o meu salvador, ele havia desaparecido.

Estranho.

Muito estranho.

—Ótimo, estou sozinha de novo... — lastimei. — O único jeito é procurar uma saída...

Comecei a subir novamente todas aqueles lances infinitos de escadas e dessa vez prestei mais atenção no ambiente. Era tudo meio exótico. Meus olhos apreciavam a estranha beleza do local, absorvendo cada detalhe avidamente. Parecia uma versão da Terra, só que muito mais misticamente evoluída. Dei uma breve risada por causa desse meu pensamento bobo.

Depois de parar algumas vezes para recuperar o fôlego, finalmente terminei de subir as escadas. Só tinha uma saída e ela dava aceso a  enorme salão de formato circular. Eu me recordava vagamente de ter passado por ali antes. Se o gigante não tivesse me arrastado com tanta velocidade, eu teria prestado mais atenção, claro. Olhando melhor, era como se fosse um salão principal de uma construção que dava acesso à outros cômodos importantes ou algo assim.

Eu já havia visto muitos lugares em minha vida. Porém, nenhum deles se comparava com a beleza deste local. As paredes eram pintadas num tom de rosa pérola que variava em nuances de um azul bem claro — tudo parecia depender do tanto de luz que estava entrando pelo vitral em formato de abóboda pelo qual era feito o teto.

De certa forma, as paredes harmonizavam com o chão de mármore da cor azul celeste, decorado por símbolos que eu desconhecia. Alguns desses símbolos eram rosa púrpura, outros eram azul marinho. Interessantemente, havia dois pilares no centro do salão e eles eram feitos por um material cintilante, o qual eu nunca tinha visto antes. O lugar era absolutamente silencioso, poucas pessoas circulavam pelo local e nenhuma delas pareceu incomodada com minha presença.

Também notei pequenas árvores nos espaços entre as entradas — que eu contei cinco, fora as outras três do pequeno andar de cima. Pequenos bancos que estavam ali me pareceram bastante convidativos, considerando o tanto de escada que eu havia acabado de subir.

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