Capítulo 5: Aberração.

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Não parei de vomitar até que o gosto de bile atingisse o céu da minha boca.

— Oh, santo Cristo! — eu disse, limpando a bochecha e afastando minha mão soada da parede fria. Eu nem tinha notado que Ewelein estava segurando meu cabelo. Ela me olhava com ternura e um brilho nos olhos que até me espantou. Me surpreendi por ela não estar me xingando. Provavelmente era o que Ezarel faria, além de ressaltar que eu não passava de uma humana inútil. Mas com Ewelin... Eu me sentia acolhida. Pisquei algumas vezes, saindo do torpor. — Me desculpe, eu...

— Não tem com o que se preocupar. Agora venha comigo, rápido. — a jovem pegou meu braço de forma gentil e fez menção de seguir adiante. Olhei relutante para o piso sujo de vômito.

— Mas... não é melhor limpar aquilo? — ergui as sobrancelhas para ela.

— Você pensa demais. — Ewelein segurou um riso. — Não se preocupe com isso. — em seguida, ela assobiou para uma das pessoas ali e apontou para a sujeira. Não foi preciso uma palavra, a mulher apenas assentiu e sumiu em direção à dispensa.

Nós subimos a mesma escada que dava acesso à biblioteca e viramos à direita. Quando chegamos na enfermaria, não pude evitar a surpresa. Parecia... etérico! O piso era de mármore assim como grande parte da construção do QG. As paredes rosa-peroladas, assim como as do grande salão central, pareciam ter a cor alterada conforme a oscilação da luz.

Havia uma espécie de córrego passando dentro do local e uma ponte separava o lugar em duas seções. Na primeira, havia um balcão grande e branco, uma estante cheia de itens para primeiros socorros e cinco camas de solteiro grandes, forradas por um lençol verde-água. A segunda seção era composta por leitos simples. Como os hospitais humanos, esses leitos eram separados por uma cortina para dar privacidade aos doentes. O lugar era muito cheiroso, mas cheiroso do tipo bom. Não um cheiroso do tipo hospitais humanos. Dava vontade de ficar ali para sempre, como se fosse um SPA.

— Tome. — Ewelein estendeu um frasco com um líquido azul claro. Eu nem tinha prestado atenção dos movimentos dela enquanto admirava o lugar místico. — É um tônico para ajudar com o mal estar.

Fiz o que Ewelein me pediu. Depois, a segui até a primeira seção e nós conversamos por alguns minutos enquanto ela me examinava em uma das camas grandes que havia ali, que eu agora acreditava ser algum tipo de cama-scanner. Quando eu deitei, uma espécie de feixe de luz passou por todo o meu corpo. Através de uma prancheta transparente, provavelmente de vidro, Ewelein lia os dados. Fiquei intrigada com a tecnologia da enfermaria. Como eles poderiam contar com recursos tão avançados ali quando sequer tinham celulares ou tablets para se comunicar uns com os outros? Muito estranho!

Ewelein também recolheu amostras do meu sangue e um pouco da minha saliva. Quando terminamos os procedimentos, era hora do almoço. A enfermeira do QG pediu para que eu voltasse na manhã seguinte para discutirmos sobre os resultados e logo depois me presenteou com alguns tônicos extras. Eu passei em meu quarto para guarda-los antes de seguir para o refeitório.

O quartel estava tranquilo e eu acabei encontrando um ou outro faeliano no corredor. O peso de dezenas de olhares me atingiram quando cheguei perto da entrada do refeitório e não me surpreendi como todos fizeram silencio quando eu pisei no primeiro degrau. Eles começaram a cochichar e nem precisei ter uma boa audição para saber que eu tinha me tornado o assunto da vez. Quando me aproximei da fila para pegar a refeição, uma criança se agarrou nas saias da mãe. Eram os últimos da fila.

— Mamãe, ela é uma Aberração? — a criança sussurrou.

Franzi a sobrancelha para aquilo. A mãe apenas riu e afagou os ombros do menino. Ele tinha cabelos ruivos, e um rabo de raposa.

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