LouisCheguei na casa dele e fui direto para o quintal. Ele estava sentado em um lençol completamente perdido em pensamentos, e eu sei disso porque já chamei ele três vezes e ele nem piscou os olhos. Então me aproximei dele lentamente e me ajoelhei na sua frente.
- Harry? - Toquei delicadamente no ombro dele.
- Ah, oi Louis, desculpe... Eu nem notei você chegando.
- Tá tudo bem? Você tá bem? - Perguntei olhando no fundo dos olhos dele, eu queria que ele viesse que eu estava de fato preocupado com ele.
- Sim! Está tudo bem, eu só estava pensando em algo e acabei me distraindo. Desculpe. - Ele falou desviando o olhar.
Ele poderia passar a noite inteira repetindo aquilo, mas estava estampado na cara dele que era mentira. Ele parecia desconfortável com algo. Talvez comigo?
Então decidi falar algo, pois se eu estivesse o incomodando eu iria embora na mesma hora. Eu não queria invadir o espaço pessoal dele.
- Olha, se você estiver desconfortável com minha presença... Eu posso ir embora, a gente pode marcar algo pra outro dia, ou não marcar também. Se você estiver se sentindo pressionado a fazer esse jantar porque acha que é obrigado a isso, saiba que não é. Tá tudo bem se você quiser que eu vá embora, eu só preciso que você me fale. E não precisa se preocupar que não ficarei chateado com isso, mas eu realmente preciso saber.
Ele ficou um tempo em silêncio, provavelmente refletindo o que eu tinha acabado de falar. Então me surpreendendo, ele se afastou me dando um pouco mais de espaço no lençol.
Colocou duas almofadas, uma do lado da outra. Se deitou e me olhou como se estivesse me convidando para fazer o mesmo, então me deitei ao seu lado olhando para o céu dando tempo para caso ele quisesse me falar algo. Ou então para apenas ficarmos em silêncio.
- Eu não sou uma pessoa muito fácil de lidar e conviver, talvez se você tivesse conhecido uma versão de mim de 5 anos atrás talvez fosse mais fácil. Eu tenho alguns problemas com certas coisas que eu não estou preparado pra dividir com você, pelo menos não agora. - Ele falou baixinho, mas pela nossa proximidade pude ouvir tudo claramente.
- Tudo bem - eu respondi.
- Tudo bem? Por que pra você tudo parece bem o tempo inteiro? É como se tudo fosse fácil pra tudo. - Ele perguntou intrigado.
- Quando surge um problema na minha vida, só se tem duas opções... ou se desesperar por completo ou se acalmar e tentar resolver o problema. E caso eu não resolva o problema de imediato eu tento pensar pelo lado positivo da situação, minha mãe sempre me ensinou a ver o lado n das coisas até nos piores momentos.
- Sua mãe parece uma mulher incrível, você e ela se daria muito bem com a minha mãe.
- Eu ficaria muito feliz em conhecer ela um dia. - falei com um sorriso, mas ele desapareceu quando olhei pra ele e vi uma lágrima rolando pela sua bochecha.
Já ia me levantar quando ele segurou minha mão forte me impedindo. Percebi que ele queria que eu ficasse parado, a medida que ele percebeu que eu não ia me levantar, ele foi afrouxando o aperto mas ainda sim sem soltar minha mão.
- A minha mãe faleceu. Ela teve câncer e não resistiu. Ela ia gostar de conhecer você, eu acho... - Ele falou com a voz embargada e eu só queria bater minha cabeça naquele momento, era nítido o bolo que se formava em sua garganta. E eu tive uma ideia, eu só não sabia se era tão boa quanto eu pensava. Mas não custava tentar.
- Eu sinto muito pela sua mãe. E talvez, só se você quiser. Eu adoraria conhecer sua mãe por você... pelas suas lembranças. - Falei olhando para o céu, vai que ele estava me achando intrometido. Qualquer mínino sinal de desconforto eu vou pra casa.
Ele ainda estava segurando minha mão quando começou a falar, virei minha cabeça olhando para ele. Ele não me encarava de volta, mas tinha um brilho no olhar e um sorriso pequeno nos lábios.
- A minha mãe era a pessoa mais carismática que já conheci. Aonde ela chegava, ela fazia amizade. Ela soube aproveitar cada segundo da vida dela. Ela adorava viajar, conhecer pessoas. Ela era muito romântica. Ela adorava o termo "romântica incurável". Ela acreditava que o amor pudia curar tudo e qualquer coisa. Ela era aventureira, não tinha medo de nada. Para ela nada poderia derruba-la. Em uma viagem que ela fez com umas amigas, ela foi para o Brasil e chegando lá era época de carnaval. Lá o carnaval é um período dedicado a festas, desfiles, bailes, tudo regado a muito álcool, é muito divertido. Em uma dessas festas a minha mãe conheceu um homem e bom... Quando ela retornou, ela estava grávida de mim. Ela achou que para o meu pai foi só uma noite, mas ele procurou ela em todas as redes sociais. Divulgou uma única foto que eles tiraram naquela noite e ele conseguiu encontrar ela. Mas claro que demorou um pouco. Quando ele veio atrás dela, eu tinha 5 anos. E minha mãe estava grávida de três meses da minha irmã. Diferente do meu pai, o pai da Gemma quando soube abandonou minha mãe . E como ela sempre foi alto astral, não desanimou, falou que aquilo foi um livramento e que o homem certo e que seria para ela iria encontrá-la. E esse homem foi o meu pai. Ele criou a Gemma como se fosse o pai dela de verdade. Nunca excluía a minha irmã, sempre foi justo conosco. Sempre que comprava algo para mim, comprava pra ela. Me ensinou a falar e escrever em português, me apresentou costumes de lá, criou playlists para nos fazer ouvir. Ficou comigo e com Gemma nos piores momentos, cuidou de nós quando mamãe foi embora. Mamãe olhava pra ele com brilho nos olhos, era muito bonito de se ver. Ela me falava que se alguém me olhasse do jeito que ele olhava pra ela, que eu me casasse urgentemente. Antes de partir, ela me deixou uma caixinha com alguma coisa, eu nunca soube o que tinha dentro. Assim como ela não sabe o que tem na minha. Acho que é uma forma de cada um guardar uma parte individual dela. Na minha ela deixou cartas pra abrir em determinados momentos. Com essas cartas eu me sinto protegido, é como se ela ainda estivesse cuidando de mim. Eu sinto o amor dela vivo pelas cartas. Eu sinto falta dela.
Eu estava encantado, era como se de fato eu tivesse conhecido a mãe dele. Ela parecia muito bonita, pura de alma. Nunca vi uma foto dela, mas eu poderia garantir que se ele me mostrasse uma, ela estaria sorrindo e mostrando uma essência essência juvenil. Ela com certeza tem o sorriso dele. Ela parecia linda, era isso que me remetia enquanto ele falava dela.
Já ia falar algo, mas ele soltou minha mão para ir assar um espetinho. Senti um certo vazio com isso, mas disfarcei e fui ajudar ele.
- Ah, espera... Eu fiz um molho, dá pra comer com os espetinhos. - Ele falou se levantando, indo até a cozinha e voltando com um potinho com o molho dentro.
- É molho de quê?
- Cenoura, molho de cenouras. É uma delícia!
- Eu gosto de cenouras. - falei pegando o espetinho melando no molho e levando a boca - hummm, que delícia...
- Que bom que gostou, pelo menos algo que consegui fazer. - ele falou intercalando o olhar entre mim e minha boca. - A sua...boca tá com um pouco de molho...
- Aonde? Aqui? - Perguntei passando o dedo do lado direito da minha boca.
- Não, aqui. - Ele respondeu passando o polegar do lado esquerdo da minha boca e levando o dedo em seguida aos lábios. - hmmm, realmente muito bom...
E assim se passou o nosso jantar, ele falando sobre coisas da sua infância, algumas lembranças, me falou sobre sua irmã que estava passando um tempo com pai deles, contou também sobre a vida do pai dele. Basicamente eu o deixei falar o jantar inteiro, queria que ele se sentisse confortável, ele ficava assim quando falava das pessoas que gostava.
Quando deu 23:40 me despedi dele e fui para a minha casa. Tomei um banho e me deitei, antes de dormir repensei em toda a nossa conversa. E finalmente peguei no sono pensando no conforto e no encaixe perfeito que era a sua mão na minha.
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I can't break [l.s]
Fanfiction" Quando tudo se encaminha para dar errado, nós tendemos a desacreditar que tudo possa melhorar. Mas, as vezes, a luz do fim do túnel surge quando menos esperamos. - Quando Harry perde o emprego e precisa se reinventar para ganhar dinheiro e continu...