Henrique
Tenho que ter paciência para ligar meu carro, mas o importante é que ele anda. Chego na UnB sem pegar trânsito, o que para quem já morou no Rio de Janeiro, é quase um milagre a essa hora da manhã. Quando entro na sala a primeira pessoa que eu vejo é Joana. Ela está com cochichando alguma coisa com Elisa, sua amiga feminista de fofocas, mas para e me dá um sorriso assim que me vê.
Que estranho. Ela tem me ignorado desde o incidente com Selene na cafeteria. Já Elisa apenas revira os olhos pra mim, coisa que eu realmente não me importo, apesar de que ela seria quase bonita, caso depilasse a axila. Me dirijo até o fundo da sala onde estão sentados Gabriel e Bernardo, meus companheiros das aulas matinais. Hoje teríamos mais uma das incrivéis aulas de Introdução à Filosofia do Direito uma matéria bem desnecessária para falar a verdade. Mal posso esperar para chegar no sexto período e começar a ter coisas mais úteis como o Estágio de jurídica simulada.
- E aí? - cumprimento, jogando minha mochila na cadeira livre entre eles.
- Nada como iniciar uma boa quinta com uma aula de Introdução de blá blá blá - Bernardo comenta sarcástico, mas rindo com seu humor inabalável.
- Cara, qual foi o último dia que você dormiu? Ano passado? Você tá com uma cara horrível - Gabriel comenta assim que me vê.
- Oi pra você também - respondo sem muito humor - Alguém precisa estudar nesse mundo.
- Esqueci como você é doido - ele ri - Bom, eu também não dormi mas foram por outros motivos mais nobres - diz, dando um sorrisinho convencido.
- O que? - pergunto ao mesmo tempo que Bernardo engasga. Na verdade eu quis dizer quem.
- Aquela ruivinha de administração? - Bernardo indaga chocado, depois de se recuperar - Você tá mentindo! Ela é muito gata, cara.
- Eu te falei que ia conseguir - ele ri. Agora entendo porque ele está todo animado e não reclamando do curso.
- Ahá! Pode me passar a grana, Nado - aviso para Bernardo. Tínhamos apostado se Gabriel iria ou não conseguir tirar a virgindade da ruiva da Administração que vivia na igreja em menos de quatro meses e parece que ele conseguiu em tempo recorde. Sorte a dele, enquanto isso eu tinha passado a noite estudando e, por mais que eu não quisesse admitir, tentando não pensar na doida da Selene e me perguntando se ela tinha conseguido chegar em casa sem bater o carro. E eu tinha minhas razões para estar preocupado com ela que não parecia estar muito bem quando saiu do shopping. Não, penso comigo mesmo, você não deve se preocupar com ela.
O professor chega na sala e começa a aula. Eu não sei se é pelo fato de (1) eu não ter dormido, (2) do professor ser idoso ou (3) da matéria não ser uma das minhas preferidas, mas eu acabo pegando no sono entre as palavras "Sócrates" e "aletheia".
Estou deitado na minha cama. Mas não a cama do meu quarto no apartamento minúsculo na mansão dos Fontana, estou deitado no meu quarto antigo, na casa da minha mãe na periferia do Rio de Janeiro. A cama é quase pequena demais pra mim, ainda assim tem alguém deitado junto comigo. Não é apenas alguém, é ela. Com seus cabelos loiros e encaracolados espalhados no meu braço, onde ela encosta sua cabeça. Felicita vira seu olhar pra mim, seus olhos negros enormes me encarando, e sorri.
- Fê - me esforço para continuar sério, apesar do seu sorriso me querer fazer sorrir também, seu corpo apenas enrolado por um lençol ao lado do meu. Ao mesmo tempo que ter ela ao meu lado me tranquiliza, me deixa imensamente preocupado - Você não deveria estar aqui - falo frazindo a testa - Seu pai...
O sorriso dela instantaneamente some. Seus olhos que antes estavam brilhando de alegria parecem escurecer ainda mais. Ela morde o canto do lado com força e seu olhar passa do meu rosto para a porta.

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Selene
RandomUm passado amoroso traumatizante havia feito com que Selene passasse de filha perfeita para garota má. Com sua beleza de dar inveja em qualquer uma, sua maior diversão é destruir os casais perfeitos e gastar todo dinheiro de seu pai em saltos da Cha...