Capítulo 1

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Selene

- Eu vou cortar a sua mesada! - meu pai grita do outro lado da mesa durante o café da manhã. Minha reação? Eu dou um sorriso irônico, me segurando para não dar uma risada alta.

- É mesmo? - me contenho a dizer, com algum esforço. Ele tinha tirado minha mesada mês passado.

- Eu estou falando sério, mocinha. Esse jantar é muito importante, nossa família é o coração da empresa! - ele diz animado, começando seu discurso de sempre. A tradução desse discurso é bem simples, nós teríamos que ser a família feliz do comercial de margarina durante uma noite. Quanta diversão.

- É claro, papai - digo, sem tentar ser convincente, cutucando minha omelete. Ele sabe o que eu penso e obviamente não se importa, então porque eu deveria me importar com o que ele pensa? - Então se eu for hoje, posso receber minha mesada adiantada?

- Adiantada quanto? - ele não é bobo, é um homem de negócios. Bem, eu tive que aprender com o melhor. Uma pena que ele não foi meu único professor.

- Hm, amanhã talvez? - sugiro esperançosa. O pequeno salário que eu ganho dando aulas de piano está sumindo mais rápido do que fumaça, provavelmente por culpa da minha pequena obsessão por compras.

Para estragar a minha felicidade de ter um dia de compras sem me preocupar com o quanto teria que gastar, minha mãe chega na sala, trazendo um prato de panquecas recém feitas. Minha mãe é uma chef de mão cheia e uma de suas especialidade são as sobremesas e eu tenho que agradecer à Deus pela minha genética, ou seria uma obesa mórbida.

- Querida, já disse para não usar óculos escuros enquanto estamos na mesa - eu abro a boca para protestar, mas ela é mais rápida - Sim, sim. Todos já sabemos que você está sem maquiagem, com olheiras terríveis e também já sabemos que seus olhos precisam de tempo para se acostumar com a luminosidade, mas tenho certeza que eles se adaptam em cinco minutos e não cinco horas.

- Gigi disse que meus olhos parecem de vampiro de manhã, acho que posso muito bem ser poupada desses comentários - jogo meu último argumento. Lutar pela minha imagem perfeita, usando óculos de sol quando estou sem maquiagem ou sem paciência de colocar as lentes, faziam parte da minha emocionante rotina matinal.

- Acho que não teremos esse tipo de problema novamente, não é Gisele? - minha mãe fala a última palavra lançando um olhar ameaçador para minha irmã caçula, Gigi, que apenas dá um sorriso banguela para mim. Ela puxou os olhos azuis da minha mãe, enquanto eu... Bem, eu tenho os olhos do meu pai. Castanhos claros com um pouco de verde claro no meio, uma vez Gigi disse que eles estavam da cor de cocô. A garota conseguia ser simplesmente adorável.

- Tudo bem, mas só se você me der as panquecas - suspiro, aceitando minha derrota. Minha mãe me passa o prato de panquecas e eu coloco duas no meu prato antes de tirar meu óculos de sol.

- E querido, lamento te informar, mas você já tirou a mesada de Selene mês passado. Ela se recusou a ir no grupo de autoajuda, se lembra?

Droga. Toda a minha felicidade acaba de ir por água abaixo.

- Ah, é - meu pai comenta me lançando um olhar intimidador. Eu o encaro de volta.

- Eu não fui porque eu não preciso de um grupo de autoajuda! - me defendo. Até parece que eu preciso de um grupo formado por um monte de gastadoras viciadas que mal sabem combinar as cores da roupa. Eu pelo menos tenho bom gosto.

- Selene, isso já foi discutido. A psicóloga disse que...

- Eu realmente não acredito que aquela mulher saiba o que eu devo ou não devo fazer da minha vida.

SeleneOnde histórias criam vida. Descubra agora