Selene

Capítulo 7

Antes de começar: o video que eu coloquei de mídia nesse capítulo é a música que Selene tocará no piano duranto o capítulo, então espero que apertem o play assim que chegarem nessa parte do capítulo e aproveitem!

Selene

Eu realmente não sei o que eu tinha na cabeça quando resolvi vir para a faculdade hoje. Talvez fosse porque eu não aguentava mais ficar encarando as paredes do meu quarto e ainda não havia criado coragem para encarar ninguém da minha família, muito menos os meus pais. Eu estava sem condições de olhar para a cara dos meus próprios pais, que irônico. Geralmente é com a família que as pessoas contam quando tudo está errado. Mas se sua família é o que está de errado na sua vida, acho que não tem muito com quem você possa contar. Tudo o que lhe resta são os amigos e mesmos estes não são muitos, e eu sei bem disso.

Posso ouvir o murmurinho das fofocas. Assim que pisei na sala hoje de manhã eu sabia que isso iria acontecer cedo ou tarde. Parece que as pessoas nunca se cansam de falar da vida dos outros, ainda mais quando esses outros se chamam Selene Miller. Ainda posso me lembrar perfeitamente do dia em que voltei da faculdade depois de desaparecer por uma semana e meia. O som das fofocas era o que me dava forças para continuar, era o que me dizia que o mundo ainda se importava comigo, era o que me mantinha de pé. No fim, a coisa acaba sendo meio viciante. Você começa a querer que os outros falem de você. Se bem que eu nem preciso me preocupar muito já que as pessoas estão sempre arranjando alguma coisa para falar de mim de qualquer jeito.

Eu geralmente consigo ser incrivelmente boa em conseguir dominar minhas emoções quando preciso. Porém hoje me sinto tão mal que pareço ter perdido essa minha capacidade. Eu havia desistido dos saltos por um dia, porém estava crente de que estava com a minha maquiagem perfeita até Blanca me avisar que eu havia esquecido de passar o corretivo nas olheiras e estava sem o meu batom. Só então eu notei o quão mal eu realmente estava. Eu nunca esquecia o meu batom. Acho que essa foi a segunda vez em quase dois anos.

Quando saímos para o intervalo eu tenho que me esforçar para conseguir prestar atenção nas pessoas, mas elas parecem apenas estar falando sobre coisas inúteis e desinteressantes, como a maioria das vezes.

Chego com Daniel na praça de alimentação e os cochichos parecem triplicar. Mesmo assim, eu só noto isso por um mero acaso. Daniel aperta a minha mão, como se tentasse me dar força.

- Não seja idiota - eu aviso, baixinho - Não é nada que eu já não esteja acostumada.

- Eu sei - ele responde, calmo como sempre - Só que eu nunca sei até quando o seu sangue frio vai durar

- Ele dura 364 dias do ano, não se preocupe - brinco

- E o que você faz no dia 365? - ele pergunta, interessado no fato de eu ter conseguido manter uma conversa contínua pela primeira vez no dia.

Mas eu não o respondo. O dia 365 é uma problema meu.

Descobrimos que alguém havia guardado um lugar para nós em uma mesa cheia de gente. Eu me sento entre Laura e Blanca e Daniel se senta ao nosso lado. Noto que se sei o nome de metade das pessoas que estão nessa mesa é muito. Porém todas elas me cumprimentam e sem hesitar falam meu nome, com alguns eu ainda consigo fingir um sorriso, coisa que eu nem tento com o resto.

Até agora não consigo parar de pensar em como. Como a minha mãe teve coragem de dizer o que ela disse sobre mim? Ela nunca disse nada parecido pra mim, ela sempre havia dito que me amava. Mas também sempre tinha me deixado sozinha na casa dos meus avós durante as férias para viajar com o meu pai por lugares que eu sonhava em ir. No fim, ela me trazia uma lembrancinha e eu achava que já era o suficiente. Eu nunca tinha chegado a suspeitar que eles nunca me levaram porque não me queriam por perto. Eu penso nisso ainda esperando que quando chegar em casa vou descobrir que nada passou de um mal entendido. É engraçado como eu adoro me iludir com essas coisas.