CAPITULO 23
O pouco tempo que havia se passado estava mergulhado em um silêncio compreensível. Nenhum dos dois queria arriscar dizer algo que não fosse conveniente para o momento, e eles de fato não sabiam o que seria o melhor a dizer, como dizer... Por isso, ele sugeriu que voltassem à mesa e degustassem a sobremesa (é claro, de maneira maliciosa, deixando claro o quanto ele adoraria “provar da sobremesa agora”), e Any só se permitiu rir do comentário e revirar os olhos. Como ela desejava que seu corpo não fosse traíra! O constrangimento era natural, mas nem por isso deixava de ser incômodo – nem por isso o rosto queimava menos. O impulso que tinha tomado Anahí e Alfonso foi algo ou excessivamente humano (o desejo carnal no sua mais simples definição) ou animalesco; de posse, de necessidade. Ao mesmo tempo, tudo soou tão carinhoso, tão nostálgico. Não foi como beijar (somente beijar é modéstia, convenhamos) um Poncho de 17 anos – foi melhor, e era estranho admitir.
O Alfonso que Anahí beijara era um homem maduro e sedutor, experiente, certo do que queria, cheio de truques e artimanhas. Um Alfonso que quase fizera a certinha Anahí Portilla despi-lo por completo, ensandecida, e muito provavelmente chegar aos “finalmentes”. Era por isso também que Any evitava olhá-lo agora e se concentrava de maneira tão árdua no petit gateau: ela ia transar com ele. Se o tombo não tivesse atrapalhado, ela provavelmente teria se entregado ali, no tapete da sala, de tanto que seu corpo exigia mais dele. Era loucura! Teria se arrependido pelo resto da vida por se deixar levar!
Já Poncho não conseguia pensar direito porque seu corpo não deixava. O fato de ela estar tão próxima, e seu perfume tão impregnado nele, não ajudavam em nada. Talvez ele estivesse até um pouco mal humorado, mas não podia deixar transparecer. O corpo dele estava um pouco rígido – mesmo que inconscientemente ele reprimida os próprios anseios de atacá-la -, mas tentava conversar normalmente. Ela estava se divertindo com a situação e o sorrisinho no canto do rosto não a deixava negar.
- Não tem graça, Anahí. – Poncho ergueu a sobrancelha, observando-a encará-lo.
- Tem sim – ela disse, rindo abertamente. – Tem muita graça.
A gargalhada alta e contagiante dela foi o suficiente para que Poncho, por fim, se permitisse rir. Na verdade, a situação era cômica, ele tinha que admitir. De repente já não parece mais tão imponente e poderoso naquela situação constrangedora – naquele momento, se tivesse diante do mundo dos negócios, não teria crédito algum como o grande Alfonso Herrera. Bom, Poncho decidiu, Anahí não era ninguém do mundo dos negócios: ela era milhões de vezes mais complicada que qualquer transação bilionária.
Ele reparou em Anahí as linhas de expressão que inevitavelmente começavam a aparecer, e que a deixavam tão mais sexy. Imaginou que algumas daquelas linhas eram devidas à preocupação de mãe, e muito provavelmente, todo o resto de suas características também. A postura mais ereta, comportada; o rosto leve, mas sério; a risada que por vezes estrondava-se pelo ambiente, por vezes jazia contida nos lábios. Aquela Anahi a sua frente era uma intensa mistura da Anahi de dez anos antes e a mãe de Laura.
O olhar inquietante dele não passou despercebido por ela que, poucos segundos depois, já sentia o rosto queimar junto ao resto do corpo ainda febril. Poncho se deliciou com aquilo: estava mesmo na hora de deixar de ser o alvo da chacota.
- Por que está me olhando assim, Herrera? – ela disse, com as sobrancelhas erguidas e de repente deixando de achar graça. – Não olhe assim pra mim!
- Estou te admirando. É o máximo que posso fazer, de qualquer forma – Poncho respondeu, sincero. Any, por sua vez, estreitou os olhos. – Estou pensando na mãe maravilhosa que você é.
Então, como num passe de mágica, ela sorriu. Por que só o fato de ser mãe já mexia tanto com ela?
- Obrigada, Poncho. – sincera, ela acariciou o braço engessado dele. – Eu juro que tento.
- Por nada. É só o que vejo com meus próprios olhos. Sei que você está pensando nela neste exato momento, há cinco minutos atrás e também nas horas anteriores. – comeu mais um pedaço do petit gateau. – Você não está totalmente aqui.
Any assentiu, concordando. Limpou a boca com o guardanapo e observou Poncho comer por alguns segundos. Então sentiu que poderia conversar com ele novamente, uma vez que – ao menos superficialmente -, a fumaça havia dissipado. O fogo, bem... Era outra história.
- Minha filha é a razão pela qual eu vivo, Poncho. – sorriu de canto. – Mesmo que não vivêssemos uma situação tão complicada, ainda assim seria dessa forma. Mães são assim. Você tem a sua própria pra saber disso. Aliás, como vai a dona Ruth?
Poncho sentiu-se desconfortável com a interpelação, mas manteve o olhar preso no de Anahí. Por mais que desejasse pensar em qualquer outra coisa enquanto a encarava, sua pergunta estava ali, clara e insistente, com aqueles mesmos olhos a não dar-lhe trégua. Ele não queria falar sobre os pais e não queria ter que dizer a ela que, desde que regressara ao país natal, ainda não havia conversado com eles. Anahí adorara seus pais no passado, e adorava ainda mais sua mãe. Poncho também amava dona Ruth e não deixara nada faltar a ela, assim que teve chance de lhe dar o mundo... mesmo que a senhora não quisesse. Ele apenas... Não tinha tido tempo para visita-la. Ou era isso que tentava dizer a si mesmo.
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Still Into You
RomanceWEB TEMPORARIAMENTE SUSPENSA Anahí e Alfonso namoraram no colegial, tempo de suas vidas em que foram perdidamente apaixonados um pelo outro. No entanto, a vida, a ambição, o orgulho e o egoísmo acabaram por separá-los, deixando feridas não cicatriza...