CAPITULO 28
Quando Anahi chegou na casa de Maite naquela noite, com Laura em seu colo dormindo, ela se sentia esgotada. Como se cada pedaço do seu corpo (e cada espaço de sua mente) estivessem pedindo por descanso: uma reunião com advogados logo no início do dia, o começo de uma matéria bombástica que exigiu que ela se desdobrasse para conseguir uma reunião com Manuel Velasco na manhã seguinte, e, mesmo quando achou que tivesse paz, Alfonso Herrera havia se encontrado com sua filha acidentalmente no passeio. Any suspirou pesadamente quando colocou Laura no sofá e a acomodou.
O cheiro de comida fresca emanava da cozinha e as taças de vinho em cima da mesa da sala de jantar eram mais convidativas do que nunca. No entanto, a loira passou direto em direção à cozinha onde suas duas melhores amigas da vida conversavam.
- Eu não sei se vocês já perceberam, mas só nos reunimos para comer. – Anahi disse, cumprimentando as amigas e largando o cachecol no balcão. – O que fizeram de bom durante o dia?
- Olá pra você também, Any. – Dulce disse, beliscando algumas batatas fritas. – Vamos direto ao ponto, ok? Suas mensagens pareciam bem desesperadas. O que aconteceu?
Maite, concentrada em sua tarefa de cozinhar, completou:
- Você sabe que não pode ser coisa boa quando o nome do Alfonso é citado. Portanto, já pode começar, Any.
Anahi suspirou. Por onde deveria começar?
- Bom, acreditem se quiserem, ele não é o meu maior problema por hora. – ela começou. – Amanda é. Já falei com os advogados que havia comentado e... bom, entrarei com o pedido de adoção dela. O mais rápido possível. E eu estou ficando maluca com isso. Como vamos contar a ela?
E então Anahi contou como tudo ocorreu com Christopher e Rafaela, desde seus medos dosados, até o momento em que ela decidiu ir em frente. Depois, contou sobre como havia invadido o escritório de Manuel Velasco no fim da tarde e convencido sua secretária a marcar uma reunião com ela na manhã seguinte. Any contou sobre como Velasco estava envolvido em casos polêmicos de desvio de verba pública, entre outros rumores que ela precisava investigar. Era isso, ou o chefe do jornal em que trabalhava ficaria convencido de que os textos dela poderiam valer menos do que valiam hoje. E, por fim, já terminando a primeira taça de vinho da noite, Anahi reproduziu o que a professora Fernanda havia lhe contado quando passou para pegar Laura na escola. E o sangue voltar a ferver.
- Ele simplesmente se faz presente. E ele quer que eu saiba que ele está em simplesmente em todos os lugares! Isso é absolutamente irritante! Este homem pode estar espionando a mim e a minha filha. – com as bochechas coradas, Anahi resmungava para as amigas, com o coração batendo incontrolavelmente no peito de fúria. – Agradeço a ajuda dele com os advogados e tudo o mais, mas, pelo amor de Deus, isso não quer dizer que eu o quero na minha vida!
- Any, controle-se. Um problema de cada vez, por favor. – Dulce disse, tentando acalmar a amiga. O que parecia uma tarefa tão fácil quanto secar gelo. – Por que está tão irritada com esse encontro entre Alfonso e Laura?
- Ele fez alguma coisa contra ela? – Maite interveio, virando-se de costas para o fogão. – Porque, se fez, eu me encarregarei de matá-lo. Você nem precisa sujar as suas mãos.
- Não... eu só... A Fernanda disse que Laura não queria deixar o Poncho. Que não queria ir com as outras crianças, preferiu a companhia dele. Vocês... Podem imaginar... Ele vai usar a minha filha para estar por perto!
Anahi estava visivelmente irritada, muito embora não conseguisse definir o porquê. Parte de si havia se convencido de que Alfonso estava sendo mesquinho de fazer-se presente tanto quanto conseguia (mesmo que ele não tivesse motivos razoáveis pra isso, era o que sua consciência lhe dizia). E a outra parte preocupava-se com o fato de Laura gostar dele – isso havia sido óbvio desde o primeiro desenho.
Dulce revirou os olhos e Maite deu uma risadinha. Anahi, que percebeu muito bem a reação das amigas, cerrou os olhos e disse:
- O que foi?
Maite, que subitamente teve um ataque de risos, respondeu:
- Anahi, pelo amor de Deus! Até eu tenho que discordar de você agora. Você acha que o Alfonso está te perseguindo?
- Já parou pra pensar que pode ser algo do universo? – Dulce interveio. – Você, que acredita tanto nisso... Talvez o universo queira que vocês se encontrem o tempo todo.
Maite desatou a rir ainda mais. Dulce não escondia o sorriso no rosto, mas também não discordava de suas próprias palavras.
- Por que o universo gostaria de unir a mim e Poncho? Nossa história ficou no passado. Há dez anos, lembram-se? Cresci, crescemos, tenho uma filha. Coisas do tipo que tornam impossível que o universo queira que ele esteja perto de mim.
- Nada é impossível para o universo, gatinha. – Dulce disse, piscando-lhe um dos olhos. – Você precisa se permitir, Anahi. Já falamos sobre isso...
- Sim, mas precisa ser com o Alfonso, Any? – Maite esboçou uma careta. – Tanta gente interessante nesse mundo...
- O que faz vocês duas pensarem que eu quero algo com Alfonso, pelo amor de Deus?! – Any respondeu, ultrajada, com os olhos azuis irritadiços.
- O que faria a gente pensar que não? – Dulce disse e Maite mais uma vez riu, como se aquilo fosse alguma piada interna. – Para de ser boba. Olha o jeito que ele faz você se sentir.
- Como? Irritada?
- Sim, Anahi! Sentindo alguma coisa!
Any fingiu que não ouviu os protestos de Dulce e, evitando o contato visual das amigas que lhe julgavam, torceu o pescoço para observar Laura dormindo no sofá. A filha parecia um anjinho – o pensamento fez Anahi sorrir. Não permaneceu muito tempo ali, embora quisesse – Dulce e Maite não paravam com seus comentários e poucos minutos depois o celular apitou incessantemente. Era o doutor Sanches – advogado de Lucas. Foi como receber outro tapa na cara.
- Quem é, Any?
- Doutor Sanches. – ela respondeu, lendo a mensagem com cuidado. – Dulce, posso usar o seu computador? – a cunhada apenas assentiu e Any voou para o notebook de Dulce, ligado em cima da mesa. – Ele encontrou extratos suspeitos de uma conta avulsa que o Lucas tinha. Para uma outra conta no exterior.
- Amanda? – Maite perguntou, com os olhos arregalados, séria. Any assentiu.
- Muito provavelmente, Mai!
- Ai meu Deus, eu não acredito que meu irmão... – Dul, antes sorridente, empalideceu.
- Não podemos tirar decisões precipitadas. Não sei quais foram os motivos dele. – Anahi digitava incessantemente: enviaria aquelas informações naquele mesmo momento para Rafaela. – Já é alguma coisa. Um ponto a nosso favor.
- Se essa mulher teve o sangue frio de pedir dinheiro em troca da segurança da Laura...
- Essa mulher teve o sangue frio de abandonar a própria filha, Mai. – Any respondeu. – Temos que estar preparados para tudo.
- Vamos contar pra Laura, Any? – Dulce ainda estava branca.
Anahi respirou fundo, olhou novamente para a filha. Sentiu o corpo vacilar por um momento.
- Vamos, Dul. Acho que mais breve do que eu imaginava.
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Still Into You
RomanceWEB TEMPORARIAMENTE SUSPENSA Anahí e Alfonso namoraram no colegial, tempo de suas vidas em que foram perdidamente apaixonados um pelo outro. No entanto, a vida, a ambição, o orgulho e o egoísmo acabaram por separá-los, deixando feridas não cicatriza...