CAPITULO 29

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                                                                                                    FLASHBACK

                                                                                                   10 ANOS ANTES

Era véspera de ano novo, mas tudo estava surpreendentemente silencioso. Os fogos e as bombas eram esporádicas, porém Anahí já sabia lidar melhor com elas, mesmo que viessem sem aviso prévio. Poncho, por sua vez, praguejava vez ou outra com os moleques da rua que insistiam em fazer algazarra. Any só podia rir.

A casa que os pais de Poncho haviam alugado para passar o ano novo era, para dizer o mínimo, linda. Uma casa, Anahí pensou, que os seus pais jamais teriam condição de alugar, quanto mais de ter. O jardim que se estendia por muitos metros era especialmente encantador, arejado, verdinho. Havia inclusive uma piscina, uma churrasqueira e uma rede de vôlei estendida entre duas árvores. Any sorriu, com as mãos na cintura, enquanto olhava para o quintal e escutava Alfonso praguejar para alguma coisa lá dentro. Era bom estar ali. Teria que se lembrar de agradecer a Ruth e o Armando novamente pelo convite.

Se é que eles chegariam a tempo.

O impulso de deitar na grama foi maior que Any, ao vê-la ali, disposta como um tapete, esperando para servir de cama. E foi o que fez. Olhou para o céu estrelado e inspirou profundamente, o ar da noite entrando em seus pulmões. O ano novo parecia estar dando às boas vindas aos poucos. Ela fechou os olhos e pouco depois sentiu seu parceiro de vida deitar-se ao seu lado na grama.

- Papai e mamãe acabaram de ligar, amor. – Poncho saiu de dentro do sobrado de madeira. – O carro quebrou na estrada.

- Meu Deus! – Any arregalou os olhos, virando-se para ele. – Eles estão bem? E agora?

- Meu pai disse que o carro não vai funcionar. Eles acharam um hotel ali perto. – Poncho abraçou Anahi e beijou-a na cabeça. – O hotel é bom, e o mecânico da cidade está na farra uma hora dessas. – Poncho riu. – Minha mãe ficou um tanto quanto brava, mas eles acharam um lugar pra ver a queima de fogos. Ela ficou chateada porque não vai conseguir cozinhar pra você.

- Não acredito! É muita injustiça com os seus pais, amor! Eles pagaram esse aluguel e não vão aproveitar? – ela parecia indignada. – Se ao menos eles tivessem vindo com a gente de ônibus...

Poncho olhava pra Anahi reclamando e não conseguiu conter o sorriso. Mirou os lábios dela como se nunca o tivesse feito antes e ali deixou um beijo. Ela se surpreendeu a princípio, mas depois correspondeu, como sempre fazia.

Any e Poncho ficaram ali, na grama, por alguns minutos que pareciam uma eternidade, porque estavam juntos. Os Herrera não chegariam naquela noite, o que significava que sim, os adolescentes estariam sozinhos na casa de campo. O pensamento fez com que rapidamente o coração de Anahí começasse a bater enlouquecido no peito e uma certa ansiedade começou a envolvê-la.

- Bom, já que é assim, precisamos comer alguma coisa. – ela se levantou. – Mas antes preciso de um banho. – e, dando um selinho demorado no namorado, saiu em direção ao banheiro.

Naquela noite, Anahí deixou a água do banho cair sobre seu corpo como se não houvesse amanhã. Dentro de si, ela sabia que alguma coisa aconteceria. Viu nos olhos de Poncho lá embaixo, viu durante o caminho, a maneira como ele lhe olhava – de um jeito tão, mas tão profundo, que parecia estar dentro dela. E ela também lhe devolvia esse olhar, um olhar cheio de amor – meu Deus, meu Deus, ela o amava demais. Quando estavam juntos, era como se cada partezinha de seus seres, por mínima que fosse, pertencessem um ao outro. E eles estavam ali, sozinhos naquela casa que parecia tê-los acolhido, que parecia saber que estariam sozinhos. Não podia ignorar as batucadas surdas que seu coração dava a cada vez que pensava nisso: ela e Poncho sozinhos numa imensa chácara, sob um céu estrelado, num silencio barulhento que se formava entre os dois desde a última vez que haviam tentado estar juntos de um jeito mais... profundo.

Still Into YouOnde histórias criam vida. Descubra agora