O circo do horror

A Escolhida

12 de dezembro.

O silêncio pairava sobre o trailer de Melanie, mas sua mente não parava.

Ela olhava para o teto, sem conseguir fechar os olhos, sem conseguir apagar as últimas palavras que ecoavam dentro dela como um feitiço.

"Você é minha. Sempre foi."

O que significava aquele sempre?

Por que a ideia de já ter sido dele antes mesmo de perceber fazia seu corpo arder?

Ela não entendia. Mas, no fundo, sabia que não precisava entender. Porque sentia.

Sentia Jason impregnado em sua pele, sentia a ausência dele como uma queimadura sempre que não estava por perto.

Os beijos, o toque, o ápice... ele era um feitiço que ela não podia quebrar.

Mas havia algo além do desejo. Algo que a inquietava, que fazia seu coração pesar no peito.

Ele não disse que manteriam aquilo em segredo.

Mas ela sentia.

Sentia que ele não deixaria o mundo saber. Que, naquele circo, eles seriam um segredo.

Não sabia se isso a irritava, se a aliviava. Não sabia se deveria querer mais. Mas sabia que não queria menos.

Jason Price tinha tomado algo dela, e agora nada voltaria a ser o mesmo.

"Antes de finalmente fechar os olhos naquela noite e se entregar ao sono aos braços daquele homem, a pergunta escorregou de sua mente, um sussurro que ecoava em seu próprio silêncio.

"Como será daqui para frente?"

E a resposta veio como uma promessa.

"Como sempre, mas juntos."

E ela apagou."

•

Melanie caminhava pelo circo com passos lentos, sentindo a brisa fria da manhã acariciar sua pele. O sol brilhava, mas não aquecia.

Ela se lembrava-se da primeira vez que caminhou por aquelas terras—cheia de medo, desprezo e revolta. Tudo era grotesco, um verdadeiro pesadelo. Mas agora... Agora, era diferente.

O cheiro de ferro no ar, o riso distorcido dos palhaços, o brilho sobrenatural das tendas. Antes, tudo aquilo a enojava. Agora, parecia apenas... parte do cenário.

Parte de seu novo mundo.

Ela tentou, em vão, se aquecer apenas com a força do pensamento, tentando invocar a mágica que Jason lhe mostrara. Um truque bobo, mas que a fez rir sozinha.

Sem sucesso, voltou para o trailer para pegar um casaco. Encontrou dois pendurados na arara: a jaqueta de couro de Parker e o smoking de Jason.

Seu coração falhou uma batida.

Merda.

Ela passou tanto tempo presa nos pensamentos sobre o mágico, em sua presença esmagadora, em seu toque possessivo, que sequer se lembrou de Parker.

Parker.

Seu primeiro aliado ali dentro.

Ele e Rose foram os únicos que a apoiaram quando tudo parecia impossível. Quando Melanie ainda se recusava a aceitar que aquele circo não era apenas uma passagem—mas seu destino.

— Mon Dieu, Rose... — murmurou, sentindo uma pontada de culpa. Ela não a via há dias.

Apressou-se, pegando a jaqueta de Parker, vestindo-a sem pensar muito, e saiu novamente.