Livro: A sentença

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A Sentença

O rei ergueu a coroa após edificar seu reino do nada, recorrendo a um pacto oculto para se elevar acima de todos. Tornou-se o Grande Rei, o senhor de todas as almas de seu pequeno domínio. Agora, estava pronto para governar.

Uma figura divinizada pelos súditos, incumbido de protegê-los. Afinal, o que seria de um rei sem seu reino? Por mais modesto que fosse seu domínio, a honra de seu rei era inquestionável, pois entre seus valores mais elevados estava o zelo por seus súditos, permitindo-lhes viver à sua maneira.

Mas o Grande Rei não governava sozinho. Tinha um irmão, seu maior confidente e braço direito. Embora para os outros o irmão-rei ocupasse uma posição secundária, para o Grande Rei, ele era o número um. Assim viveram por anos, governando os poucos fiéis que os seguiam.

Numa manhã comum, uma mulher encantadora, de beleza inigualável, apareceu com olhos curiosos, interessada naquele reino incomum. Era de se esperar que uma beleza tão rara naquele lugar chamasse a atenção dos dois reis solteiros. No entanto, o coração da mulher já pertencia ao Grande Rei desde o primeiro instante.

Uma rivalidade fraternal se iniciou por causa de uma mulher. A obsessão foi avassaladora, para ambos. Ela, evitando criar conflitos, optou por guardar sua paixão para si e deixar o reino. Mas o rei superior não aceitou sua decisão e, como única solução, a sequestrou e a manteve consigo em segredo, trancada em uma masmorra, à mercê de seu rei.

A paixão se tornou uma chama voraz, consumindo a sanidade do Grande Rei e tomando sua alma. Um amor maldito, mútuo e verdadeiro.

A tentativa de viver um amor proibido não durou muito. O fruto desse amor estava a caminho, destinado a "abençoar" aquele mundo perdido. Chegou o dia de revelar ao reino e ao irmão a história de amor e a vinda do herdeiro.

Todos no reino se alegraram, exceto o outro rei, que se sentiu traído pelo próprio sangue, ao ver seu irmão unir-se à sua única paixão.

O amor durou exatamente uma década, até o primogênito completar seus dez anos de vida. O reino não era mais seguro, pois forças desejavam derrubar o rei, desmascará-lo. Ele só viu uma saída: desistir de sua realidade e recomeçar.

O que um homem, mesmo maléfico, apaixonado, não faria por amor? Isso o levou a abandonar seu reino. Por ela. Pelo filho. Por amor.

O outro rei descobriu os planos do irmão e, mais uma vez, sentiu-se traído pelo próprio sangue, jurando vingar-se do irmão.

E assim foi sua vingança. Contra todos, contra o superior. Matar o Grande Rei. Tomar sua rainha.

Numa noite aterrorizante, o fogo consumiu todo o castelo do rei, junto com sua rainha e filho.

O povo virou as costas para o rei. O reino estava em chamas, e o rei e sua rainha estavam prestes a cair.

O último desejo do rei e da rainha foi concedido por um pacto antigo, e seu herdeiro foi salvo. Sua última esperança. E então, puderam morrer em paz.

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