11 de janeiroO primeiro raio de sol surgiu pela pequena janela do trailer de Melanie, e seus olhos se abriram lentamente, acostumando-se à claridade. Vagamente, lembrava-se da retrospectiva que a manteve acordada por longos minutos até finalmente conseguir adormecer.
O rosto de seu pai a encontrara pela primeira vez em anos.
O rosto que quase não se lembrava, com traços que aos poucos tinham sido apagados de suas memórias, estava ali naquela noite, visitando-a. Ele apenas ficou lá, no canto do trailer, sem se mover, com um olhar distante e paternal. Ela tentou conversar com o espírito do homem que mais admirou em toda sua vida, mas não recebeu respostas. Nunca desejou tanto que ele estivesse vivo, nunca desejou tanto que ele pudesse ouvi-la e responder às diversas perguntas que tinha. Melanie apenas encontrou o silêncio.
Até que ela se lembrou, que naquela noite, na casa de sua mãe, ela recebeu o presente de dezoito anos que ele deixara para ela. Já tinha se passado um mês de viagem e ela ainda não o tinha aberto.
Ela pegou a caixa de madeira com laços cor de rosa e respirou fundo antes de finalmente abri-la.
Surpreendeu-se ao desenrolar os laços, retirar a tampa de madeira e ver um papiro acima do embrulho. Mordeu o lábio, pensando em qual sequência seguir.
A carta, certamente.
Melanie sentiu medo do que poderia encontrar naquelas palavras rabiscadas, talvez pelo longo tempo que se passara desde que o perdera, mas também ansiava para senti-lo mais próximo depois de tantos anos.
Respirou fundo e iniciou a leitura das palavras deixadas pelo seu pai;
Má pétit,
Quanto tempo, não é mesmo? Digo isso porque, quando você abrir esta carta, é possível que eu não esteja mais aqui em vida, mas saiba que sempre estarei com você, mesmo após minha partida.
Quero que saiba, minha filha, que eu te amei antes mesmo de te conhecer, e nunca achei que pudesse existir um amor tão grande até ver seu rosto pela primeira vez. Você trouxe uma luz para a minha vida que eu nunca pensei ser possível.
Joyeux anniversaire, má pétit.
Estou escrevendo esta carta enquanto você dorme no sofá da sala, depois de mais uma vez eu te afastar do seu canal favorito de mágica e brigar contigo. Ainda assim, depois da briga, você quis ficar ali, me fazendo companhia até eu ir dormir, como sempre faz. A menor e melhor parceira do seu papai. Cada segundo ao seu lado foi um presente, um refúgio da escuridão que crescia dentro de mim.
Você é um ser de luz, minha filha, que veio para iluminar a nossa vida. E com certeza iluminará qualquer lugar em que estiver, não tenho dúvidas disso. Todas as pessoas transbordam com sua presença. Seu sorriso tem o poder de dissipar as sombras mais densas e sua risada é como música para os ouvidos.
Nunca se esqueça de quem você é, Melanie LeBlanc. Você é forte, corajosa e cheia de compaixão. Nunca deixe que a escuridão te faça esquecer seus princípios, pois você é a luz que pode guiar outros de volta à esperança.
Agora, você provavelmente já é uma moça crescida, ainda com os olhos azuis de sua mãe e meus traços em seu rosto. Eu daria tudo para estar contigo nesse dia, minha filha. Mas, ao contrário disso, além de deixar você e sua mãe, tive que partir deixando para trás uma dívida antiga para você pagar em meu lugar.
Alguém virá por você, má pétit. Ele virá e não há nada que eu, nem ninguém, possa fazer sobre isso. Eu queria poder te proteger desse acontecimento, mudar seu destino, e me destrói o coração saber que não estarei aqui quando ele te levar. Eu cometi um erro há dezoito anos, quando você ainda era recém-nascida, Mel, e não posso reverter isso.
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O circo do horror
HorrorAs cortinas se abrirão, revelando um espetáculo de terror que retornará para assombrar suas noites. Presos em uma prisão fantasma e sobrevivendo a um prazeroso pesadelo sem fim, um intrigante mágico, conhecido como Lord Price, comanda o assustador e...