Bem-vinda ao circo do horror

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29 de setembro.

Seus olhos se abriram, sentindo a luz forte das tochas iluminar suas íris ainda embaçadas. Ela se levantou lentamente, sentindo uma dor intensa na cabeça. Gemeu baixinho pelo incômodo e, por um instante, sua visão se fixou nas suas vestes. Ela usava um vestido desconhecido e limpo, algo que nunca tinha visto antes. Olhou ao redor e nada era familiar: nem o sofá preto onde estava deitada, nem as bancadas com espelhos iluminados. A única coisa vagamente familiar eram as cortinas, grandes e grossas de veludo vermelho, caídas perfeitamente, como em uma tenda.

Sua memória estava fraca. Lembrava-se vagamente de ter entrado naquele circo desconhecido, e depois, apenas escuridão. Mas, no meio das poucas lembranças, um rosto e um nome surgiram em sua mente: Stacy.

Levantou-se com desespero e a tontura a atingiu repentinamente. Sua respiração se acelerou. Engoliu em seco enquanto olhava ao redor, sem saber o que fazer ou para onde ir. Sabia que ainda estava naquele circo, era óbvio, mas não fazia ideia de onde exatamente.

Além do sofá em que estava, havia outro menor em frente, acompanhado de uma pequena mesa com cigarros, um jogo estranho e pirulitos em cima. Um copo de bebida, com gelo ainda não derretido, parecia ter sido recentemente enchido.

Passou-lhe pela cabeça que alguém estava ali à sua espera, o que significava que logo voltaria. E ela não era louca o suficiente para desejar descobrir quem ou o que a vigiava.

Saiu da sala rapidamente. Olhou ao redor para se certificar de que não havia ninguém e, ao perceber que o caminho estava livre, correu. Seguiu uma direção completamente aleatória, entre panos vermelhos, como se todo o lugar fosse um labirinto de tendas. E definitivamente era.

Olhava para trás a todo instante, sentindo seu corpo tremer. Mesmo correndo o risco de alguém escutar, tentou:

— Stacy? — murmurou. Já tinha desistido de correr e agora caminhava lentamente. — Mon ami? — indagou. Viu uma sombra atrás de um dos panos e se aproximou, puxando-o. — Anastasia? — choramingou.

Olhou diretamente para onde a sombra estava e, de imediato, seu coração disparou ao ver uma mulher se virar em sua direção, coberta de um líquido vermelho com um cheiro fortíssimo.

— Estás perdida, niña? — perguntou, indiferente.

Antes que qualquer outro movimento ou palavra fosse possível, um grito alto e agudo saiu da boca da garota, e em um ato rápido e inconsciente, correu dali. Novamente, correu entre tendas.

— É um sonho — murmurou baixo. O vermelho já entrava em sua mente como um êxtase, aumentando a dor em sua cabeça e fazendo-a aceitar que a única saída era desistir.

Assim que seu corpo insistiu em parar, seus olhos se depararam com outra saída. A saída do labirinto de tendas.

O som do vento soou em seus ouvidos assim que seus pés tocaram o lado de fora. Respirou fundo e sorriu fracamente, mas logo desfez o sorriso. Estava no meio do nada, rodeada por árvores e mato.

— Impossible — sussurrou para si mesma. Um grito feminino ecoou distante. — Stacy? — gritou de volta. Mesmo com tudo tão escuro, correu novamente, seguindo a voz desconhecida.

Alguns metros depois, algo a impediu de continuar. Risadas. Pedaços de corpos espalhados pelo chão, espirrando sangue por todos os lados.

Seus olhos lacrimejaram instantaneamente e o desespero tomou conta de todo seu ser ao ver de onde vinham as risadas.

Dois palhaços seguravam um dos corpos, arrancando pedaços e os comendo.

Ela pensou em gritar, mas algo lhe dizia que, se o fizesse, também se tornaria um banquete. Levou a mão à boca, controlando sua respiração, e se afastou em silêncio.

O circo do horrorOnde histórias criam vida. Descubra agora