O Grande Mágico

24 0 0
                                    

27 de outubro

Price andava à frente, uma tocha em mãos iluminando o caminho desconhecido, enquanto Melanie o seguia em silêncio.

Após passarem por toda a extensão do circo, adentraram na floresta escura e fria. O som de animais selvagens ecoava entre as grandes árvores, e o vento gélido se chocava contra seus corpos intensamente. Em um movimento em falso, a francesa caiu de joelhos no chão, suas pernas se chocando contra galhos espalhados pelo caminho. Ela soltou um grunhido baixo ao sentir a ardência em suas pernas.

O homem parou instantaneamente e, sem hesitar, voltou para ajudá-la. Ele auxiliou a garota a se levantar e, em um movimento rápido, juntou sua mão fria à mão quente de Melanie, para conduzi-la.

Não havia como negar o sentimento de Melanie em denominar aquele homem um monstro. Um demônio na terra que a condenara e obrigara a viver contra sua vontade em seu mundo infernal. Entretanto, naquele instante, no meio daquele matagal sem fim, ela sentiu-se segura com o toque álgido que a guiava.

Mais alguns metros e Price desfez o entrelaço de suas mãos. A trilha se finalizou e a lua iluminou um grande espaço aberto. Melanie abriu e fechou os olhos repetidamente em busca de ver nitidamente o que havia logo à frente, por conta da neblina acinzentada que dificultava sua visão.

— Onde estamos? — perguntou em tom baixo, mas audível para o homem.

A luz da lua não era tão forte, todavia era possível enxergar. Após toda a extensão da neblina sumir em uma fração de segundos, uma grande estrutura em pedaços se revelou no meio daquela extensa floresta. Visivelmente, aquela não era uma estrutura qualquer, mas sim de um palco incendiado.

— Estamos no início. — Jason começou a contar, andando em direção aos restos. — No meio dessa floresta que tudo começou, o primeiro Freakshow. Meu pai, James Price, e Martin Collins, pai de Ryan, o construíram. Na época, era apenas uma tenda pequena com um espaço razoável que atraía algumas dúzias de olhares curiosos. — Parou de se mover próximo ao que parecia ser os restos do pequeno palco. Melanie observava em silêncio. — Aqui foi onde eu nasci, dei meus primeiros passos, me criei e me tornei o que sou. E também onde eu o vi pela última vez. O vi queimar e de Grande Mágico se tornar pó. Foi aqui, Melanie LeBlanc, que o pai de Ryan Collins traiu o meu e o queimou vivo, junto de nosso lar.

O som que vinha dentre as árvores soou mais alto e violento do que nunca, como se acompanhasse a soberania de suas palavras. Um vento impetuoso bateu em seus corpos e espalhou no ar as cinzas que ainda restavam naquele lugar esquecido.

— Tudo isso... — virou-se para Melanie e apontou ao seu redor. — Por um amor não correspondido. Amor... Uma maldição. Uma maldita maldição! A lealdade de dois homens corrompida e destruída por algo tão fútil. Algo que não existe. Você diz que mágica não é real, mas está errada. O amor que não é real. Isso sim é uma ilusão.

— Do que está falando? — arriscou perguntar, se aproximando aos poucos.

— Ela foi a perdição de suas almas. Uma mera mulher comum, que criou uma rivalidade entre dois grandes homens por anos. No começo eu não entendia, como poderia? Era jovem e imaturo. Mas eu entendo agora. Ela foi a principal culpada. — esclareceu ao apontar em direção à garota. Melanie criou uma expressão quase assustada, sem entender uma só palavra. Price se aproximou em passos rápidos, porém torturantes. Chegou próximo ao corpo de Melanie e estendeu o braço alcançando o colar de rubi vermelho. — Por ela.

O circo do horrorOnde histórias criam vida. Descubra agora