12 de janeiro
Naquela manhã, Melanie acordou antes do primeiro raio de sol. Ainda estava tudo escuro e cinza quando olhou pela janela do seu trailer, mas logo percebeu que no meio da floresta ao leste, o nascer do sol já dava seus primeiros vestígios.
Ela suspirou aliviada ao perceber que naquela manhã não sentia nada de diferente. Não sentia seu estômago revirar, muito menos sua cabeça tontear. Esse era o melhor sinal que seu corpo poderia dar, confortando todos os pensamentos ruins que teve na noite passada.
Melanie não tinha ido ver o mágico na noite anterior. Mesmo após minutos incontáveis em frente ao trailer dele, ela agradeceu por ninguém tê-la visto por ali, muito menos ele. Pois, logo após os minutos que passaram, ela caminhou até seu quarto e se forçou a dormir. Em vão, certamente. Em um só dia sua mente se inundou em um mar de perguntas. Novamente, ela se sentia perdida e vazia num mistério psicológico entre quem estaria falando a verdade; seu falecido pai ou a malabarista macabra.
Após tomar seu banho matinal e se ajeitar, ela saiu de seus aposentos.
Melanie queria evitar vê-lo, pelo menos o máximo de tempo que conseguisse. Mas não podia negar a controvérsia que se encontrava; ao mesmo tempo, queria muito estar com ele. Sentir seu corpo. Seu toque e seus lábios. Aquele sentimento que apavorava sua alma e satisfazia seus desejos. Mas ela tinha que ser forte.
No caminho, Melanie sentiu toda a cor de seu rosto sumir. Suas mãos ficaram suadas e sua garganta seca, e os mesmos sintomas da noite passada a atacaram bruscamente, sem nenhum aviso.
— Não, Melanie, você não... — sussurrou para si mesma, na tentativa de forçar-se a reverter aquela situação e consolar seus pensamentos apurados.
— Melly? — a voz de Roseline a assustou, fazendo-a retomar o controle de seu corpo.
— Rose! — Melanie exclamou.
Ela respirou fundo e se acalmou. Logo depois, colocou um sorriso no rosto, encarando a espanhola.
— Está tudo bem? — Rose questionou, visivelmente preocupada, percebendo a palidez de seu rosto.
— Sim, sim! Foi apenas um mal-estar. — Melanie assegurou, soltando um sorriso fraco. — E com você?
— Tudo ótimo, gracias por perguntar. — Rose deu um sorriso largo. — Onde vai tão cedo?
— Não consegui mais dormir. Decidi dar uma volta pelo vilarejo por conta da falta de sono. — ela disse simplesmente.
— Eu também não consegui mais pegar no sono. Posso te acompanhar? — ainda com um grande sorriso no rosto, Roseline perguntou.
— Claro! Eu vou adorar. — Melanie devolveu o sorriso largo, agradecendo pelo sentimento ruim não ter voltado.
As garotas andaram lado a lado até saírem do circo.
O dia já amanhecia com uma brisa fresca aos arredores. E ali, naquela pequena cidade, o primeiro raio de sol já tirava todos os moradores de suas camas.
Os shows eram abertos apenas à noite, mas de dia, as demais atrações ainda funcionavam. O carrossel, já pela manhã, continha algumas crianças do vilarejo a montar seus cavalos demoníacos. Assim como a roda-gigante, que estava sendo ligada naquele exato instante pelas criaturas de Espada.
Elas andaram por alguns metros trocando singelas conversas. Mesmo já tendo visto outras vezes, Melanie ainda olhava com admiração para aquelas casinhas coloridas no caminho. Lembrando, é claro, de quem tinha se disposto a dar cor para aquela pequena cidade.
Desde a primeira vez que tinha observado aquelas casas, muita coisa tinha mudado. Melanie tinha descoberto que sim, o mágico também sabia ser bondoso. Ou pelo menos era o que ela acreditava. Mas também tinha descoberto muito mais. Ela tinha deixado de o enxergar como uma figura maligna e permitido seu coração acreditar que ele também podia ser bom. Ele era bom. Talvez apenas não conseguisse enxergar. Ele tinha salvado todas aquelas pessoas. Salvo o vilarejo. E todas as criaturas assustadoras do circo. Ele era um salvador de almas condenadas. E pelo jeito, também de cidades abandonadas.
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O circo do horror
HororAs cortinas se abrirão, revelando um espetáculo de terror que retornará para assombrar suas noites. Presos em uma prisão fantasma e sobrevivendo a um prazeroso pesadelo sem fim, um intrigante mágico, conhecido como Lord Price, comanda o assustador e...