Pacto com o diabo

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29 de setembro.

O intenso jogo de olhares incendiava a tenda como se estivessem no meio de um fogo avassalador. O prazer de Price em sentir o medo através dos olhos daquela francesa alimentava as chamas, consumindo-a por dentro. Naquele momento, parecia que só existiam os dois na sala, mesmo com Parker os observando em silêncio.

Segundos agonizantes passaram. Uma batalha entre a dor psicológica e a emocional começou a se desenrolar no corpo de Melanie. Contudo, ela permaneceu de pé, contendo a vontade de chorar, temendo o que poderia acontecer se a fraqueza a dominasse novamente.

— Mandou me chamar? — A voz suave da garota de cabelos encaracolados ecoou na tenda enquanto ela entrava. Seus olhos fixaram-se no homem, mesmo que ele não retribuísse o olhar.

— Sim, mandei.

Ela se aproximou lentamente. Seus olhos se fixaram na outra garota, que agora olhava para o chão.

— É ela? — Nenhuma palavra foi necessária, apenas um aceno da cabeça do homem foi suficiente para um sorriso surgir, doce e sinistro ao mesmo tempo.

— Você sabe o que fazer, Rô. — disse ele por fim.

Sem demora, ainda olhando em direção à francesa, o homem virou-se e, de costas, caminhou em direção à saída, desaparecendo de vista.

Melanie abraçava seu próprio corpo em busca de calor, imersa na confusão que dominava sua mente.

Nesse ponto, Parker também havia deixado a tenda, deixando-as sozinhas.

A garota de cabelos encaracolados ainda observava a outra menina com um sorriso, talvez esperando alguma reação. Em vão, certamente. As lágrimas de Melanie já não caíam mais havia algum tempo, estavam esgotadas, ou talvez apenas aguardavam o momento certo para reaparecer.

— Chica? — ela se aproximou, acenando as mãos em frente ao rosto da francesa. O rosto de Melanie ergueu-se com o chamado. — Como se chama? Eu me chamo Roseline, mas pode me chamar de Rose. Muito prazer. — ela estendeu a mão na expectativa de cumprimentá-la, mas Melanie não moveu um músculo sequer. — Não que importe, claro. — ela sorriu timidamente, recompondo suas mãos. Melanie observava suas expressões em silêncio, desconfiada. — Admito que estou bastante surpresa. — ela observou os traços da garota com bastante atenção. — Você é tão linda, tão jovem. O que fazia em um lugar como este? Não que seja um lugar tão ruim... Eu adoro! Mas mamãe diz que garotas bonitas passam a maior parte do tempo em lugares diferentes deste, e você é, sem dúvidas, a mais bonita que já vi em toda a minha vida!

O silêncio se prolongou após o relato de Roseline.

Melanie refletiu sobre a pergunta e sobre as palavras dela, e agora era ela quem observava os traços da outra.

Roseline tinha cabelos castanhos escuros, brilhantes e encaracolados, que escorriam até quase alcançar seu quadril. Sua pele era bronzeada, e seus olhos, também castanhos escuros, quase não eram visíveis por conta do sorriso em seu rosto, que, mesmo apenas nos lábios, era suficiente para criar covinhas em suas laterais. Ela parecia ser muito jovem, com suas roupas claras e delicadas, seu corpo estruturado de forma pequena e delicada, além da expressão doce que emanava de seu semblante.

Melanie se perguntava como uma garota tão linda e jovem estava em um lugar tão sombrio, malévolo e doentio como aquele.

— Eu não sei. — a francesa sussurrou.

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