Capítulo doze: tombo

4K 382 48
                                    

Recolhi os últimos pratos do balcão e os levei até a pia onde Elisa está lavando a louça. Depois do nosso costumeiro almoço de domingo em família, nós duas geralmente nos juntamos para fazer uma faxina geral na casa enquanto nossa mãe cuida do jardim.

-Você fica com a cozinha e a sala e eu com os quartos?- Perguntei.

-Pode ser.- Respondeu tranquila.- Limparemos o banheiro juntas?

-Claro.- Abri a geladeira e guardei a jarra de suco. Ao fundo escutei a música que está tocando no pequeno aparelho de som posicionado no batente da janela e suspirei pesadamente ao reconhecer a letra.- Está se torturando?

Minha irmã não olhou em minha direção, apenas continuou lavando o copo em sua mão, seus lábios prensados um no outro, formando uma linha fina.

-Você conversou com Ethan?- Ela negou com a cabeça.- E o que você tem em mente? Ficar escutando a música de vocês e se torturando enquanto deixa o menino às cegas sobre o relacionamento de vocês?

-Ele deve saber que nós terminamos. Mesmo que eu não tenha dito para ele, é algo óbvio.

-Não é exatamente algo óbvio.- Me encostei na pia e cruzei os braços.- Você precisa ser madura e ir conversar com ele, deixar as coisas claras.

Elisa me encarou séria.

-Camila, você não entenderia.- Desviou o olhar para as louças novamente.- Não sabe como é ter um alfa, muito menos como é amar um que não é seu. Então não venha me dar sermão sobre como estou lidando com o fim do meu relacionamento.

Não me abalei com suas palavras, minha irmã e eu temos essa relação de falar na cara, sem dó, somos verdadeiras e sinceras uma com a outra. Logicamente essa relação tão aberta às vezes nos rende brigas realmente sérias, e acabamos vivendo literalmente entre tapas e beijos, como a maioria dos irmãos.

Por um momento me senti mal por não poder dizer a ela que estou aprendendo a saber como é ter um alfa.

-Como você está lidando com o fim do seu relacionamento se não teve um encerramento?- Joguei na cara.- Você não chegou no garoto e disse com todas as letras que acabou, não deu nenhuma chance dele ter voz sobre a situação, não tentou escutar ele para saber como tudo aconteceu.

-Por que caralhos você está defendendo ele!?- Largou a esponja dentro da pia com certa raiva e virou o corpo em minha direção, as mãos cheias de espuma.

-Não estou. Ethan é o culpado e não há dúvidas. Ele escondeu de você que havia encontrado o companheiro de alma e entendo isso.- Virei de lado para ficar de frente para ela.- Eu estou tentando ajudar você e não a inocentar ele. Você precisa colocar um ponto final decente, não deixar pontas soltas ou assuntos mal acabados. O quanto antes você bater de frente com a dor e dar um fim, mais rápido você poderá pensar em uma cura. Consegue entender o que quero dizer?

Os olhos da minha irmã encheram-se de lágrimas, mas pude perceber que ela engoliu o nó na garganta e piscou várias vezes para não se deixar chorar. Elisa respirou bem fundo e só então balançou a cabeça em um aceno positivo.

-Você tem razão. Mas eu tenho medo de vê-lo e ter uma recaída e acabar não terminando a porcaria do nosso relacionamento.

-Acredite, na hora você fará o que for melhor para ti. Sua ômega não deixará fazer a escolha errada, não quando acabar sentindo dentro de si que aquele alfa não é o seu como nós duas sabemos que não é.

-Tem certeza que nunca teve um alfa? Você fala com tanta propriedade.

-Muitos livros de romance.- Abri um sorriso tenso.

Mon Cher - ABOOnde histórias criam vida. Descubra agora