capítulo seis: olhos de eucalipto

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"É preciso exigir de cada um o que cada um pode dar."

Antoine de Saint-Exupéry

[Passado/Louis]

Acordo com os raios de sol entrando timidamente pela fresta da janela. Margarida cacareja do topo dos seus pulmões, como um despertador particular. Me levanto ainda sonolento e debulho uma espiga de milho que peguei da propriedade dos Styles.

É inevitável pensar em Harry. Às vezes meus pensamentos me traem e eu me questiono se ele sabe do que aconteceu, e usa essa aproximação para tentar amenizar os danos. Mas, ao mesmo tempo, lembro de sua inocência e percebo que talvez ele não saiba de absolutamente nada.

De qualquer forma, sabendo ou não, eu preciso me afastar.

Caminho até o quintal e jogo o milho para Margarida. A casa está em silêncio e percebo que meu pai não dormiu aqui. Não tenho vontade nenhuma de procurar por ele pelas estradas, e sinto um alívio ao perceber que estou sozinho.

Tomo um banho rápido no chuveiro de serpentina, e agradeço pela água quase escaldante que cai sobre meu corpo cansado e exausto. Ainda sinto os efeitos da surra de Fitz, mas já estou bem melhor. Faço o meu café rapidamente e como dois pedaços de broa de fubá que guardei do prato de quitanda que o Harry me deu. Aprecio cada pedacinho, já que é raro eu ter algo para comer no café da manhã. Me visto e tranco a casa, antes de seguir para a escola.

ㅡ Eu fiquei sabendo o que aconteceu sexta. ㅡ Liam diz ao se aproximar de mim no pátio da escola. ㅡ Já avisei para o meu pai que vou me atrasar, porque vou te acompanhar todos os dias até sua casa.

ㅡ Não precisa, Liam. Eu estou bem.

ㅡ Não. Não está. Eu faço questão. Eu quis quebrar a cara daquele imbecil assim que soube, mas para a sorte dele, ele não veio à aula.

ㅡ Não veio? Por que?

ㅡ Não faço ideia. ㅡ Liam dá de ombros. ㅡ Já procurei ele por todos os cantos. Aquele filho da puta ia ouvir, Louis.

Somos interrompidos quando a diretora, Sra. Clark, se aproxima de nós. Sua presença acarreta vários olhares em nossa direção, e já me preparo para o sermão que com certeza irei levar.

ㅡ Louis, ㅡ ela fiz de forma gentil, para o meu espanto ㅡ será que você pode me acompanhar?

Olho para Liam antes de assentir, e seguir ela até a sala da diretora, sendo acompanhado por uma centena de olhares. Ela indica para a cadeira e eu me sento batucando os dedos ansiosos na calça jeans.

ㅡ Bem, Louis... ㅡ Ela diz ao se sentar. ㅡ Eu vou direto ao ponto para não atrapalhar a sua aula. Recebemos a denúncia que na sexta à tarde você foi surpreendido por Fitz Fagerberg, e mais três garotos ao sair da escola. Iríamos chamar seu responsável para dar continuidade a essa denúncia, mas sabemos das suas condições. Por isso, quero resolver esse assunto com você. Você quer dar continuidade e registrar um processo contra Fitz por agressão? Caso queira saiba que estará amparado por um advogado público que será disponibilizado para você.

Perco a fala e ela me olha como se esperasse uma resposta imediata. Não sei se quero oficializar uma denúncia contra Fitz. Minha moral não é boa nessa cidade, e isso pode ser visto de forma ainda mais negativa.

ㅡ Acho que não, Sra. Clark. Prefiro deixar as coisas como estão.

ㅡ Como preferir, mas saiba, de qualquer forma, que Fitz está suspenso por três dias, e mudaremos ele para a sala B para que não haja mais nenhum atrito entre vocês.

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