capítulo treze: moralidade

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Não me lembro mais qual foi nosso começo. Sei que não começamos pelo começo. Já era amor antes de ser.

Clarisse Lispector

[Passado/Harry]

Pisco os olhos lentamente, ainda sonolento. Ouço o barulho da estrada e dos pássaros tão próximos que sinto estar sonhando. Ouço uma respiração lenta ao meu lado, e me assusto dando um pulo da cama. Me ergo rapidamente e começo a me levantar.

Merda. Merda. Merda.
Eu dormi aqui.

Louis desperta assim que eu me levanto da cama. Ele coça os olhos sonolentos e me olha estreitando os olhos.

ㅡ O que foi?

ㅡ Eu dormi aqui... eu não... eu não podia ter dormido. ㅡ Procuro minhas botas no chão, e as calço rapidamente. ㅡ Meus pais não sabem que eu estou aqui, e já está claro lá fora.

ㅡ Merda. ㅡ Louis murmura e se levanta da cama. ㅡ O que eu posso fazer pra te ajudar?

ㅡ Nada, Will. ㅡ Eu seguro o seu rosto e colo nossas bocas rapidamente. ㅡ Eu dou um jeito. Eu invento uma desculpa. Vai ficar tudo bem.

Ele assente, e abre a porta para mim. Não me importo em olhar para trás, apenas vou para o lado de fora, mas congelo ao ver o pai dele entrando pelo pequeno portão de ferro. Assim que seus olhos pousam em mim, ele me olha com uma cara de nojo explícita. Louis solta um suspiro alto, e aperta a minha cintura, como se me assegurasse que está tudo bem.

ㅡ Ora, ora... o que temos aqui? ㅡ Sua voz embargada pela bebida preenche os meus ouvidos e eu engulo em seco desviando o olhar ㅡ Veja só, se não é a realeza. Você decidiu pegar as putas baratas dessa cidade, Louis?

ㅡ Mark! ㅡ Louis praticamente rosna, e eu me encolho.

Sei que não deveria levar a sério o que o pai dele diz, ainda mais quando está visivelmente bêbado, mas mesmo assim, não deixa de me ofender de alguma forma.

ㅡ O que essa putinha está fazendo no meu terreno? ㅡ Ele vocifera me encarando.

ㅡ Não fale assim com ele. ㅡ Louis aperta ainda mais os dedos na minha cintura. ㅡ Você não tem moral para falar de ninguém dessa cidade.

ㅡ Sai. ㅡ Ele começa a gritar me encarando. ㅡ Sai daqui, raça desgraçada. Sai da minha casa.

Eu me assusto e dou dois passos para trás, mas Louis me segura firme.

ㅡ Cala a porra da sua boca, Mark. Esse terreno não é seu... é da minha mãe, e você não manda em porra nenhuma aqui. ㅡ Ele pega a minha mão e por um instante esqueço de tudo quando ele entrelaça os nosso dedos. ㅡ Vem, Edward...

Abaixo a cabeça e apenas sigo Louis, enquanto passamos por Mark. Tenho medo de que ele me agrida, mas por algum motivo, ele não o faz, e apenas deixa o caminho livre para que passemos. Ouço os seus murmúrios, mas não levanto a cabeça, não até passar pelo pequeno portão de ferro que dá acesso a estrada.

Louis caminha comigo até estarmos a uma distância boa, então, ele pára e se vira para me olhar.

ㅡ Você está bem? ㅡ Ele pergunta baixinho.

ㅡ Estou... não se preocupe.

ㅡ Me desculpe por isso, Edward... eu fico envergonhado com essa situação. Ele está completamente bêbado, e não quero que leve em consideração o que ele disse. E nem aceite os xingamentos. Ele não sabe o que diz. ㅡ Vejo a dor em seus olhos azuis e nego com a cabeça de prontidão, dando a ele um sorriso contido.

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