[03] good and unexpected moments

171 27 18
                                    

Kim Dahyun 

No período de intervalo, uma garoa fininha começou a cair do céu cinzento, regando a terra, bonita e delicada. Eu e as meninas decidimos nos sentar no canto de uma das mesas compridas que havia no refeitório I da Universidade, próximas às janelas horizontais gigantescas que nos dava a visão do campus. O espaço estava cheio, abrigando estudantes que passavam apressados pela porta de entrada dupla, com as mãos sobre a cabeça.

Escutava em segundo plano as conversas das duas, enquanto mexia distraidamente no celular, apagando as milhares de fotos e vídeos que mandavam no grupo (oitenta por cento sendo somente por parte de Chae, que compartilhava qualquer coisa que julgava ser engraçada ou interessante). Até que cheguei nas de semana passada e, entre elas, estavam as que tirei na sexta: três com Chaeyoung, das quais eu estava horrorosa em todas elas, e uma na calçada do lado de fora. Nessa última, conseguia ver minhas pernas esticadas no chão e, no canto direito inferior, uma pequena parte de um All Star branco. 

Com isso, minha mente viajou de volta àquela noite de sexta, em Momo, em sua imagem ao meu lado, encostadas no Jeep. E depois os pensamentos pularam no espaço tempo até o grupo, à mais de uma semana atrás, quando a vi pela última vez. 

Não contei às meninas que tinha ido até lá na segunda, não mencionei que tinha visto Momo e que acabei levando uma ignorada explícita. Também não disse nada sobre ter voltado lá na quinta. E sim, eu ainda tive a disposição de aparecer lá outra vez. 

Mais de uma semana já tinha se passado, e não estive pensado muito nisso, pois sabia que não voltaria naquele lugar, ou a veria novamente, mesmo que hoje seja quinta e eu cogitasse por meio segundo a ideia de ir. Esse meio segundo era preenchido com meu desejo de apenas saber o que eu tinha feito de errado, se é que tinha feito algo, para que Momo simplesmente passasse por mim como uma estranha passar por outra na rua. 

Somos duas estranhas uma para a outra, mas aquelas quase uma hora e meia deveriam valer de algo, certo? Então, ou a ignorância daquela garota é real, ou eu sou uma idiota por ficar pensando nisso. Talvez as duas opções? 

Mas o evento me incomodou no dia, como me incomodava agora que pensava nele. Ninguém gosta de ser ignorado, caramba. 

Deixei a foto na galeria e entrei no Instagram, indo até a barra de pesquisas e digitando "Momo". Observei as fotos enquanto deslizava a tela para baixo, procurando reconhecer a sua entre tantas outras. Não devia ter muitas Momo 's por aí. E então a achei, em uma foto de perfil preta e branca, com seu rosto meio virado para o lado e os olhos ignorando a câmera que capturava sua face. 

Na biografia só havia uma data, nada mais que aqueles poucos números. Os destaques, por outro lado, tinham no mínimo dezenas de fotos, todas com pratos incrivelmente elegantes, montados da forma mais minuciosa que meus olhos já viram. Depois vinham suas fotos no feed, e passei elas até chegar na última, percebendo que Momo não sorria em nenhuma. Quase nenhuma. Digo, não daqueles sorrisos realmente contagiantes e espontâneos. 

Havia uma foto sua com uma garota loira ao seu lado, essa que sorria largo e resplandecente, a abraçando forte, com a bochecha colada na de Momo. E bom, apenas nessa foto, ela também sorria, discretamente, como se seu sorriso fosse contar um segredo e não pudesse mostrá-lo completamente. Parecia feliz ali. 

Estou viajando muito?

— tá olhando o que aí, tão concentrada? — a voz de Chaeyoung me fez levantar a cabeça. 

— nada, só… 

Ela se empoleirou em meu ombro, virando minha mão para conseguir ver. 

— ah, aquela garota! Como chama… é… — estalou os dedos. 

Living in Oblivion - DahMoOnde histórias criam vida. Descubra agora