A aposta

01

A Aposta — Prólogo — capítulo 1

Hatsu Ominaga não podia acreditar em sua sorte. De todas as dezenas de candidatos para o estágio na Seigun e Associação de Advogados que era o maior escritório de advocacia, não só daquela cidade como do estado, ele tinha sido o escolhido.
O

pequeno rapaz ruivo no auge dos seus vinte e três anos estava no final do curso de advocacia e, apesar do seu jeito calmo e doce, muitos diriam até um pouco inocente para a profissão que ele escolheu, não restavam dúvidas para ninguém que ele era altamente competente em tudo que fazia, prova disso era o estágio conseguido na Seigun que começaria dali um mês.
- Ei Hatsu, está animado hoje? – Perguntou um dos companheiros de classe e melhor amigo de Hatsu, aproximando-se da mesa do refeitório da faculdade onde o Ominaga estava, sentando-se com um sorriso no rosto. Drew era o melhor amigo do rapaz ruivo, mesmo que ambos fossem total opostos. O homem loiro de olhos verdes era sagaz, desconfiado, sendo muitas vezes até maldoso com as pessoas a sua volta, o que afastava quase todo mundo, enquanto Hatsu era bondoso, alegre e não via maldade em ninguém; aceitava todos que se aproximavam dele com naturalidade, mas apesar da incrível diferença de personalidade e até de caráter eles se davam muito bem. – Soube que o professor te escolheu para o estágio na Seigun.
- Fala baixo, Drew, não quero que todos da universidade fiquem sabendo. – Falou Hatsu com certa timidez, não gostava de chamar atenção, mas sempre que estava com o amigo acabava sendo o centro das atenções, já que o loiro era sempre expansivo, fazendo questão de falar alto e claro. – Mas é verdade, vou poder estagiar na Seigun e vou poder ajudar nos casos do professor, finalmente vou poder mostrar para minha avó que escolhi a carreira certa para mim.
Drew não ousou tecer nenhum comentário sobre o assunto. Conhecia bem a avó de Hatsu e, em alguns momentos, chegou até a concordar com a mulher. Não achava que Hatsu, com a personalidade que tinha, seria um bom advogado. O rapaz era inegavelmente inteligente, mas aquela pureza e falta de malícia dele não eram apropriadas para um advogado, ainda mais naquela cidade onde a lei era contraria as pessoas como seu amigo. Aos Tal Neo.
- Parabéns Hatsu, mas não precisa ser tímido, todos no Campus já sabem que você conseguiu a vaga. – Entrou na conversa outro amigo do rapaz antes que Drew pudesse falar o que pensava. O rapaz se sentou junto aos amigos a mesa do refeitório e, sem que Hatsu se desse conta, logo sua mesa estava lotada de pessoas, ou melhor, de homens. Todos os seus amigos tanto na faculdade como em toda sua vida sempre foram homens, nunca mulheres, mas o menino não se importava tanto com o fato. Sempre se sentia tímido com as mulheres mesmo e, no caso dele, não precisa de uma mulher para constituir família, afinal, era um Tal Neo. No entanto, seu objetivo atual não era constituir família, mas sim ser um advogado de sucesso.
Enquanto seus amigos se divertiam em sua mesa, o ruivo se pôs a sonhar novamente com seu estágio. Ainda faltava muito tempo para o começo de seu sonho se tornar realidade, mas mesmo assim estava feliz, porém seus pensamentos alegres foram cortados pela conversa da mesa ao lado.
- Aposto que foi pela aparência dele. Com essa carinha de bebê até eu conseguiria um estágio na Seigun. – Ele ouvia uma das meninas da mesa ao lado cochichando. Ele sabia da sua beleza, cabelos ruivos, pele branca e perfeita, corpo pequeno para a idade, mas ainda sim, belo e delicado, fora os olhos cor de rubi que só deixam o quadro que era a sua aparência ainda mais bela, mas ouvindo aquela conversa ele se sentiu mal quanto a sua aparência, se fosse feio ninguém nunca duvidaria da sua competência.
- Ele deve ter dormido com um o professor... Isso sim. – Falou uma das meninas rindo enquanto as outras concordavam e também riam. – Você já viu como os homens ficam em volta dele como se ele fosse uma donzela em constante perigo?
Era verdade o fato que homens ficavam a sua volta, inclusive ele já havia ficado com alguns desses homens, mas ele não era do tipo que dormia com qualquer um, muito menos escolhia um caminho fácil para subir na vida. Hatsu, que apesar de tímido, nunca aceitaria que sua moral e integridade fossem maculada daquele jeito
estava a ponto de levantar-se e se defender, mas teve seu gesto interrompido por Drew que de maneira fria se levantou, aproximando-se da mesa das mulheres.
- Vocês estão é com inveja da beleza e competência dele, pois saibam que ao contrário de vocês, Hatsu não precisa dar para conseguir um estágio ou um bom emprego, suas vadias mal amadas.
- Drew... Não...
- É isso mesmo... – Mas um dos amigos de Hatsu se levantou da mesa para brigar com as meninas e logo todos estavam discutindo. O mal dos seus amigos era que sempre o tratavam como se não soubesse se defender e muitas vezes o tratavam como uma mulher, o que o aborrecia muito.
- Parem... Parem com isso... Eu não preciso ser defendido por ninguém. – Falou o rapaz aborrecido, fazendo todos se calarem. – Para a informação de vocês eu não dormi com ninguém para conseguir o estágio, sou competente no que faço e apesar de poder provar o que digo, não acho que valha a pena. A opinião de vocês não me interessa. – Disse o rapaz virando as costas e saindo. Odiava falar assim com as pessoas, mas na profissão que escolhera sabia que tinha que tomar as rédeas da sua vida, de poder se defender sem a ajuda de ninguém ou nunca conseguiria alcançar seus objetivos.
Em passos rápidos o ruivo saiu do refeitório, indo em direção à sala e mesmo que não percebesse foi seguido por vários pares de olhares cobiçosos e alguns protetores, como os de Drew. Assim que entrou na sala, deu de cara com o professor que o escolheu para o estágio.
- Oh! Hatsu estava procurando por você mesmo.
- Por mim? – perguntou o ruivo arregalando um pouco os olhos. Será que o professor teria mudado de ideia quanto à escolha para o estágio? Pensou Hatsu, temeroso.
- Sim, venha comigo até a sala dos professores sim?! – Falou o jovem professor que também era um dos melhores e mais requisitados advogados da grande empresa Seigun.
Caminharam silenciosamente até a sala dos professores, onde entraram ainda em silencio. Tenso, o Ominaga observou seu professor se instalar atrás de sua mesa, indicando uma cadeira em frente a ele para que se sentasse.
- Hatsu... Gostaria que começasse o seu estágio na segunda ao invés de só mês que vem.
- Como? Quero dizer... Por quê? – Perguntou o ruivo, soltando um suspiro de alivio.
- Acabaram de me ligar do escritório da Seigun e me propuseram um grande caso e, é claro que aceitei, acho que seria muito importante para sua carreira que estivesse ao meu lado nesse caso.
- Do que se trata? – Perguntou o ruivo tentando esconder a animação da proposta na voz, mas seus olhos brilhantes denunciavam toda sua alegria e expectativa.
- Não te posso falar muito sobre o caso, não por enquanto. – Falou o professor, vendo a felicidade do rapaz. Achava que Hatsu tinha um futuro promissor e brilhante como advogado ou seria um fracasso total, mas ele sentia que esse grande caso que pegaria e que queria a ajuda do futuro advogado decidiria como seria o futuro do rapaz na advocacia. - Só terá os detalhes quando for oficialmente o meu assistente na segunda, mas... Já ouviu falar de Dante Nostrade?
Se Hatsu já tinha ouvido falar de Dante Nostrade? O professor só podia estar de brincadeira. Todo mundo naquela cidade, naquele estado inteiro e se bobear no país já tinha ouvido falar daquele homem.
Dante era o suposto chefe de uma das maiores organizações criminosas daquela cidade, que em sua maioria era corrupta.
- Claro que já ouvi. – Respondeu Hatsu em expectativa.
- Pois nosso escritório foi contratado para defendê-lo.
- Quais as acusações? – Perguntou o rapaz como um bom profissional, mesmo que não estivesse mais tão animado com o caso. Pelo que ele sabia, Dante era um mau caráter, bandido de verdade. Diziam que ele era o maior traficante do estado e não media esforços para consegui o que queria. Ele matava, roubava e aterrorizava sem remorso.
- Como eu disse, não posso adiantar os fatos agora. Terá mais detalhes quando for meu assistente oficial, então... Aceita adiantar o estágio? Participação nesse processo será muito importante para sua carreira, a Seigun ganhando ou perdendo o caso.
- Claro que aceito. – Murmurou o rapaz, não precisava nem pensar. Apesar de defender um bandido daqueles ser contra seus princípios, ele tinha que pensar em sua carreira. Tinha seus próprios objetivos futuros, como mudar a lei sobre os Tal Neo naquela cidade e para isso tinha que se tornar um advogado. Não podia recusar uma oportunidade daquelas e aquela era uma chance única, mesmo que no seu íntimo estivesse insatisfeito por ter que lidar com uma pessoa tão má caráter como Dante.
- Então se prepare para o início do estágio e o início da sua grande carreira como advogado. – Falou o professor com um sorriso bondoso.
- Sim senhor. – Respondeu o rapaz se levantando e saindo, pensando que na segunda ia conhecer Dante Nostrade, imaginando que tipo de homem monstruoso ele seria, tanto por dentro como por fora.