05

1 0 0
                                    

A Aposta — Capítulo 4 — capítulo 5

Hatsu engoliu em seco, abrindo e fechando a boca de maneira desconfortável, enquanto piscava freneticamente os olhos, se sentindo incomodado com o olhar que Dante Nostrade lhe mostrava. Um olhar que exigia resposta imediata para a proposta feita.
U

ma aposta com aquele homem. Pensou o ruivo sentindo sua intuição gritar para ele se levantar e sair o mais depressa possível daquele lugar, ele nem sabia do que se tratava aquilo tudo, mas já estava sentindo vontade de fugir, mas será que realmente tinha algum problema em fazer uma aposta com Dante? Porém ele tinha que saber do que se tratava para se decidir.
Enquanto Hatsu pensava Dante observava as expressões do rapaz com humor, vendo satisfeito que conseguia ler cada uma delas, desde a dúvida, o medo à incerteza, tudo, até mesmo quando o rapaz chegou a uma conclusão. Na verdade ele parecia conseguir ver a mente daquele rapaz trabalhando.
– Sabe minha avó sempre me diz que não se deve fazer uma aposta a menos que você tenha pelo menos 50% de chance de ganhá-la.
– Mulher muito esperta a sua avó. – Falou o Nostrade. – Mas eu penso diferente, eu gosto de arriscar mesmo que as chances sejam mínimas.
– Eu prefiro seguir os conselhos da minha avó. Então... Já sei o que vou ganhar se vier a vencer a tal aposta, mas o que você ganha?
– Apenas um abraço estilo Nostrade, sabe? – Disse Dante com um sorriso. - Para aprofundar a nossa relação.
Que relação? Pensou o ruivo com ironia, mas mesmo assim corando ao mesmo tempo em que analisava a questão. O fato era: se aceitasse a aposta ganharia muito e se perdesse não perderia nada, uma aposta razoável, mas antes tinha que saber quais eram suas chances de ganhar.
– E... Como seria essa aposta?
– Você tem uma moeda de um dólar? – Perguntou o moreno descruzando os braços enquanto olhava de maneira intensa para o futuro advogado a sua frente.
–Sim, na minha pasta.
– Então será um jogo de cara e coroa. Você escolhe um lado e eu outro, e então eu jogo a moeda, se cair do lado que escolheu você ganha e se cair do lado que eu escolhi eu ganho, os prêmios você já sabe, você ganha à história sobre o brasão da família e eu um abraço.
Uma aposta de sorte, mas sim ele ainda tinha 50% de chances de vencer assim como Dante, e com um sorriso concordou com a aposta. Vasculhando sua pasta em cima da mesa ele pegou uma moeda entregando ao moreno.
– Você primeiro, escolha um lado. – Ditou Dante.
– Cara. – Falou Hatsu confiante de sua sorte.
– Então me sobra coroa. – Falou Dante jogando a moeda para o auto e a pegando quando caiu, espalmando a mão sobre a mesa e a retirando lentamente, deixando a moeda aparecer assim como o vencedor.
Hatsu ficou um pouco pálido ao ver que tinha saído coroa, mas dando um sorriso sem graça se levantou hesitante se aproximando do maior, que com um sorriso triunfante agarrou o braço do ruivo com agilidade e o puxou contra si, forçando Hatsu a sentar-se em seu colo enquanto estreitava o corpo pequeno em seus braços. O ruivo corou fortemente com o corpo totalmente rígido e sem reação, sentindo perturbado o nariz de o moreno deslizar por seu pescoço, aspirando seu cheiro, deixando-o todo arrepiado, fazendo um curto e lento percurso até chegar a sua orelha e de forma sensual sussurrar que o ruivo merecia um prêmio.
– Mas eu perdi. – Murmurou Hatsu incerto, tentando se soltar.
– Eu sei, mas eu ganhei mais do que esperava e se você ficar assim mais um tempo eu te conto tudo que quer saber.
Hatsu concordou, sentindo Dante agarrar sua cintura e como se ele nada pesasse o ergueu e virou lhe deixando de frente para mesa e mostrando a imagem do brasão que o menino tinha imprimido e trazido para o encontro.
– Primeiro vou te explicar o motivo da escolha do desenho de lobos para o brasão. Bem, o motivo é que lobos andam em matilha, ou seja, em grupos, como verdadeira família e lobos também sempre seguem o seu líder sem qualquer hesitação ou rejeição, além de serem inteligentes, bons caçadores e saberem o momento exato para atacar e é exatamente assim como toda a família Nostrade age.
Hatsu ouvia com atenção gravando cada palavra em sua mente.
– Agora vou te explicar sobre os lobos da imagem. Esse com o coelho na boca, o que está mais na frente representa o líder supremo da família. Você deve saber que a família Nostrade é dividida em ramificações, não é? Mas o comando, as ordens para as outras ramificações vêm do líder da primeira ramificação.
– E o que significa o coelho na boca dele?- Perguntou Hatsu com um sorriso, altamente feliz por conseguir o que queria.
Dante sorriu maldosamente antes de responder, fazendo questão de olhar nos olhos vermelhos do outro.
– Que o líder é um caçador. Um assassino perfeito. Os outros lobos são a representação de contrabando e estelionato.
– O quê? – Gritou Hatsu histérico tentando se levantar, mas sendo preso pelos braços que agarraram sua cintura enquanto o moreno gargalhava, colocando o queixo sobre os ombros trêmulos de Hatsu.
– Brincadeira, brincadeira. Na verdade os três lobos significam força, persistência e camuflagem. – Disse Dante deixando o ruivo mais calmo.
– Eu não gostei da brincadeira. – Falou Hatsu emburrado.
– Que isso te sirva de lição Hatsu, como advogado chegará o dia em que você vai ter que defender alguém que não seja inocente e então o que vai fazer? Vai ter um ataque como esse? E se eu fosse culpado de tudo que estou sendo acusado, o que você faria?
– Mas você não é culpado. – Foi tudo que o ruivo conseguiu dizer sem coragem de encarar o moreno.
– Como você tem certeza que não sou culpado?
– Eu sei por que você é como eu. Você é julgado por ser diferente assim como eu sou, por isso eu tenho confiança na sua inocência, nós nos entendemos e por isso eu quero ser seu amigo.
Hatsu sentiu que Dante largava sua cintura e na mesma hora se levantou, encarando o moreno que estava sério demais.
– Você tem certeza que quer isso? Ser meu amigo? – Perguntou Dante.
– Sim. – Disse sem hesitações o ruivo, encarando os olhos dourados do moreno que brilhavam com algo que ele não sabia definir. – Não quero ser apenas o assistente do seu advogado, também quero ser seu amigo.
Dante sorriu, não gargalhou erguendo umas das mãos e acariciando o rosto de Hatsu.
– Você é mesmo muito inocente, não é pequeno Little Red Riding Hood?
– Você está debochando de mim? – Perguntou o rapaz magoado, se afastando do toque de Dante bruscamente. – E não me chame assim, meu namorado não gosta.
– Eu não estava debochando de você, Hatsu. – Falou o Nostrade sério. – Só estava tentando ser atencioso e quanto ao seu namorado, pode mandá-lo vir conversar comigo se não gosta do apelido carinhoso que te dei, afinal ele vai ter que aprender a lidar com isso já que agora somos amigos, não?
– Desculpe. – Falou Hatsu simplesmente, sentindo-se sem graça e achando que tinha falado de mais, afinal Drew não era bem seu namorado, ele estava mais para amigo de cama, porém, mesmo assim Drew não tinha gostado da possibilidade de outro alguém o chamando daquele jeito. – Acho que está na hora de eu ir.
– Espera. – Falou Dante. - Que tal fazermos uma nova aposta? Se eu vencer você fica um pouco mais e vamos para uma das salas de visita íntima, sabe como é né? Faz tempo que eu não dou uma, estou precisando aliviar a tensão e você é tão bonito e com esse corpo pequeno e rostinho de menina.
– Seu... Seu pervertido! – Gritou Hatsu. – E eu não tenho rosto de menina.
– Hahahah! Calma meu doce Little Red Riding Hood, estava apenas brincando, não queria que você fosse embora chateado comigo, mas falando sério, eu chamei o Oliver aqui, pois queria que ele entregasse algo ao meu pai.
– O quê?
Dante tirou um envelope do bolso e entregou a Hatsu.
– Preciso que isso seja entregue até amanhã, então você mesmo vai ter que fazer já que Campbell já está com os meus pais e você não deve encontrá-lo até amanhã, mas não se preocupe que eles te receberão bem, minha mãe Hysteria vai te adorar, queria estar lá para ver.
Hatsu concordou e mesmo confuso prometeu que iria entregar a carta. Pegou endereço e quando saiu do presídio pegou o ônibus, e foi direto para a Seigun onde ficou sabendo que Oliver ainda não tinha voltado da reunião, tentou ligar também para o professor, mas o telefone dava fora de área então ele apenas deixou uma mensagem com a esperança de poder entregar o envelope a Oliver, mas se não desse ele cumpriria a promessa feita a Dante e iria ele mesmo a casa da família Nostrade. Aproveitou que estava na Seigun para pegar seu primeiro pagamento da semana. Como só teria as últimas aulas na faculdade ele resolveu cabular e foi para casa onde deu dinheiro para avó ir jogar com amigas.
Mais tarde quando as aulas na faculdade já tinham terminado, ele ligou para Drew e o convidou para ir a sua casa.
– Aconteceu alguma coisa? – Perguntou o loiro quando chegou.
– Não, nada, eu só queria te ver. – Respondeu Hatsu um pouco sem graça, desviando o olhar para a garrafa que o loiro tinha em mãos.
– Uísque? – Perguntou Hatsu levantando as sobrancelhas. – Está querendo me embebedar?
– Sabe como é... Advogados têm que saber beber né?
– Sei. Vamos para varanda? Está muito calor para ficar dentro de casa. – Falou Hatsu com humor.
Drew concordou e passando o braço por cima dos ombros de Hatsu foram para a varanda de trás, onde o loiro se deitou em uma espreguiçadeira e o ruivo se deitou em meio as suas pernas. Drew abriu a garrafa e deu um grande gole passando a mesma para o menino que repetiu o gesto e devolveu a garrafa ao loiro enquanto eles começavam a conversar e sem se dar conta Hatsu estava falando de Dante.
– Dante, Dante, Dante? Agora você só fala desse Dante. – Falou Drew já um pouco alto pela bebida, deixando transparecer seus ciúmes, a garrafa quase vazia balançando em sua mão. – Não me diga que está afim desse homem?
– Não... Não. Eu não gosto de morenos. – Riu alto Hatsu também já bêbado enquanto virava-se entre as penas de Drew para acariciar os cabelos loiros do amigo. – Prefiro loiros lindos, convencidos e irritadinhos como você. – Falou o ruivo antes de beijar o loiro, sendo prontamente retribuído e entre beijos e carícias continuaram bebendo e conversando sem preocupação, afinal nada importava no momento a não ser eles mesmos.
**********
Dante estava em sua pequena cela individual, não era para ele ter nenhuma regalia, estando em um presídio como aquele, porém ele detinha em sua cela uma TV, um rádio e um pequeno microondas, além de um pequeno celular que ele mantinha escondido, coisa que não era o caso agora.
– Não mãe. Não estou passando fome. – Respondeu Dante com tranquilidade. Apesar de Hysteria, mãe de Dante, ser tão perigosa quanto toda a família Nostrade, ela ainda era mãe e preservava muito a segurança e bem estar dos filhos por maiores que eles sejam e Dante, como caçula, era o mais mimado pela mulher que estava histérica com a prisão do filho.
– Mas querido, eu não gostei daquele seu advogado que está aqui em casa. Tem certeza que ele vai te tirar daí? Ele não me parece tão competente assim. – Disse a mulher e mesmo que não pudesse vê-la o moreno imaginou a bela mãe sentada no sofá da sala com seus negros, brilhantes e espessos cabelos negros espalhados pelos ombros, os olhos azuis brilhando de maneira contrariada, enquanto vestida em suas roupas de grife e com maquiagem perfeita ela batia o pé contra o chão, fazendo biquinho enquanto falava. Dante acabou gargalhando ao imaginar. Conhecia bem a sua mãe e sabia que quando ela cismava com alguma coisa não voltava atrás e pelo jeito seu alvo era Oliver Campbell.
– Oliver tende a ser confiante demais e por isso é meio prepotente, mas ele é o melhor, mãe, pode ficar tranquila, tenho certeza que em menos de uma semana devo estar saindo daqui.
– Que bom querido. – Respondeu a morena, mas Dante ainda pôde sentir um pingo de desconfiança na voz da mulher. – Mãe, tenho uma coisa para te pedir, amanhã o assistente do meu advogado deve passar aí em casa para entregar uma encomenda para o papai sobre um trabalho pendente que estou impossibilitado de fazer no momento, eu queria que você o recebesse pessoalmente.
– A23? – Perguntou a mulher com orgulho. A23 era o código que eles usavam para assassinato quando não sabiam se a comunicação era segura.
– Sim! – Respondeu Dante com um meio sorriso.
– Vou fazer pessoalmente esse serviço por você, meu bebê, além de receber o tal assistente. Depois devemos nos “livrar” dele?
– Não. – Falou o moreno sério fazendo a mãe ficar curiosa.
– Mesmo? Por quê? – Perguntou Hysteria. - Se ele for tão desagradável quanto aquele Campbell, não sei se consigo me conter.
– Ele não é, Hatsu Ominaga é especial. – Falou o Nostrade e se mãe pudesse ver os olhos luxuriosos do filho teria entendido os motivos do rapaz ser especial. – Mas não se preocupe, pois alguma coisa me diz que você vai gostar muito dele.
– Hummm... Veremos, mas se eu julgá-lo perigoso mandarei alguém cuidar dele. – Falou a mulher querendo ter a última palavra enquanto desligava o telefone.
Quando a mãe desligou, ele rapidamente escondeu o celular em um buraco na parede embaixo da cama, podia ter mordomias, mas celular não era uma delas.
Jogando-se na cama, ele ficou pensando em como aquele ruivo era inocente por acreditar que ele não era culpado. Pegando a moeda que ele não tina devolvido a Hatsu ele ficou brincando de cara e coroa, sendo que ele sempre tirava o lado que queria. Claro ele trapaceava e havia roubado para ganhar de Hatsu também, tudo para conseguir tocar o rapaz. Ah! Ele queria aquele menino tão inocente, porém uma coisa ainda o preocupava, ou melhor, alguém: o suposto namorado do ruivo, mas bem, ele era aquele que adorava desafios, ainda mais os mais difíceis e se livrar do namorado do ruivo seria um jogo muito interessante.
– Hatsu Ominaga, se prepare, pois você vai ser devorado.

A aposta Onde histórias criam vida. Descubra agora