Cap. 27

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Megan

O padre terminou o seu discurso e todos começaram a se despedir, eu apenas fiquei encostada em uma árvore um pouquinho mais longe observando as pessoas se despedirem e perguntarem por mim.

Eu odiava isso. Eu odiava os olhares de pena. Os olhares de culpa. E principalmente os de julgamento.

Eu não fiz nada de errado, então por que caralhos me olham como se eu fosse a culpada? Como se eu tivesse matado minha mãe e meu irmão? As únicas pessoas que me restavam.

-Megan... - ouvi uma voz e levantei a cabeça.

Meus olhos foram de encontro com Loren e Gustavo, eles estavam de mãos dadas, com caras tristes. E a porra dos olhares de dó.

-Eu não preciso das lamentações de vocês dois - falei com um tom de nojo na voz.

-Olha Megan... - Loren começou - nós não estamos aqui pra te julgar, te perguntar o que você vai fazer agora, ou o que aconteceu. Não estamos aqui pra nos lamentamos e falar o quanto a gente sabe que isso é horrível, mas que uma hora passa. A gente tá aqui porque queremos nossa amiga de volta, a menina engraçada, feliz, que zoava de tudo e implicava com as pessoas. A gente tá com saudades de você. Ou melhor. Eu estou com saudades de você.

-A gente se conhece desde criança, nós vamos mesmo jogar tudo aos quatro ventos e deixar as memórias irem embora? - Gustavo perguntou em uma pergunta retórica.

Eu apenas olhei pra eles, eu definitivamente não estou no meu melhor momento pra tomar qualquer decisão agora. Eu só quero chegar em casa e chorar abraçada com as roupas do meu irmão na cama da minha mãe. É pedir de mais?

Desci lentamente meus olhares para a grama, e esse ato foi o suficiente para que os dois entendessem o recado e viessem ao meu encontro, com dois pares de braços me rodeando.

E então, ali, dentro desse abraço quente, eu desabei. Todo o peso que estava nos meus ombros, as lágrimas pesadas em meus olhos. Eu deixei que tudo fosse para fora, chorando feito uma criança.

Os braços deles me apertaram mais e eu chorava de soluçar. Eu não sei direito quanto tempo nós ficamos nesse abraço, mas eu só sei que eu chorei até minha cabeça doer e eu pegar no sono.

(...)

-Eu fico com ela, pode ir com ele - ouvi uma voz.

-Tá bom, se cuida. Já já que tô de volta - outra voz falou.

-Tá bom - houve um silêncio e depois o barulho da porta.

Abri os olhos e encontrei Loren de costas para mim, dobrando minhas roupas. Ela estava com os cabelos presos em um coque solto, um short de academia e um blusão.

-Quem estava aí? - perguntei com a voz sonolenta.

-Julie, ela ficou bastante com você, mas o Leonardo veio buscar ela. Ela não quis ir, mas eu falei pra ela ir. Ela tá tensa depois de todos esses acontecimentos.

-Entendi - me sentei na cama - pera... Como assim "bastante tempo comigo"? Quanto tempo eu dormi?

-Um dia inteiro e mais um pouco. E ainda sim dormindo você chorava - Loren guardou uma última peça de roupa e se sentou na cama aí meu lado - que tal darmos uma volta? Para nos distrairmos? - ela sorri animada.

-Eu... Eu queria muito, mas... Eu, eu não quero sair de casa agora - sorrio culpada.

-Tudo bem - ela acena com a cabeça e sorri docemente.

-Mas você pode sair se você quiser, eu não vejo problema em ficar sozinha - sorrio.

Claro que vejo. Eu tô com um medo constante de alguém invadir aquela porta e matar mais alguém que eu amo. Eu tenho medo de ficar sozinha com meus pensamentos, e ficar louca.

-Não, tudo bem - ela sorri - eu quero ficar aqui. Que tal a gente assistir um filme?

-Pode ser - sorrio fraco.

(...)

Eu dormir logo no começo do filme, mas acabei acordando com algumas batidas na porta. Levantei assustada e já estrando em desespero. De novo não, por favor. Eu imploro.

-Ei, calma - Loren me abraçou - eu chamei o Iam. Tá tudo bem.

-Por que você chamou ele? - me soltei do seu abraço.

-Eu preciso voltar pra casa, e o Gu tá ocupado com os parentes dele. Você sabe como é - ela fez uma careta e eu acenti com a cabeça - beijo, depois eu volto - ela beijou minha testa e levantou.

-Beijo - me deitei se novo no sofá, olhando para a TV.

Iam

Me doía ver a Megan desse jeito, ou melhor, nem ver a Megan, desde o ocorrido, eu nem consegui olhar no rosto dela, ela nem saiu de casa. Só para ir no enterro, mas eu não achei justo eu ir, afinal, eu nem conhecia eles. Mas eu fiquei besta de vontade de ir, mesmo odiando enterros.

Talvez pelo simples fato de ser pela Megan, eu me senti extremamente horrível, a pior pessoa do mundo, como se a culpa fosse minha. Eu sei que não é, mas ainda sim...

Entrei na casa e a vi deitada no sofá assistindo TV, caminhei lentamente até o sofá e parei atrás dele, observando-a.

-Ei - cochichei.

Ela ergueu sua cabeça e olhou na minha direção. Seus olhos tinham olheiras profundas e estavam inchados e vermelhos. Seu rosto estava pálido com marcas de lágrimas nas bochechas.

E pela primeira vez, eu a vi no fundo do poço. E a única coisa que eu quis fazer, foi entrar nesse poço e ficar lá com ela, até que essa dor vá embora.

Seus olhos me olhavam de uma forma cansada e pesada, sem esperança... Sem brilho. Aquela garota encrenqueira, que ia direto na diretoria, arrumava briga até com o vento, zoava minhas roupas e corria pelada pelo meu apartamento, simplesmente... Foi embora.

É como se eu não conhecesse mais a pessoa que está na minha frente. Mas eu juro, que vou fazer de tudo para conhece-la e novo, conhecer cada um dos seus gostos, para poder fazê-la bem.

Levei minha mão até seu rosto, e a coloquei em sua bochecha, fazendo um carinho com o polegar. Seus olhos se fecharam e uma lágrima solitária caiu de sua bochecha.

Eu a sequei e continuei fazendo o carinho. Ela murmurou algo mas eu não entendi, então me debrucei um pouco no sofá e coloquei meu ouvido na frente da sua boca.

-Senta aqui comigo... Por favor - sua voz era um sussurro fraco.

Ela se sentou no sofá e eu passei por cima dele, sentando do seu lado, ela apoiou a cabeça no meu peito e ficou em silêncio enquanto eu acariciava seus cabelos, até senti-lá tremendo e ouvir sua fungada no nariz.

Passei meus braços pela sua cintura, e ali ficamos, durante horas, ela chorando sem parar e eu apenas em silêncio fazendo carinho nela, deixando ela colocar toda a sua dor pra fora.
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Continua...

Oh meus deus, que dó do meu bebê, Anitta faz alguma coisa, pelo amor de Deus.😭😰

O Diretor Onde histórias criam vida. Descubra agora