Era uma tarde muito chuvosa e quase não havia luz do sol. Os postes da cidade estavam acesos e estendiam um tapete pálido através da enxurrada
— Meu Deus, que sensação de morte... - uma mulher aproximou-se da bancada da recepção enquanto tirava sua máscara cirúrgica do rosto e desamarrando os longos cabelos loiros. Lee Siyeon era uma competente cirurgiã cardiovascular e atuava nos maiores hospitais de Seul. Mesmo jovem, suas atividades lhe renderam prêmios e artigos em revistas científicas ao redor do mundo.
— Credo, criatura... Até parece que não foi bem hoje! - respondeu a moça que estava do outro lado da bancada. Handong era enfermeira daquele hospital faziam dois anos. Revezava o trabalho com os estudos de mestrado e, não se sabe como, talvez por convenção da natureza, preferência de Deus, ou pura insanidade, ainda encontrava tempo para ir à alguma festa noturna. — aqui, ó. Preenche esse formulário pra mim. Se for em 5 minutos eu agradeço imensamente.
Siyeon arregalou os olhos assim que pegou a prancheta cheia de papeis da mão da chinesa, que a encarava com uma expressão séria e fria por alguns segundos. Os olhos da loira começaram a se encher de lágrimas no ritmo que seu lábio inferior tremia entreaberto.— Ai.meu.deus, eu to brincando, calma, passou, passou, foi só o susto! — respondeu rapidamente enquanto se levantava e afagava o topo da cabeça da loira. — pode entregar até o final do dia de amanhã. Ainda preciso pegar o relatório do pessoal da anestesia.
— Graças! Eu te amo tanto — Siyeon perdia as forças nas pernas enquanto se segurava nas rebarbas do balcão de mármore, mas, antes mesmo que ela continuasse, a chinesa voltou a falar.
— Maaaaaaaaaaaassss, eu não ficaria tão feliz assim, porque hoje o plantão é seu. — a loira se levantou subitamente fazendo seus joelhos estalarem alto. — Se você for tipo, AGORA, consegue pegar ela na sala.
Sem falar mais nada, a médica saiu correndo pelo corredor, parando no meio do caminho apenas para dar meia volta e voltar ao balcão, puxando os papeis que havia esquecido.
— Agora eu vou. — finalizou, apontando para a mais nova, que só consentiu com a cabeça e um sorriso torto no rosto.De frente para o elevador, Siyeon folheava os papeis que logo teria de entregar e se perguntava quando que sua vida chegou a esse ponto, e se ela teria coragem de continuar. Seu setor consistia em cirurgias de pouco risco, mesmo assim, eram frequentes e a deixavam exausta. Em uma só semana, chegou a fazer cerca de 20 procedimentos.
As portas do elevador se abriram e algumas pessoas saiam pelas laterais. Antes mesmo de conseguir entrar, Lee sentiu a manga de seu jaleco sendo puxado com delicadeza.
— Siyeon, espera! Nosso almoço tá marcado, né? — era uma moça de sorriso meigo, com cabelos castanho escuros e uma feição muito jovial. — eu tava pensando em irmos naquele café que fica no lado da rua de—
— Aham, olha! Eu tenho de ir agora, achei ótima a idéia, me liga quando chegar em casa, beijo, te adoro, tchaaauuuuu~ — metralhou a mais velha, enquanto apertava freneticamente o botão do 26º andar, deixando a residente Lee Gahyeon com uma cara de completa confusão ao ver as portas se fechando.
Talvez, de todo o hospital, a capela e o elevador não tinham cheiro exagerado de éter e, por alguns segundos, podia se respirar um perfume de eucalipto ou qualquer coisa assim. Havia um monitor ali dentro que mostrava as noticias da semana. Siyeon teve seus olhos presos no trailer do Festival de Música de Jeju, que aconteceria dali duas semanas. Uma onda de nostalgia invadiu seu corpo. Quando mais nova, viu um show de convidados internacionais; era uma banda alemã. Vocais pesados e fortes, uma grande presença de palco. Desde aquele dia, se apaixonou por heavy metal. Já pensou em ser Idol, e até fez parte de uma banda na sua época de colégio, porém, a pressão de sua família e, principalmente de sua mãe, em seguir uma carreia de 'prestígio' espancou seus sonhos.
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My Heart Skip a Beat || Suayeon
RomanceLee Siyeon tinha uma vida corrida dentro do hospital e mal lhe sobrava tempo para respirar. Acabava gastando o resto de sua liberdade isolada ou em coisas triviais. Até descobrir que, por ironia do destino, em uma batida de coração tudo poderia fic...