Pássaros pintados

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Garoto perdido não!,
Abandonado,
Com olhos bem aberto,
E o bico sempre fechado,
Dividindo seu espaço,
Mais confortável,
Entre moscas baratas e ratos,
O luar poético,
Também trás o ar gelado,
Garoto usando o sereno de cobertor,
Esquece até o medo da escuridão,
Só não esquece a dor,
Pele escura marcada de realidade,
Cicatrizes tão profundas,
Quanto as placas em nossos mares,
A madrugada é perturbadora,
Mesmo com tudo calado,
Semáforos são como vaga-lumes,
Papelão é seu grande forte,
Resistente a quase tudo,
Menos a chuva forte,
Ele tem a rua toda pra si,
Mas não é uma liberdade feliz,
Já que não tem pra onde ir,
Então prefere desfilar na beira da calçada,
Brincando de equilibrista,
Sem plateia organizada,
Ele brinca,
Se machuca,
Chora e soluça,
Seca o rosto e volta pra luta,
Garoto sem sono,
Sem a quem conversar,
Cansado e solitário,
Mas que sabe cantar,
Aprendeu ouvindo no bar ,
Que revirava lixeira pra se alimentar,
Aliás coitado,
Ele não sabia que mostros iam lá,
Mas foi atacado por um,
Ao entrar no lugar,
Garoto mau sabia se comunicar,
Pois todos ali se entendia entre si,
Menos seu linguajar,
É como se ninguém ouvia ou via ele explicar,
Tentar correr,
Ser pego e apanhar,
Gritar,
Implorar pra parar,
Resmungar de dor,
E depois de um longo tempo se levantar,
Mais um dia menino e se volta a deitar,
Nessa noite não importa,
Com ou sem luar ele só quer descansar,
E quem sabe sonhar.

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