Acordo com dor no pescoço e está escuro aqui. Percebo que estou sentada e tento me levantar, mas minhas mãos estão presas na cadeira por algemas.
A blusa do Estranho ainda está no meu corpo e sinto o cheiro de floresta.Agora sim morremos, ele te deixou sozinha aqui e nós vamos morrer
Começo a me desesperar. Será que ele me largou aqui? Quando foi que fui drogada? Voltei pro hospício? Por que está escuro aqui? Me debato de um lado pro outro até que a cadeira cai no chão e bato a cabeça. A dor é aguda e solto um grito de dor.
Uma porta é aberta e a claridade me cega por alguns instantes
- Puta merda, Coisinha, não posso te deixar sozinho uma hora que você já me arruma problema? - o Estranho reclama e caminha até mim. Ele não nós deixou. - Merda, você está sangrando.
Nós estamos sangrando?_ as vozes perguntam
Ele levanta a cadeira e sinto algo viçoso escorrendo pela minha testa mas não me importo, quero saber por qual razão ele me amarrou e me largou sozinha aqui
- Onde você estava? - pergunto séria
- Não te interessa - ele responde me desamarrando - Não fuja, Coisinha.
- Por isso você me drogou e me amarrou? Quando você me drogou?
- Você tinha cochilado e foi a chance de te dopar - ele diz abrindo a cortina e entrando em uma porta, acho que deve ser o closet.
Olho ao redor e é um quarto simples. Uma cama de casal pequena no canto, perto da janela, onde da pra ver uma fumaça saindo do outro lado e umas gotas de chuva caindo. Lá fora o tempo parece estar frio, mas aqui dentro é quentinho.
As paredes são claras e a porta é escura, então não posso ver muito do quarto
- Onde estamos? - pergunto
- Londres - ele responde voltando com uma calça moletom cáqui e uma blusa de lã preta - vista isso, vamos comer.
- E é seguro? Você não vai ser preso?
- E desde quando você se importa?
- Desde que não quero voltar para o inferno de onde saí - ele fica me encarando com aqueles olhos coloridos e uma expressão impassível no rosto
- Onde você estava exatamente, Coisinha? Não me lembro de hospitais por aquelas bandas.
- E desde quando você se importa? - repito a sua pergunta e posso ver um brilho de desafio nos seus olhos e a sombra de um sorriso aparecer nos seus lábios
- Foi do hospital psiquiátrico, não foi? - engulo em seco e gelo. Ele vai me levar de volta - Já vi que sim...
Ele vai nos deixar... Você vai ver, Angela, ele vai nos deixar...
Não podemos voltar para aquele lugar, não podemos
Aquele lugar... Nos machuca, muito...
Não podemos...
- Vai me mandar de volta? - pergunto
- Qual o seu diagnóstico, Coisinha?
- Por que quer saber? - pego as roupas da mão dele
- Responda - ele diz me encarando cruzando os braços. Esses braços são fortes, ele vai nos matar usando só a força, provavelmente enquanto dormimos...
- Esquizofrenia e alguns outros
É agora que ele nos deixa... nunca saímos
E agora?
Vamos morrer _ respondo na minha cabeça para as vozes
Não podemos morrer...
Não podemos morrer...
Nós vamos morrer....
Nós vamos morrer...
Pelo menos fugimos, tudo tem um lado bom, estamos livres do inferno...
NÃO! NÓS ESTAMOS PRESOS!
E AGORA?!
- COISINHA!!! - o Estranho grita na minha frente e acabo me assustando saindo do transe
- O que foi?
- Estava falando com voce
-Não ouvi - digo
- Percebi - ele sai do quarto me deixando sozinha - Se arrume logo, temos que ir comer!
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Jack
RomanceO Hospital Psiquiátrico Salvação foi o "lar" de Ângela Petrissione por muito tempo. Abandonada pela mãe com sete anos de idade, finalmente consegue fugir com total sucesso, mas acaba vendo uma cena de horror em sua frente. Ele a vê no momento erra...