Continuo estática no mesmo lugar, segurando a barra de metal com rodinhas que tem o soro, de moletom, desgrenhada, com uma faixa na cabeça, com cara de doida e provavelmente de boca aberta na frente do cara mais lindo que eu já pude comtemplar em toda a minha vida.
Perfeito, simplesmente perfeito.
- É você o chefe que Ethan e Nathalie tanto falam?
- Sim, sou eu - ele responde me encarando com aquele olhar azul que me gela até a espinha - Qual seu nome completo?
-Ângela Petrissione Oswald
- Qual o nome de sua mãe?
- Lydia Petrissione
- Qual o nome do seu pai? - ele pergunta sem expressar quaisquer emoção
- Não sei, nunca cheguei a conhecê-lo - respondo cabisbaixa - Só conheci a minha mãe, senhor. Mas não me lembro muito dela, com o tempo as memórias foram se perdendo. Devo ter conhecido uma irmã de mamãe, mas sequer lembro seu nome ou como era seu rosto - digo sincera sustentando o seu olhar
Começo a sentir tontura e me sento na cama e logo Jack está ao meu lado: -Precisa de ajuda?
- Não, obrigada - tá tudo rodando, e o cheiro desse homem lembra sabonete e mar, que cheiro gostoso, puta merda - você é cheiroso - acabo soltando sem querer e me arrependo na mesma hora por que ele dá meio sorriso e fica me olhando - Quer dizer... não foi isso que eu quis dizer
- Então você está dizendo que eu estou fedendo? - ele pergunta em tom de divertimento
- Não! - digo um pouco mais alto -Sim! Espera, não - estou ficando cada vez mais sem graça e a tontura só aumenta - me perdi. Você me confunde. Mas não você em si, a sua presença, não que eu esteja confusa, é só que estou um perdida - misericórdia, Ângela, cala a boca - já não sei o que estou dizendo. É por que bati a cabeça com força, mas acho que você percebeu pela faixa na cabeça - ele fica me olhando tagarelar sem parar e ele dá um sorriso de canto - enfim, vou calar a boca, senão sai mais asneira
Meu Deus, me desmaia
Meu Deus, me desmaia
Meu Deus me desmaia
- Você é divertida, anjo - ele comenta - Vou pedir para a enfermeira tirar os acessos do seu braço. Aquele guarda-roupas tem algumas peças que devem servir em você. Mandei comprarem, mas não sei se acertei o tamanho - ele fala e coloca as mãos nos bolsos - Você pode ficar a vontade para tomar um banho por si só.
- Eu estou fedendo?
- Não, anjo - ele responde - mas nessa uma semana e meia só te deram banho de esponja, achei que você queria tomar banho sozinha.
- Ah... - mordo o lábio inferior pensativa, abro a boca para dizer mais alguma coisa, mas fecho logo em seguida - obrigada.
- Disponha - ele diz e continua parado no mesmo lugar me encarando por um tempo, como se estivesse vendo minha alma, o que é bem desconcertante, já que não o conheço
- E depois, senhor?
- Depois? - ele hesita por um momento - assim que você sair do quarto, vai ter uma escada, desça e siga o corredor com as pinturas, não tem erro, estarei te esperando na sala de jantar -dessa vez ele fala e sai
Solto o fôlego que nem percebi que estava prendendo.
Esse homem é a perdição em pessoa.
[...]
Depois de um belo banho, pude perceber que a cicatriz não é tão profunda assim, e já está bem melhor. A enfermeira disse que posso ficar sem a faixa se eu quiser.
Me encaro no espelho: o cabelo escuro está comprido, as olheiras menos fundas e alguns ossos estão bem aparente, o que é preocupante já que meu biotipo não é assim. Estou com cara de doente e louca.
Vasculho as gavetas do banheiro e acho uma tesoura, prendo o cabelo num rabo de cavalo baixo e corto. Deixo ele na altura dos ombros. Alguns cachos ficaram mais bonitos e não estão parecendo um esfregão torcido.
Agora minha aparência está um pouco melhor.
Coloco uma calça de flanela xadrez vermelho e preto, uma regata preta, meias e um sapato.
Puxo um pouco da cortina e vejo a paisagem lá fora: muita arvore, mais arvore, mais arvore, algumas luzes acesas de chalés, mais arvores, e a cidade brilhando com a noite bem ao fundo, ah, e mais árvores.
Resolvo descer as escadas e percebo que a casa toda é no mesmo estilo, como se fosse bem antiga.
Antes de começar o corredor, do lado oposto vejo uma janela com um espaço para sentar, e desse lado a vista é mais bonita. Começou a cair alguns flocos de neve e perco a noção do tempo comtemplando essa maravilha.
- Nunca viu neve antes, anjo? - uma voz grossa com cheiro de mar pergunta bem próximo ao meu ouvido.
O que me faz dar um salto e virar pra dar um soco nele por puro reflexo, mas ele facilmente agarra meu punho
- Não se assusta alguém assim - respondo ofegante - ele puxa meu punho mais pra perto dele e o seu cheiro fica mais forte e por um momento esqueço como respirar, até que ficamos bem próximos, mas sem nos encostarmos - O que está fazendo? - pergunto num fio de voz
Ele solta meu punho e passa a mão em meus cabelos e pelo meu queixo
- O corte te deixou ainda mais bonita - ele fala olhando dentro dos meus olhos e isso me deixa desconfortável e me faz ter sensações que nunca senti - Precisamos conversar, anjo - ele diz e se afasta de mim
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Jack
RomanceO Hospital Psiquiátrico Salvação foi o "lar" de Ângela Petrissione por muito tempo. Abandonada pela mãe com sete anos de idade, finalmente consegue fugir com total sucesso, mas acaba vendo uma cena de horror em sua frente. Ele a vê no momento erra...