- Fique aqui, irei ligar a luz - ele diz se afastando - E eu juro Coisinha, se você fugir eu te mato.

Ele liga o interruptor na parede e a fraca luz amarelada ofusca momentâneamente a minha visão, que logo se acostuma aquele simplório lugar.

E parado a minha frente está a figura do sujeito da mata, usando uma calça jeans preta, coturnos, uma blusa de frio na mesma cor da calça, a máscara de esqui e um molho de chaves na mão.

- Como sabe meu nome, Estranho? - pergunto

- Ouvi te chamarem na mata, agora cala a boca ou eu vou amordaçar você.

E com toda aquela educação do mundo eu me calo apenas porque não sou fã de mordaças.

Olho ao redor e vejo a porta velha e o Estranho vai até lá e a abre.

A luz do sol entra e vai iluminando o lugar. Encantada com a minha liberdade, estendo a mão e os raios de sol esquentam a minha pele.

Ando um pouco mais até parar na soleira da porta onde o ar gélido da manhã beija minha face e o sol a aquece. De forma tão simples, me sinto livre.

Aspiro mais uma vez o ar da minha liberdade e abro os olhos vendo um carro vermelho parado na frente da casa (parece ser modelo novo mas não sei dizer) e as árvores na frente se misturando formando uma floresta.

Dou um sorriso e um passo até que sinto uma mão segurar meu braço

- Não vou fugir - digo a ele - Só tô aproveitando

- Aproveita no carro, temos que ir - ele diz entrando na minha frente - Toma - ele diz tirando a blusa de frio me entregando e revelando os seus braços fortes com algumas tatuagens

- Não tô com frio - digo

- Não te perguntei isso, Coisinha - ele diz impaciente me dando a blusa - Você vai colocar porque eu estou mandando, nao posso ser visto com você usando a roupa de hospital ou de qualquer canto que você saiu.

- Talvez não chame tanta atenção se você tirar a máscara - respondo colocando a blusa dele, que fica enorme em mim - Feliz?

Ele tira a máscara e vejo seu rosto pela primeira vez, que é lindo.

Tem traços bastantes definidos e fortes, cabelos muito escuros, algumas tatuagens no pescoço e os olhos um de cada cor

Heterocromia _ a voz diz. A gente aprendeu isso

- Entra no carro, vamos embora.

***

Já faz mais de 5 horas que eu tô nesse carro e ele não fala NADA!

Tudo bem que eu já dormi umas 2 vezes, mas ele é muito calado!

- Para onde vamos? Estamos longe? - sinto estômago roncar - A gente pode parar para comer?

- Eu disse pra você ficar calada, senão te coloco a mordaça e te tranco no porta-malas - ele responde seco olhando a estrada

Ele vai nos matar de fome_ dizem as vozes _ A última vez que comemos, foi no café da manhã do dia em que fugimos. 

- Quanto tempo fiquei desmaiada?

- O que eu avisei? - ele diz parando o carro

- Por favor, não - peço a ele, mas o sujeito sai do carro e bate a porta com força e vem para o meu lado e segura o meu braço, me machucando - Está doendo, pare

- Eu disse pra você ficar calada! - ele grita

- Mas eu não quero! Você não manda em mim! - acabo gritando também - E se você acha que me ameaçar vai mudar alguma coisa, não vai, então, terá que me matar!

- Ou você é corajosa, ou então só é burra mesmo - ele me solta falando mais baixo - entre no carro e tenta não me atormentar

- Vai responder as minhas perguntas?

- Não

- Por favorzinho - peço olhando nos olhos dele com a minha cara de pidona, que nunca serviu, mas vai que né - Eu tô entediada

- Talvez algumas - ele diz me olhando - agora pode entrar no carro? Temos que chegar antes de anoitecer em Zurique

- Espera, Suíça? - pergunto entrando no carro animada e colocando o cinto

- Isso - ele responde dirigindo - Mas não vamos ficar lá muito tempo

- Qual o destino final?

- Londres, mas vamos parar em Zurique e Bruxelas, depois pegamos um barco até Londres

- Só um instante, eu preciso de passaporte e documentos e eu não tenho

- Isso eu já resolvi, meu irmão vai providenciar isso para você - ele responde encarando a estrada - Agora tenta dormir por que falta mais 3 horas pela frente.

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JackOnde histórias criam vida. Descubra agora