O que está acontecendo com ela?
Assim que as palavras saem da sua boca, não acredito. Envolvo a Júlia nos meus braços tão rápido que me pergunto, por um segundo, se ela me pediu isso mesmo.
Um abraço? É claro que eu te dou um abraço, eu te dou o que você quiser, quero dizer, mas não digo nada.
Aperto ela contra mim, torcendo pra ela não perceber como meu corpo reagiu àquela provocação de sentir seus cheiros. Não sei o que ela queria com isso, mas se era me enlouquecer, ela teve sucesso. Eu quase a beijei, mas alguma coisa não parecia certa. A ponta do seu nariz está vermelha, seus olhos estão molhados, sei que ela não está bem. Parecia mais frágil que o normal. Percebo que estava certo quando sinto seu corpo tremendo. Ela está chorando.
Caramba, ferrou.
Nunca sei o que fazer quando uma mulher está chorando, então passo a mão desajeitadamente nos seus cabelos. Seus cabelos são macios e o cheiro do capim-limão volta com tudo. Dou um beijo na sua cabeça. Ela cheira bem pra caralho e saber disso não me ajuda em nada. Não preciso ficar mais viciado nessa mulher do que já sou.
Ela continua chorando. Tenta se afastar, pedindo desculpas, murmurando baixinho, mas eu não posso deixá-la ir. Não assim, tão triste. Isso está acabando comigo. Abraço ela mais forte. Talvez, esteja abraçando ela um pouco forte demais, mas ela estremece mais um pouco e, então, parece relaxar. Sinto suas mãos na minha cintura. Hesitantes. Também quero um abraço, percebo. Principalmente dela. Sempre quis.
- Júlia – falo no seu ouvido – se importa de me dar um abraço também?
Ela ri, apoiando a testa em meu peito. Então, seus braços me rodeiam, suas mãos se abrem nas minhas costas. Seus dedos sobem e descem delicadamente. Balanço ela um pouco, quase como se estivéssemos dançando. Ela para de chorar. Sinto que está mais calma, mas não quero me afastar. Não quero que esse momento acabe. Percebo que ela inspira profundamente.
- Acho que cheiro a hamburguer e fumaça – comento.
- Não – ela responde, mas não diz mais nada.
- Por que está chorando? – pergunto. Quero que ela olhe pra mim, quero tocar seu rosto, quero sentir o sabor do chiclete de menta que ela está mascando.
- Acho que estou ficando doida – ela sussurra, como se não acreditasse nas suas palavras. – Acho que estamos todos um pouco doidos, não é?
Concordo com ela. Estamos todos um pouco doidos. Os que estão um pouco doidos, estão com sorte, na verdade. A maioria de nós está muito doida.
Ela se afasta, secando os olhos: - Obrigada... Eu... Molhei sua blusa.
- Não importa. Posso te acompanhar até seu carro?
Caminhamos em silêncio até lá. Gostaria de saber o que está deixando-a tão nervosa, mas não quero parecer insistente. Ela destranca o carro e eu abro a porta pra ela. Ela se senta no banco do motorista e eu aceno pra minha moto.
- Obrigada, Miguel. Me desculpe, não tive um dia legal – um sorriso fraco surge embaixo do nariz vermelho.
- Eu que agradeço. Não abraço ninguém há uns seis meses – confesso. Vejo o espanto nos seus olhos. Ela também não abraça ninguém assim há meses, mas está surpresa, por causa da minha fama.
É, não sou mais esse pegador, quero que ela saiba, mas decido que lembrá-la da minha fama não vai me ajudar em nada.
Estico minha mão e pego seu queixo, deixo meu dedão passear um pouco ali. Ela apenas me olha. Quero muito saber por que está tão triste, quero muito colocar um sorriso no seu rosto. Mas só digo isso: - Não gostei de ver você chorando. Se precisar de alguma coisa, sabe onde me encontrar.
Júlia assente e eu fecho a porta do carro para ela. Fico olhando o carro dela se afastar. Sei que terei uma longa noite pela frente quando me deito na minha cama e não consigo esquecer o que aconteceu. Não consigo esquecer o cheiro da Júlia, o modo como ela olhou para mim, suas lágrimas na minha camisa, seu corpo contra o meu. Não consigo esquecer como ela estremecia a cada soluço, não consigo esquecer o aperto no meu coração. Ainda nem beijei essa mulher e estou desse jeito.
Deixo as minhas paranoias voarem soltas na minha cabeça. Foi exatamente por causa disso que eu nunca me aproximei dela, eu sabia que eu ficaria assim. Lembro dos meus amigos me zoando: "prepara a cara de bobo, Braga". É isso, ela me transforma em um bobo. Mas, finalmente, estou pronto pra ser esse bobo, ninguém vai chegar na minha frente dessa vez.
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Café, milho e... Miguel | Degustação
RomanceInimigos nos negócios podem se dar bem na cama? Quando uma chef de cozinha se envolve com seu rival, ela está determinada a não se apaixonar, mas ele vai deixar isso bem difícil... Júlia está lutando para manter o restaurante da família durante a p...