Não sei como eu consegui dormir. O cheiro do Miguel foi para casa comigo. Estava faminta, mas não tive coragem nem de passar na cozinha. E se o cheiro ruim voltasse? Preferia ficar com o cheiro do Miguel. Mas aí, eu me deitei na cama com o cheiro do Miguel e aquilo foi me deixando louca. Fiquei lembrando do abraço que ele me deu, do modo como a sua barba roçou no meu pulso, subiu pelo meu braço... Acabei adormecendo de tão exausta.
Mas aí eu sonhei. Sonhei que estava no meu restaurante com o Miguel, sonhei com seu cheiro em mim, me envolvendo, com seus braços nas minhas costas. Sonhei que tirava sua camisa, que passava os dedos pelas tatuagens, que sentia seu cheiro por baixo da blusa.
Seria ótimo se tivesse parado aí, mas não... O restaurante estava vazio. Escuro. Meus dedos tocavam as tatuagens do Miguel. Ele me levantava e me colocava em cima de uma mesa, ele abria as minhas pernas, eu sentia sua barba nas minhas coxas...
Acordei arfando na minha cama, assustada. Nunca tive um sonho assim. Eu não sou muito de lembrar de sonhos, mas esse foi absurdamente real e deve ser por causa do maldito cheiro do Miguel que está tirando a minha sanidade. Meu corpo inteiro está pulsando e sou invadida pela vergonha imediatamente. Acabo de ter um sonho erótico com o Miguel.
Com. O. Braga.
Meu Deus, Júlia. Onde está sua cabeça?
O dia já amanheceu, estou com calor. Sinto essa pulsação gostosa entre as minhas pernas. O cheiro do Miguel continua aqui. Tiro o lençol de cima de mim. Deslizo os dedos pela minha barriga. É tão tentador... O cheiro do Miguel está no quarto inteiro, está nos meus lençóis, está no meu travesseiro. Estou arfando, estou sem ar. Preciso respirar, meus dedos descem um pouco mais. Sinto que estou pulsando. Não posso fazer isso.
Não posso fazer isso pensando nele.
Lembro do jeito que ele inspirou na minha boca, lembro da sua barba no meu queixo, lembro do jeito que segurou meu rosto. Ele me apertou tão forte. Foi tão forte que achei que fosse me partir e me partiu de certo modo, porque eu solucei. Que nem uma criança.
E então ele me pediu para abraçá-lo também... E suas costas eram tão fortes, eu senti cada músculo e... Meus dedos são rebeldes e não obedecem ao meu cérebro mais. Penso no Miguel, penso no nosso abraço, penso que eu queria que ele me beijasse, imagino como seria, imagino estar com ele, imagino beijar seu peito, sua barriga, seu corpo inteiro.
Perdi totalmente a sanidade.
Não posso estar normal. O cheiro do Miguel continua aqui e eu me sinto insaciável. Quero mais. Quero imaginar tudo de novo. Quero bater na porta da casa dele. Quero pedir para ele me tratar como uma de suas inúmeras mulheres. Quero ser mais uma em sua cama. Quero tudo.
Estou enlouquecendo.
Entro no chuveiro. A água vai me ajudar. A água fria vai resolver.
A água não ajuda.
A água cai sobre o meu corpo e eu estou queimando. Estou ardendo e só consigo pensar no Miguel e em como eu queria que ele estivesse aqui, e que me pegasse por trás nesse chuveiro, e fizesse tudo comigo. Preciso saber como é. Preciso dele. Meus dedos estão de novo em mim, eu penso de novo no Miguel e de novo e de novo.
Meu Deus, Júlia.
Estou arfando quando me deito de novo na cama, enrolada na toalha.
Café, milho, Miguel e lixo.
Café.
Tentando não pensar no cheiro do Miguel, visto qualquer coisa e faço um café. O cheiro do café entra nas minhas narinas, eu sinto o cheiro do café na casa inteira. Eu bebo uma xícara e agradeço a Deus pelo café.
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Café, milho e... Miguel | Degustação
RomanceInimigos nos negócios podem se dar bem na cama? Quando uma chef de cozinha se envolve com seu rival, ela está determinada a não se apaixonar, mas ele vai deixar isso bem difícil... Júlia está lutando para manter o restaurante da família durante a p...