Minha Tentação

VI

Demorou apenas alguns segundos para que, após a porta se fechar, Theron percebesse o que tinha acontecido e as palavras de Amber o tomassem de uma forma diferente da anterior. A anestesia havia passado, dando lugar à revolta. Ele tinha corrido atrás dela, coisa que nunca tinha feito com ninguém e ela nem mesmo tentara, ela duvidava do que ele estava dizendo, de que tentaria.

Entendia que Amber não queria se machucar, mas nem mesmo lhe dera um voto de confiança. Não tinha dito que ficaria apenas com ela, mas se essa era a condição inicial e ele estava disposto a aceitar, a tentar, então era lógico que estava dentro dos termos, apenas não queria que todos soubessem ainda. E nem mesmo isso ela parecia entender.

Sua vontade era bater à porta novamente, mas com a revolta que lhe tomou, junto a frustração que aumentara consideravelmente, virou e marchou para a própria casa, nem mesmo vendo as pessoas ou o próprio caminho. Seus pensamentos repassavam as palavras de Amber e montava respostas que deveria dar.

A cada passo, porém, sua irritação passava e ele ficava apenas com a imagem de Amber chorando.

Quando chegou em casa, soube que deveria ter tentado falar com ela novamente, que deveria ter tentado fazer com que ela parasse de chorar, afinal, ele nunca tinha visto Amber chorar, não desde a infância — e mesmo nessa época havia sido tão pouco que mal se lembrava quando acontecera —, e isso só poderia significar que o que ela sentia era mais forte do que ele imaginava.

Agora que já havia escurecido, ele simplesmente seguiu para uma das salas, pegando uma garrafa de bebida do pai. Sabia que aquilo não o deixaria bêbado, afinal sua resistência era muito maior do que de qualquer pessoa, mas precisava liberar sua frustração de alguma forma. Especialmente porque agora estava frustrado consigo mesmo.

Não notou de imediato, preso em pensamentos como se encontrava, a figura feminina de pé na entrada da sala, o observando com muita atenção, interesse e preocupação.

Lissa sabia que a conversa com Lance não tinha surtido o efeito desejado quando o marido comentou sobre como Theron parecia confuso e hesitante, mas garantira que deixara um pouco mais de incerteza sobre as crenças do filho. Ela queria poder dizer a ele o que fazer, como quando era pequeno, mas mesmo naquela época buscava deixar que o filho decidisse por si mesmo se aceitaria e aprendesse com os próprios erros. Com algo assim, em tal momento da vida, não seria diferente.

Quando os olhos de Theron encontraram os da mãe, ele suspirou, sabendo que ela tinha visto toda a confusão em que ele mergulhava, como ela perceberia que ele não estava em um estado normal.

Lissa, ainda com as roupas que havia usado na reunião na casa de Gia e Halen naquele dia, se aproximou, dando um sorriso gentil e carinhoso para o filho, mas de forma lenta, analisando se a sua aproximação seria bem quista ou não. Theron sentia que precisava, como há muito tempo não acontecia, do colo de sua mãe e apenas acenou uma vez quando percebeu o motivo de ela hesitar.

A mulher ruiva se sentou ao lado do filho, ainda em silêncio e o puxou, de modo que ele pudesse deitar com a cabeça em seu colo. Exatamente como fazia quando ele era mais novo. Exatamente o colo que ele precisava. Theron nunca deixava de se surpreender como ela parecia saber exatamente o que cada filho precisava no momento certo.

O rapaz fechou os olhos quando os dedos delicados da mãe passaram por seu cabelo e ele suspirou baixo, por fim relaxando e sentindo tudo aquilo que vinha passando nos últimos dias, o atingindo como um furacão, o deixando ansioso por um pouco da voz doce de sua mãe.

— Você sabe que pode conversar comigo — incentivou Lissa ao notar como a tensão voltou para as expressões do filho após um momento de relaxamento.