Amber tinha conseguido ser forte até certo ponto. Tinha conseguido encarar tudo aquilo sem desmoronar... Até deixar que Theron visse o seu lado mais frágil, seu interior, ao revelar seu desejo mais intenso. Aquilo tinha feito com que seus muros caíssem e agora estava tendo dificuldade em erguê-los novamente.
Nunca fora uma pessoa que se fazia de forte, mas conforme seus sentimentos por Theron se tornavam mais intensos ao longo dos anos, foi automaticamente se protegendo em deixar-se demonstrar o que realmente sentia por ele, pois sabia que acabaria sentindo a pior das dores. E agora, que realmente se permitira passar por aquilo, não sabia como prender tudo novamente.
Sentara-se no sofá desde que fechara a porta com Theron do lado de fora. O vira se afastar apressado, claramente frustrado e com raiva e soube naquele momento que ele não mais a procuraria. É claro que uma parte sua, em oposição à que sofria, estava satisfeita com conseguir o que seria melhor para curar seu coração. Sabia que isso a ajudaria a seguir com sua vida e o esquecer. Mas a outra parte ainda imperava e por isso, doía.
Passou a mão pelo rosto pelo o que deveria ser a centésima vez, odiando-se por ser o tipo de mulher que não conseguia levar a própria escolha com firmeza, por ser muito mais sensível do que pensara ser. Ela o queria por perto, mas sabia que não poderia, nem mesmo ter a amizade por algum tempo, ou sofreria ainda mais, pois Theron não mudaria.
— Meu amor, o que foi? — A voz da mãe a despertou. Não percebeu que Pérola entrara na sala e nem mesmo que a observara por alguns segundos, notando as lágrimas.
— Eu não a vi chegando — disse Amber, sem a responder de fato, respirando fundo e passando as mãos pelo rosto mais uma vez.
— É claro que não, estava chorando tanto que acho que não daria para ver nada — Pérola sussurrou, se sentando ao lado da filha e apoiando as mãos sobre as dela, que abraçavam os joelhos. — O que a deixou desse modo? Sei que você não gosta de ficar chorando... Desde pequena sempre só o fez quando sentia uma dor maior que o que poderia suportar...
— Acho que nunca senti esse tipo de dor antes, mãe — disse Amber em voz baixa, sentindo mais algumas lágrimas escorrerem por seu rosto.
— Meu amor... — Pérola não sabia o que dizer, então apenas puxou a filha para deixar a cabeça em seu ombro, enquanto a abraçava com carinho e preocupação. — Sei que não gosta muito de falar sobre seus sentimentos, mas acho que esse é o momento de compartilhar, finalmente...
— Finalmente? — Amber ergueu a cabeça e viu a mãe dando um pequeno sorriso. — Não enganamos ninguém, não é?
— Talvez quem não os conhece... Mas somos sua família, seus amigos de uma vida toda e nós imaginamos que todas as brigas e implicâncias acabariam em algum lugar... Não era ódio quando vocês estavam sempre sorrindo e na companhia um do outro.
Não era preciso muito para que se entendessem. Pérola não precisava dizer à filha de quem falava, pois era óbvio que ela estava certa. E Amber não precisava questionar nada. Por mais que tivesse passado anos negando a si mesma, tudo o que sentia por Theron era óbvio, e a forma como o tratava deixava isso claro. Quando odiava alguém, não aguentava ficar perto da pessoa, e Theron fora o que ela chamara de amigo durante muito tempo.
Então Amber começou a contar à mãe a sua verdadeira e inteira história com Theron, em como todas as implicâncias tinham sido parte do jogo que ambos jogavam metade de suas vidas para provocar um ao outro, como tinha escolhido ser a primeira dele e ele o seu ainda bem jovens e como, nos últimos anos, tudo o que sentia a fazia o querer apenas para si e apenas ele.
Ela não conseguia mais ficar com ninguém, pois pensava nele, o desejava de uma forma que não conseguia projetar em mais ninguém. Era como um vício, que apenas amenizava quando estava o provocando, quando estava perto dele, roubando sua atenção, fazendo jus ao apelido recebido.
Pérola expressara surpresa em diversas ocasiões, mas a ouviu com atenção e até riu em diversas outras. Mas a maior surpresa da mulher era a coincidência daquele dia.
— Confesso que não esperava ter essa conversa com meus dois filhos em um mesmo dia — disse a matriarca por fim ao final do relato de Amber. — Seu irmão só notou agora o que ele realmente sente por Isis, que aparentemente já sente isso por ele há muito tempo... Não me surpreendendo, claro.
— A ninguém. Ela sempre esteve presente na vida do Jet, é a melhor amiga dele e o jeito que ela o olha, não consegue enganar ninguém. — Amber passou a mão esquerda pelos dois lados do rosto, abrindo um sorriso. — Finalmente o pirralho percebeu o que estava óbvio, que ninguém é mais perfeito para ele e nem o fará mais feliz, do que ela.
— E pode ser que o Theron perceba isso ainda, filha — disse Pérola, pegando a deixa que a filha abriu, vendo ela negar com a cabeça e quase revirar os olhos. — Não entendo... Theron é assim tão ruim? Então como se apaixonou por ele?
— Eu me pergunto isso todos os dias! — lamentou-se a mais nova, vendo a mãe rir.
— Não acredito nisso. Lissa criou todos eles do mesmo modo, e sabemos como ela é. Lance era muito parecido com o Theron na idade dele... Os dois se parecem em muito mais do que aparência e tenho certeza que Theron gosta disso. Mas quando Lissa chegou na vida de Lance de novo... Tudo mudou. Nós o conhecemos em diversos momentos, mas nada é com o amor que eles sentem. E se Theron foi criado por eles, não acho que seja impossível de ele amar como os pais amam.
Pérola falava com sua voz firme e atenciosa como sempre. Ela não fazia o tipo "mulher meiga", suas palavras eram sempre muito diretas e fortes e dificilmente ela se preocupava em causar conforto. Presava a verdade acima de tudo e Amber, sabendo disso, sabia que era naquilo que a mãe acreditava.
— Sabe o que eu acho que deve fazer em vez de ficar aqui chorando? — A mais velha continuou ao perceber que a filha não tinha mais o que dizer quanto aquilo. — Você deveria ser a Lemann que sei que você é. Não é possível que uma mulher linda como você, herdando os meus genes e o do seu pai, não tenha um charme irresistível. Foi você que ele escolheu para ser a primeira e isso significa muito para um rapaz cheio de hormônio.
— O que quer dizer? — A esse ponto, Amber não mais chorava, é claro. Lembrou-se que ela era uma Lemann. E os Lemann não desistiam e nem esperavam as coisas caírem do céu. Eles iam atrás do que desejavam.
— Quero dizer que você deve deixar que ele mostre o desejo que sente, que você deve provocá-lo, sim. Você deve mostrar o que ele perde ao não querer você e apenas você. Dê o gosto, adoce a boca dele, não se afaste. O medo é o pior inimigo da felicidade, minha filha. — Pérola por fim sorriu docemente, vendo como a filha já começava a sorrir também.
— Eu só não sei se conseguiria dividi-lo até lá... — começou a falar, mas logo a mão de Pérola se ergueu.
— Deixe claro os seus termos, mas não se afaste. É com a presença que a gente mostra a um homem o que ele pode ganhar ou perder. Observe as atitudes, os olhos... A sinceridade de homens como seu pai, Lance e Theron, vem antes mesmo de eles perceberem o que sentem. Nós somos capazes de saber antes dele. E você é capaz disso...
— Então você está dizendo que eu devo...
— Se tornar a succubus que ele a chama com tanta esperança.
Esperança.
Amber se permitiu ter esperança. Da mesma forma que a mãe afirmava que Theron parecia desejar que ela fosse esse espírito que lhe prenderia, tomaria todas as suas energias e o deixaria desejando muito mais. A desejando.
E como oxigênio para o fogo, ela se sentia pronta paratentar, caso ele ainda estivesse disposto, caso ele não tivesse desistidodepois de tudo. Mas se conhecia bem Theron, assim como ela, ele gostava mesmoera do desafio. Coisas fáceis nunca lhe prenderam por muito tempo.
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Minha Tentação
RomansaTheron é muito parecido com seu pai, Lance Dragscale, especialmente na sua vontade de ter a liberdade de estar com quem e quantas pessoas quiser. O problema é que ele não sabe lidar muito bem com o desejo inesperado que sente por Amber, sua amiga e...