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Os dias começaram a se arrastar detrás daqueles muros altos e jardins extensos. Bom, mais do que já se arrastavam.

Taeyeon passava seus dias vendo o dia passar da janela do quarto. Não estava presa, poderia sair e andar por todo terreno sempre que quisesse, mas sua vontade de encontrar sua futura sogra era nula, nem mesmo poderia dizer que existiu em algum momento, e por outro lado tinha Minhyuk.

Ele parecia estar apenas dando espaço depois de notar que Taeyeon havia ficado magoada no dia do baile e sempre que ela perguntava o motivo de estar tão distante e nem ao menos tirar um tempo para ficar com ela depois do trabalho como fazia normalmente, a resposta era que estava dando o espaço que ela precisava para que colocasse a cabeça no lugar.

Como se fosse culpa dela ter alguma distância naquele relacionamento que já era complicado o suficiente naquele castelo de vidro com um fraco alicerce de mentiras.

O único momento do dia em que saia de fato do quarto e parava de costurar para sair um pouco, era quando ia até a cidade para mandar cartas à Soo Yun ou ao seu pai para saber como estavam as coisas, mas apesar de enviar sempre que podia, as respostas eram raras. Dificilmente recebia um envelope entregue por Minhyuk e nenhum deles era de sua família. Não sabia se seu pai havia voltado bem da última viagem de trabalho, nem como seus irmãos estavam, já não esperava muito de Taehee, mas não receber notícia alguma era frustrante demais.

Se sentia esquecida. Deixada de lado como se a única pessoa com quem deveria contar era seu noivo — E um certo ladrão que ocupava seus pensamentos, mas ela deixava esse segredo escondido a sete chaves.

Nem mesmo Soo Yun sabia de seus encontros noturnos com Seungkwan.
Tinha medo do que poderia acontecer com ele caso essa informação vazasse. Mais medo ainda do que Minhyuk faria, principalmente, quando ele ficava muito irritado quando outros homens se aproximavam demais.

Na última vez que Taeyeon foi enviar uma carta na cidade, passou meia hora ouvindo do noivo como não poderia deixar que outros homens a vissem de cabelo solto porque aquilo chamava atenção demais deles. Ela respirou fundo e fechou os olhos, deixando aquele absurdo entrar por um ouvido e sair pelo outro como se nunca tivesse existido.

Seungkwan ouvia todas aquelas reclamações e xingava o universo junto dela.

A madrugada havia se tornado um momento pelo qual valia a pena esperar e passar por todo o dia torturante era um pouco menos dolorido quando se lembrava que passaria quase toda a noite jogando com o rapaz que amava xingar o mundo com ela.

Os dois estavam rindo, tentando conter as vozes altas com o jogo proposto pelo rapaz. Com a memória nostálgica de algo que fazia para se distrair quando era criança e não tinha nada além da imaginação e alguns dados. Era um jogo de interpretação que não necessitava de muito para ser jogado, dado contra dado e o resultado da disputa era tirado pelo maior valor e decidia o curso da história.

— Eu quero tentar levar ele na conversa — Taeyeon diz, já sacudindo os dados em mãos para os lançar. — Se os seus forem maiores, ele me ataca?

— Quem sabe — respondeu convencido, havia tirado um cinco, o que era um valor baixo considerando que havia dois dados de seis lados. — O senhor Coração de leão é muito imprevisível e ele sabe que você está com o colar.

Os dados caíram em quatro e seis, um sólido dez que arrancou um sorriso orgulhoso dela pela sorte.

— Sortuda — Ela riu alto com a feição emburrada no rosto dele. — Como vai convencer ele a não pegar o seu colar?

— Vou fazer com que ele me leve junto dele — Ganhou um olhar interessado e ajeitou a postura para começar a narrar o que vai fazer. — Primeiro, a Yuri vai se levantar da cadeira para ficar da altura dele, perto o suficiente para conseguir tocar o ombro.

Seungkwan ergueu as sobrancelhas quando ela chegou um pouco mais perto e tocou seu ombro, surpreso e confuso se aquela que estava agindo era mesmo Taeyeon ou se era Yuri a cativante, personagem criada naquela mesma noite para uma aventura sem sentido de duas pessoas que queriam fugir da realidade.

— Vai olhar bem nos olhos dele — O ladrão engoliu em seco. — Para dizer: Senhor, se quiser o poder do meu cordão terá que me levar com você.

— Só preciso do poder dele, não me importo com você, moça bonita — Taeyeon riu com a resposta e o quanto era diferente do que Seungkwan diria na realidade.

— Sabe como usá-lo? — Não ouve resposta, então ela abriu mais ainda o sorriso. — Foi o que pensei.

Ela estava tão perto que Seungkwan se esqueceu que deveria responder e continuar o diálogo para a história fluir.

Mesmo notando que ele havia ficado nervoso, ela não se afastou, porque no fundo, não queria se afastar. Se esqueceu de tudo por um momento, a mente em branco como se nada mais importasse a não ser ele. Independente se era a coragem da Yuri ou apenas a ideia de não estar presa naquele lugar, não queria sair dali. A respiração descompassa sem que note e o coração bate acelerado de uma hora para outra.

— Isso está vindo da Yuri ou da Taeyeon?

Piscou com a pergunta feita em um sussurro, chegando um pouco mais perto e colocando a outra mão sobre o ombro dele. Não conseguia pensar e por um momento todo o barulho que existia em sua cabeça deixou de existir.

Silêncio.

Foi tudo o que restou ao focar apenas em Seungkwan, o silêncio que tanto buscava para seus pensamentos turbulentos. Essa era a magia dele, conseguia trazer o alivio do silêncio sem esforço nenhum e quando notava, já estava sorrindo como se tudo fosse ficar bem.

— Talvez... — Respirou antes de continuar a falar. Sentia que estava prestes a se atirar em mar aberto de um penhasco. — Talvez eu queira ser a Yuri por essa noite e esquecer de todo o resto para ficar assim com você.

E antes que pudesse notar, já havia se atirado daquele penhasco quando Seungkwan nem pensou duas vezes ao tocar em seu rosto e juntar seus lábios em um beijo surpresa.

Ele também não estava pensando direito, porque só queria focar nela e estava segurando essa vontade a tanto tempo que sentia que poderia flutuar.
Se derreteu por inteiro quando ela sorriu no meio daquele beijo.

Mas algo não estava certo, mesmo quando tomou distancia para olhar nos olhos dela e mergulhar na bela imensidão que eles eram e a viu sorrir mais ainda com as bochechas rosadas.

— Yeon — as sobrancelhas dela se juntaram em confusão. — Perdão.

— Pelo que exatamente?

— Eu tenho medo de estragar as coisas entre a gente — O olhar carinhoso no rosto dele a fez suspirar, nunca recebera afeto dessa maneira, era tão verdadeiro que tinha vontade de chorar. Sentiu que ele acariciava sua bochecha, desenhando círculos com o polegar. — Não quero que pense que esse é o meu interesse em você. Sou seu amigo acima de tudo e não quero deixar de ser.

— Não pedi para deixar de ser meu amigo, Seungkwan — Deu o sorriso mais doce que ele um dia imaginou receber. — Ainda estamos juntos nessa.

— Então o que faremos?

Taeyeon tirou as mãos dele do seu rosto, apenas para se aproximar novamente e deixar um rápido selar no topo da cabeça de Seungkwan, roubando um sorriso em troca do gesto.

— Nós vamos vivendo — Tocou os fios lisos em uma caricia antes de completar. — Um dia de cada vez.

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