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DIAS ATUAIS «
» Litoral Oeste do Japão.

O dia caminhava para um amanhecer bonito. Estava quente, o que era raridade em pleno outono, todavia, Seungkwan não conseguia simplesmente aproveitar o que seria aquele raro dia de sol.

Estava extremamente ansioso, mas acima de tudo, detestava o sentimento que estava o tomando o peito.

Com o passar do tempo aprendeu a odiar as memórias que tinha de quando tudo deu errado porque elas o faziam sentir o sangue borbulhar em raiva.

Se lembrava bem do momento em que Minhyuk foi para cima dele ao invés de quebrar ao ponto de ficar desnorteado e dar uma abertura para saírem dali. Se lembrava bem da dor aguda daquele corte que teve sorte de não ser profundo demais e da voz de Taeyeon, tentando conseguir com que o mantivessem vivo.

E depois... Nada.

Acordou sem saber onde estava exatamente, deitando em finos lençóis pelo chão, com as mãos amarradas e em um lugar pequeno e vazio demais para se considerar um quarto. Podia ouvir vozes do lado de fora e jamais se esquecera de como se referiam a ele.

Um verme, um rato e tantos outros nomes que o enfureciam só de lembrar.

Conversavam sobre o que fariam e qual seria a melhor forma de se livrar dele, mas Seungkwan só conseguia pensar em Taeyeon, pedindo para qualquer divindade que o escutasse que ela estivesse bem.

Nos seus dias ali só via o curandeiro que vinha cuidar de seus ferimentos, tinha a vaga lembrança de sonhar que Taeyeon vinha o visitar durante a noite, mas quando acordava estava sempre sozinho, pensando se deveria ou não se livrar das cordas que prendiam seus pulsos juntos. A resposta era sempre não quando estava ferido demais para tentar uma fuga e sabia que não chegaria muito longe.

Ficou uma semana inteira naquele lugar, contando os segundos para que pudesse ao menos ver a luz do sol e quando pôde o fazer, teve tempo apenas de processar que esse tempo todo estava trancado no armazém do jardim em que trabalhou por tantos dias e noites.

Para então ser jogado novamente no escuro do porão de um navio.

Gostava menos ainda de lembrar dos meses que se seguiram. Ainda tinha pesadelos ao lembrar dos dias em que teve que trabalhar como escravo, dos dias que ficava acordado durante a noite com medo de fechar os olhos e imaginando como foram tão baixos ao ponto de fazer isso consigo.

Talvez só quisessem lucrar ao enterrar toda uma história. E em um piscar, Seungkwan não existia mais para aquela família.

Era estranho pensar que veria Yeon novamente. Quase como se estivesse sonhando e agitado demais para se controlar suas mãos se apertavam à balaustrada.

Quanto mais próximo chegava da terra, mais seu coração acelerava. Quase pulou para o lado ao sentir uma mão sobre o ombro, o tirando do devaneio nostálgico e ao mesmo tempo aterrorizante.

Mingyu sorriu, mostrando os caninos pontudos e erguendo as mãos para o ladrão assustado.

— O capitão Yoon pediu para que você se preparasse e está perguntando se precisa de companhia.

— Não quero atrasar vocês — Negou com a cabeça, sorrindo igualmente alegre para o imediato do Aurora.

— Vamos ter que parar para abastecer em terra de qualquer forma — Deu de ombros despreocupado. — Onde terá que ir?

— Uma taverna, Coroa escarlate o nome — Mingyu ergueu as sobrancelhas animado com a ideia de beber algo alcoólico que não seja rum misturado com água.

— Pode ir se preparando para descer, já estão baixando a âncora.

Seungkwan assentiu, observando toda aquela agitação a qual estava quase totalmente acostumado. Respirou fundo, se obrigando a esquecer de todo aquele passado, exceto pela flor caída e bela que o resgatou, jamais ousaria apagar aqueles momentos.

Quando desceu do navio se sentiu desnorteado, muito acontecia naquele porto extenso. De música alta a conversas paralelas, ouvia de tudo um pouco, mas algo se destacou.

Um rapaz alto e de pele clara chamava os marujos que saiam do Aurora para perto, o cabelo escuro e curto balançava com o vento e ele parecia bem forte e simpático aos olhos do ladrão, mas o que chamou atenção além do sorriso é que ele não falava japonês, mas sim o idioma materno de Seungkwan.

— A taverna está aberta homens, temos jogos, barris e mais barris de cerveja e toda a informação que puderem pagar para ter — disse a última parte em um sussurro. — A coroa escarlate fica logo ali.

Aquilo fez Seungkwan apertar o passo para chegar até o homem que ergueu as sobrancelhas escuras assim que o notou.

— Deseja algo, senhor?

— Pode me mostrar onde fica a taverna? — Ele assentiu, feliz em ouvir seu idioma sendo falado. — Tenho que encontrar uma pessoa.

— Talvez eu possa ajudar se está a procura de informações, só não garanto que serão de graça — Foi a vez de Seungkwan sorrir, se forçando a ser simpático quando sabia que precisaria daquela ajudinha. — Sou Choi Seungcheol a propósito.

Seungkwan ergueu as sobrancelhas, avaliando rapaz desconhecido. Não poderia dizer que confiava nele, mas já era alguma coisa. Um passo mais perto de encontrá-la.

Indicou para que seguisse na frente, erguendo a mão e ainda sorrindo apesar do nervosismo crescente.

— Mostre o caminho, senhor Choi.

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