Colin: A garota feita de escuridão

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Segundo o GPS do carro, eu deveria manter uma velocidade de 80 km/h para chegar ao hospital em dez minutos. – Desrespeitando a lei do trânsito, passei um pouco do limite e ultrapassei vários carros quando eu não deveria ultrapassar. Ainda assim, o caminho até lá está sendo mais longo do que realmente é. Na verdade, correndo o risco de ser um tolo,  confesso que a garota desacorda ao meu lado tirou complemente minha percepção de tempo.

Um minuto é semelhante a eternidade.

Obviamente o que sinto agora é culpa e remorso.

Eu deveria ter a salvado antes, mas tive medo.

O que Belle não sabe é que visitei a fazenda um dia depois que o pai dela, Felipe, destruiu o meu estabelecimento e disse que, como compensação, daria a sua própria filha. Ou seja, uma semana antes. No dia em questão, eu a vi lendo um livro perto do lago. Belle parecia distante e, apesar da felicidade estampada em seu rosto, olhava para os lados a todo momento, preocupada com alguma coisa. Apesar dos fatos, da localização exata que Felipe me deu da fazenda e do estado físico deplorável daquela moça, não acreditei que um pai desprezasse a filha a ponto de fazer uma barganha cruel com um homem desconhecido.

Tolo, fui embora.

Mas, sem querer, levei comigo a imagem clara de um olhar profundo. Seus olhos, negros como a escuridão, roubaram minha paz durante toda a semana. Não importava o tanto que eu tentasse, meus pensamentos me levavam até ela a qualquer hora do dia. Mesmo antes do infeliz ocorrido de hoje, me senti responsável. Desejei protegê-la e esse desejo me fez pensar e fazer coisas estupidas. De manhã, quando acordei, planejei fazer uma visita apenas para saber se ela estava bem e, depois de assistir toda aquela crueldade, agi como um babaca sem coração. Exigi a compensação e a forcei a aceitar casar-se comigo. Durante uma semana fiz mais besteiras do que em minha vida toda.
...

Quando cheguei ao hospital com Belle em meus braços, não demorou muito para ela ser socorrida. – Até porque uma pessoa desmaiada causa um reboliço e tanto. No entanto, depois de levarem-na, a recepcionista insistiu em ter os documentos dela. Tive que mentir. Falei que a encontrei por um acaso.

O que em partes, não é uma mentira.

A situação é burocrática se tratando de pacientes sem documentação, mas graças a Deus eles não podem deixar alguém morrer por causa disso.

Enquanto espero por notícias, ligo para a minha mãe e aviso que estou bem. Apesar de moramos separados, a preocupação dela nunca mudou. Falando nisso, dona Amélia terá um ataque quando descobrir que resolvi me casar com alguém que não conheço e que tem uma história de vida perturbadora. Mamãe é tudo o que não sou. Romântica e gentil. Ela sempre sonhou que seus filhos se casassem com alguém legal, por amor e todo aquele clichê. Sei que ela apenas quer o nosso bem, mas duvido que eu possa realizar seu sonho.

Parando um pouco para pensar, estou cometendo um erro enorme. A felicidade que quero proporcionar a Belle é questionável devido aos meus atos. Casar-se com essa garota assim, dessa forma, fará ela sofrer. Eu, Colin Miller, nunca fui capaz de me interessar verdadeiramente por uma mulher. Correndo o risco de ser cafajeste e imoral, meus relacionamentos nunca passaram de um mês. Sendo sincero, por mim, eles teriam acabo antes mesmo de começar. 

Então, por que não consigo voltar atrás na minha decisão?

Tenho medo de que ela vá embora e seja infeliz. Só que, ainda querendo que ela fique, existe outros acordos. Nenhuma das desculpas que passam pela minha cabeça são boas o suficiente para que eu diga que devo manter esse casamento. Mas, por agora, resolvo ignorar a voz da razão. Não quero arriscar. 
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