Belle: Reticências

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Ele desistiu de mim.

Colin optou pelo fim do nosso casamento de mentira, mas disse que irá manter a palavra dele. Terei meus estudos, uma casa onde morar e dinheiro o suficiente para que arrumar um emprego seja uma tarefa sem muita pressão. Pela primeira vez, algo verdadeiramente bom está dando certo em minha vida. Eu deveria estar feliz por não precisar esperar seis meses para ir embora, já que consegui tudo o que precisava sem fazer nada para isso, certo.

Então, por que estou infeliz?

Comemorar tinha de ser prioridade, não existe lógica alguma nos sentimentos que me invadiram assim que o homem misterioso saiu por aquela porta. Não fui eu quem quis colocar um fim no plano e, ainda assim, me sinto mais que péssima.

Nada faz sentindo.

Minha partida não faz sentido.

Sinto que estou perdendo ao invés de ganhar.

Meus quase vinte e um anos nunca fizeram com que eu sentisse a paz que senti em pouquíssimos dias. Talvez o motivo seja porque antes tudo se resumia em tapas, ameaças e medo constante. Com Colin é diferente. Apesar da forma que nos conhecemos e da minha insistência em pensar que as coisas seriam igualmente ruins, me peguei sendo conquistada de hora em hora. Não estou falando de meses ou semanas. Porra, conheci o imbecil há menos de quatro dias! Importar com o que ele sente ou deixa de sentir tinha de ser irrelevante já que o tempo não colabora.

O homem misterioso teve razão na questão do desprezo. Escolhi a indiferença quando a boa comunicação deveria ter sido prioridade. Só que por estar tão focado na minha maldita ignorância, o homem misterioso deixou passar uma coisa importante, confio nele como se o conhecesse desde sempre. E é exatamente esse o problema. Temi tanto que sua bondade fosse apenas uma máscara, que acabei magoando-o. Apesar de confiar verdadeiramente, sabotei nossa relação do início ao fim. Eu fui covarde, errei feio.

Acabei me tornando a vilã.

Afinal, essa nossa pequena história me deixa confusa. Cada coisa como a intensidade, a importância, o medo de perder, a confiança e até a paixão – o que é difícil de admitir – deveriam ter vindo com anos, não dias. O que me pegou desprevenida foi saber que não sou a única pessoa maluca. Sou incapaz de ser ignorante ao ponto de deixar passar a parte em que Colin revelou ter sentimentos por mim. “Verdadeiro e intenso”, ele disse. Por mais estranho que pareça ser, descrevo meus sentimentos da mesma forma.

Estaria mentindo se dissesse que entendo o que tudo isso significa, onde tais sentimentos e emoções me levará. Não consigo me expressar com palavras, com gestos ou atitudes. Tratando-se de algo ruim, juro que saberia exatamente o que fazer. Ficaria na minha, calada. Mas, se trata de algo bom. Apesar de ser nova nisso, gosto dá ideia de poder andar por esse caminho, parece prazeroso. É surreal!

Por enquanto, tudo o que sei é apenas o que sinto por Colin Miller. Nada além disso.
...

2h da madrugada.

Não consegui pregar os olhos por um instante. Desde que Colin resolveu terminar o que mal começamos, fico pensando no que vai acontecer quando amanhecer. Talvez ele acorde e vá para o trabalho mais cedo do que o normal, só para não ter que assistir minha partida. Pensando bem, é exatamente isso que irá acontecer. Levando em conta o histórico dele em relação a sua família e todo o drama envolvido, Colin é péssimo em encarar uma situação complicada, os cinco anos que se passaram estão aí para provar meu julgamento para lá de coerente.

Ele prefere desistir, fugir.

Tenho medo dele não querer se despedir.

Seria a chance que eu teria para lhe dizer que... Ah, que se dane! Eu consigo ser impulsiva, tenho que conseguir. Preciso parar de pensar demais e começar a agir como uma pessoa que luta pelo que quer. Não sei muito bem o que quero, porém sei que desistir é burrice. Tenho que parar de ser a vilã, preciso ser a heroína da minha própria história. Sem qualquer medo bobo!

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